Vale a pena, quem puder, ver o filme de realização brasileira, “Ainda Estou Aqui”, que nos leva para o início da década de 70, em plena ditadura no Brasil e nos mostra uma realidade que os que têm menos de 50 anos, felizmente, não tiveram de viver. A liberdade e a democracia não aguentam tudo, já escreveu alguém, algures por aí. Quando a percepção sobre corrupção é grande e, nesse ranking, Portugal ficou mal classificado, quando a competência de quem exerce alguns dos cargos políticos deixa a desejar, quando assistimos a cenas lamentáveis na “Casa da Democracia”, pontualmente transformada em “Circo”, quando as pessoas deixam de confiar no sistema, o caso torna-se bicudo.
E, aqui na nossa Europa construída após a 2.ª Guerra Mundial, baseada na visão de um projecto social, político e económico comuns, o que vamos assistindo é a tendência crescente para os nacionalismos exacerbados devido à falta de políticas públicas eficazes e sensatas. Quando as políticas públicas não resolvem os problemas das pessoas, apesar de orçamentos ampliados, na Saúde, na Educação, na Segurança, na Mobilidade Social, no Emprego e na Economia, quando tudo demora demasiado tempo, num tempo cada vez mais acelerado, tudo fica à mercê da demagogia e das percepções.
Estamos num momento crítico em que muitos já não acreditam que o sistema possa mudar. Os partidos com maior relevância estão gastos, não se diferenciam, concorrem com o populismo e não se conseguem libertar de alguma mediocridade. Ou mudam, o que parece estar a demorar demasiado tempo, ou vão acabar por ser ultrapassados ou, como está a acontecer em vários países, já se tornaram insignificantes.
No terreno nacional, apesar das Autárquicas serem quase quatro meses antes, as Presidenciais ganham terreno mediático e muitas pessoas, em resposta a sondagens, ainda sem saberem o que ele pensa, dizem inclinar-se para o ex-Almirante Gouveia e Melo. Portanto, não por mérito dele, mas por demérito do sistema político que temos, sem desvalorizar as qualidades, o pensamento político e social que possa ter. A causa, realmente, centra-se na percepção que uma boa parte dos portugueses têm do sistema político. De algum modo, manifestam-se com o desejo de ter outro tipo de actores, ainda que simplesmente não os conheçam suficientemente bem. As pessoas estão a deixar de acreditar porque estão cansadas com o ruído que se confunde com a notícia útil.
Por todas estas razões vale a pena, se puderem, principalmente os mais jovens, irem ver o “Ainda Estou Aqui” porque um dia destes pode ser mesmo tarde. A minha convicção é a de que com mais informação, cultura e sensatez, enquanto sociedade, possamos todos perceber como inverter esta tendência assustadora de destruirmos valores que custaram tantos anos e tantas vidas a conquistar.
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