O edifício que foi sede do Grupo Desportivo Sourense e cine-teatro está, finalmente, nas mãos da Câmara Municipal de Sourense, após anos de um longo processo de transacção que só, “depois de muita insistência”, agora conheceu o seu desfecho. A autarquia conseguiu concretizar a aquisição do imóvel, dando corpo a uma deliberação municipal de Outubro de 2011.
Fechado há anos, a degradar-se, embora numa situação “menos preocupante do que aquilo que era expectável e que aparenta”, assegura o presidente da Câmara, o prédio, localizado no centro da vila, será agora alvo de uma intervenção de reabilitação.
“Numa primeira fase estamos a desmontar as cadeiras do cine-teatro e a fazer a limpeza do espaço para uma avaliação sobre a sua real situação. Ou se repõe com um investimento reduzido para que seja possível pôr o equipamento a funcionar ou fica pronto para o próximo executivo camarário apresentar uma candidatura, pedir financiamento e investir no edifício, devolvendo-o ao seu estatuto”, adianta ao TERRAS DE SICÓ Mário Jorge Nunes, reforçando ainda não haver uma “noção exacta” dos custos de uma intervenção.
O edifício chegou a ser apontado, há poucos anos, para um Centro de Indústrias Criativas, no âmbito de financiamento através do Plano de Acção de Regeneração Urbana do quadro comunitário Portugal 2020, mas não passou da intenção. “Não foi possível, porque por um lado não houve espaço para apresentarmos a candidatura e, por isso, o processo ficou um pouco em banho-maria, mas também porque não o tínhamos na nossa posse”, justifica o autarca.
Desgraçada história triste
Com localização privilegiada e um amplo espaço de mais de 700 metros quadrados, na Rua das Pedreiras, o prédio começou por ser, no longínquo século XVII, um hospício da Ordem Terceira de São Francisco de Soure. Mais tarde, nos finais do século XIX, é cedido à Sociedade Literária Artístico Dramática Sourense e chega a ser gerido por Sourense e Grémio Sourense. As gentes de Soure recordam-lhe um passado sempre ligado às actividades teatrais e musicais.
É já no período democrático que Abril de 1974 trouxe que transita para a posse do Grupo Desportivo Sourense, passando a funcionar como sede do clube. Estávamos no Verão de 1977.
Poucos anos depois, recebe uma qualitativa intervenção profunda e é dotado de condições técnicas para a exibição cinematográfica, dando a Soure um notável espaço cultural.
O Grupo Desportivo Sourense, fundado em 1947, acrescentava, assim, valor patrimonial ao seu rico património histórico.
Porém, como em tudo na vida, também nas colectividades as opções tomadas nem sempre são as mais adequadas à salvaguarda do desejado equilíbrio. E no Grupo Desportivo Sourense tal aconteceu nos últimos anos da primeira década deste século.
“Os corpos sociais da altura não deram sustentabilidade ao património e à actividade que o clube tinha e criaram uma situação de comprometimento do seu património perante terceiros, credores, nomeadamente a banca, e o prédio esteve em hasta pública para ser vendido”, recorda Mário Jorge Nunes.
Documentos consultados pelo TERRAS DE SICÓ mostram que o imóvel foi alvo de uma penhora por parte do Banco Comercial Português (actual Millennium BCP), em Novembro de 2009, para aquele ser ressarcido de uma dívida de 58.943,89 euros.
“É aí que uma nova comissão administrativa toma conta do Sourense e desencadeia um processo muito rápido para salvar a venda das instalações para qualquer especulador imobiliário que o viesse a adquirir ao desbarato numa venda judicial”, lembra o autarca.
O Município de Soure propõe-se então adquirir o prédio, tendo deliberado nesse sentido no final de Outubro de 2011. Valor da transacção: 171.800 euros.
Nessa data, avançam para o clube, como sinal do negócio, 47.000 euros, que permitem cancelar a penhora. É celebrado o contrato-promessa de compra e venda; a autarquia ainda transfere nos anos seguintes mais 11.600 euros, mas a efectivação da aquisição arrasta-se.
“Não houve por parte dos responsáveis pelo Sourense uma determinação em cumprir o contrato-promessa de compra e venda. O que fez com que o prédio ficasse neste adormecimento. O Sourense já tinha embolsado quase 60.000 euros, o prédio continuava do clube e a Câmara não era dona do prédio. Não podíamos continuar a pôr dinheiro no Sourense, o prédio continuar a degradar-se e a não ser do município”, sustenta Mário Jorge Nunes.
Depois de “muita insistência formal e alguma também informal, conseguimos executar o contrato”, tendo a escrita sido formalizada recentemente e pago ao clube o montante restante, no valor de cerca de 112.000 euros.
“É mais um passo importante para a gestão eficiente dos bens públicos, garantindo que o património esteja ao serviço dos cidadãos”, frisa o autarca.
Para o presidente da Câmara, “a utilidade futura pode ser mista, sempre ligada às artes. Não se tornar apenas numa sala de espectáculos, mas colocá-la disponível para os grupos de dança, de teatro, de música, de uma forma não empresarial, mas de uma forma social”, vaticina.
Com vista a expandir o espaço museológico, a Câmara de Soure adquiriu também recentemente um outro imóvel, casa de habitação desabitada, junto ao museu municipal e ao Castelo. “Exercemos o direito de preferência e comprámos o edifício por 35.000 euros, que vamos recuperar para a ampliação do espaço do Museu de Soure e do posto turismo”, adianta o autarca Mário Jorge Nunes.
[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]
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