18 de Maio de 2025 | Quinzenário Regional | Diário Online
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PAULO JÚLIO

A Liderança de Francisco

2 de Maio 2025

Não vou escrever sobre apagões que têm ainda de ser analisados para realmente percebermos em que “mundo energético” andamos, nem sobre eleições legislativas que nos podem trazer mais da mesma instabilidade ou um reforço de confiança e de responsabilidade a ser devidamente tratada por quem as ganhar. Vou escrever sobre o exemplo que o Papa Francisco trouxe para dentro da Igreja Católica e a mensagem grandiosa que espalhou por toda a Humanidade. Hei-de ler a sua autobiografia – Esperança – mas mesmo sem esse testemunho, é importante para a actual Humanidade pensar no que Francisco nos dizia, mas sobretudo no que Francisco fazia.

Argentino, descendente de emigrantes italianos, chegou a Roma e enfrentou, com coragem, o poder instalado do Vaticano que, como todos sabemos, nem é pequeno, nem é de se menosprezar. Não quis saber do poder. Utilizou-o para enfrentar os de dentro e estimular os de fora. Todos, três vezes Todos, foi a expressão que se lhe colou e que significa que para Francisco, uma qualquer organização, muito menos a Igreja que ele presidia, não tem o direito de ostracizar, de tratar com indiferença, de se superiorizar, fossem pessoas com menos posses, tivessem tendências sexuais diferentes do que a Igreja entendia como único normal, fossem divorciados, fossem de outra religião porque para Francisco os Homens devem ser tratados como iguais sob o ponto de vista da espiritualidade. Muito simples. Muito à frente. Muito corajoso.

Fartou-se de incomodar pessoas, mas Ele em vez de pensar muito no que pensavam e diziam dele, porventura rezava por essas pessoas. Ser crente ajudou-o muito porque rezar pelo próximo, mesmo que o próximo nos queira fazer mal, é uma forma de atenuar algum mau sentimento e ser maior, não ser superior. Francisco foi uma lição de vida que faz com que muitos dos nossos problemas sejam demasiado pequenos. Uma lição que deveria fazer os grandes decisores  reflectir melhor sobre o que fazem e o que espalham por consequência das suas acções, mas também nos fazer reflectir das nossas pequenas decisões e acções do dia-a-dia. Talvez se pensarmos como Francisco, os “fardos” da vida fiquem mais leves porque a luz desses bons pensamentos nos retrai ou nos torna mais ponderados. Menos reactivos.

Fica para a história, o modo como recebia toda a gente, mesmo os que ou diziam ou faziam (e fazem) explicitamente o contrário do que ele dizia e fazia. Porque ele fazia e sabia que o seu exemplo era a melhor palavra. Ele era absolutamente contra a falta de dignidade humana, Ele sabia que a condição de cada um, tantas vezes, é provocada pela circunstância da vida, pela falta de força anímica ou outra causa qualquer, mas que essa condição tem também de ser tratada pela sociedade. A sua estratégia mete num bolso qualquer estratégia de qualquer outro Chefe de Estado, porque está baseada na coragem e no exemplo. Não foi papa para ser famoso, nem para usufruir de mordomias, aliás rejeitou-as sempre, nem para ditar ordens desde o seu magnânimo posto, fazendo corar de vergonha muitos dos seus bispos espalhados pelo mundo.

Não sei se transformou a Igreja Católica, mas no mínimo provou que é possível fazer o que muitos diziam ser quase impossível. Não sei se transformou a Humanidade, mas certamente que nos faz pensar sobre o que fazemos e dizemos, nas nossas “pequenas” vidas. Porque ele sabia e dizia que é a partir das pequenas células da nossa família, da nossa rua, da nossa aldeia, vila ou cidade que o mundo se pode transformar em coisa melhor.

O que nos resta é recordá-lo e tê-lo presente na nossa memória. O que resta à estrutura formal da Igreja Católica não sabemos muito bem, mas logo se tornará mais claro, sabendo que a fasquia ficou alta.


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