Nos 16 anos da 1.ª República houve 45 governos, incluindo provisórios, fruto da manifesta divisão do País, o que culminou, em 1926, com a instauração da ditadura, depois do golpe militar de 28 de Maio de 1926. É importante que o formalismo institucional seja sempre respeitado, evitando que os egos sejam mais importantes do que os interesses maiores do País.
Hoje, num sistema democrático com 50 anos, é importante reflectir o momento em que vivemos e o que queremos para o futuro. Os partidos políticos precisam muito de se reinventar, de modo a que não fiquem “sozinhos” a falar em circuito fechado, desde logo, porque são a base de qualquer democracia.
O que se tem passado em várias democracias ocidentais deve forçosamente levar a uma reflexão profunda da sociedade, incluindo todos os actores, desde o simples cidadão, passando pelos órgãos de comunicação social, até cada actor político e respectivos partidos. As percepções, o populismo, o debate pouco claro, o interesse partidário, a ideia que os políticos são todos iguais e que devem ser pessoas imaculadas, desejavelmente com passado intocável, estão a levar o sistema à exaustão. O circuito fechado dos partidos leva tendencialmente a menor liberdade ou a mais dependência, retirando massa crítica e, em última análise, levando a lideranças locais e nacionais mais fracas, o que inevitavelmente prejudica todos. Quanto melhores políticos, mais competentes, mais a sociedade ganhará, independentemente da sua ideologia. A política sem idealismo, sem convicção e sem ambição não nos levará a grande destino e a sociedade ocidental está a sofrer de uma forma geral.
Portanto, este não é um problema nacional, mas poderá agravar-se, nos próximos anos, se nada fizermos. Nos últimos três anos, vamos ter três eleições legislativas, com elevada probabilidade da solução que sair das urnas em Maio, nos levar a novas eleições algures por 2026.
Sem estabilidade fica ainda mais difícil que Portugal cresça e se desenvolva economicamente, como tanto precisa. Julgo, mesmo, que o sistema poderá estar em vias de esgotamento, podendo trazer-nos graves consequências sociais. Precisamos reflectir com coragem e com sensatez. O sistema político precisa ser repensado, incluindo leis eleitorais, os partidos precisam perceber que têm de mudar a sua organização, desde as suas bases. Conforme estamos, afastamos, cada vez mais, os cidadãos da política e isso terá, ou já está a ter, um preço alto no modo como vivemos em sociedade.
Vamos para mais umas eleições que ninguém desejava, mas isso é a consequência do ambiente que os protagonistas criam, fechados em posições intransponíveis. A democracia ainda tem algumas vidas, mas basta sentir o que se vai passando no mundo, para temermos muito a sua degradação. O fim da 1.ª República foi só há 100 anos e nada é indestrutível.
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