A ‘Casa do Vime’, projecto que visa preservar e dinamizar a tradição da cestaria em Torre de Vale de Todos, no concelho de Ansião, aguarda financiamento para avançar com as obras de remodelação da antiga escola primária da localidade. A Associação Cultural e Recreativa de Torre de Vale de Todos (ACR TVT), responsável pela iniciativa, pretende transformar o edifício cedido pela Junta de Freguesia de Ansião num espaço multifuncional, que alie um espaço museológico a uma oficina onde a arte do vime possa ser ensinada e promovida.
“O projecto está feito, agora estamos a recolher orçamentos para submeter uma candidatura. Vamos tentar obter apoio através da Associação Terras de Sicó, no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR)”, explica Vítor Lopes, presidente da colectividade. O objectivo é “garantir fundos para adaptar o edifício e dar-lhe uma nova vida”, mas o dirigente ressalva que, mesmo sem esse apoio, a ‘Casa do Vime’ é uma iniciativa para avançar: “Se conseguirmos financiamento, óptimo. Se não conseguirmos, teremos de encontrar outra forma, talvez mais simples, mas o projecto não será abandonado”, afirma.
Preservar a tradição
A ‘Casa do Vime’ pretende “homenagear e dar continuidade a uma tradição profundamente enraizada na freguesia”, que viu desaparecer o seu último cesteiro há cerca de um ano. “Durante o período de pandemia, a associação promoveu uma formação de cestaria para garantir que o saber não se perdesse”, revela o responsável, enquanto explica que “foi uma formação de 50 horas, com o formador Fernando Botas, e participaram oito elementos, alguns dos quais já estão a ensinar os outros”, conta.
A associação já dinamiza diversas actividades relacionadas com a cestaria, desde ‘workshops’ com crianças a participações em eventos dentro e fora de território nacional. “Já estivemos na Bolsa de Turismo de Lisboa, em Vigo (Espanha), em Pombal, e em outras feiras de artesanato. Sempre que possível, marcamos presença para divulgar o nosso trabalho”, refere o presidente da ACR TVT.
Apesar da forte concorrência das peças importadas e da produção industrial, a iniciativa foca-se no valor cultural e artesanal da cestaria: “O nosso objectivo não é competir com o mercado, mas sim preservar o saber-fazer tradicional e trabalhar o nosso próprio vime, que é uma característica da terra”, sublinha Vítor Lopes.
Plantação própria
Para assegurar a continuidade do projecto, Vítor Lopes adianta que a associação quer dar um passo importante: “adquirir um terreno para a plantação de vimeiros”. Actualmente, os materiais utilizados são recolhidos em vários pontos do concelho, mas a dispersão dificulta o trabalho. “Andamos a apanhar vime aqui e ali, o que nos faz perder muito tempo. Se tivermos um terreno nosso, podemos organizar melhor a produção e garantir matéria-prima suficiente para os nossos trabalhos”, explica o dirigente.
Além disso, o vimeiro é uma planta de crescimento rápido, o que permitirá que, em poucos anos, a associação tenha uma fonte sustentável de matéria-prima. “Já começámos a plantar alguns arbustos, mas queremos uma área própria para garantir que temos sempre vime de qualidade”, adianta.
A criação da ‘Casa do Vime’ é mais do que um projecto cultural, é também uma forma de revitalizar Torre de Vale de Todos, uma localidade que, como tantas outras no interior do país, tem perdido população. “Queremos que a Casa do Vime seja um ponto de interesse, uma atracção para quem visita o concelho. Que seja um cartão-de-visita da nossa terra”, afirma Vítor Lopes.
Enquanto aguarda a aprovação da candidatura para as obras da escola primária, a associação continua a dinamizar eventos. No próximo mês, organiza um convívio de Carnaval, uma tradição já enraizada. E para Maio, está previsto um ‘workshop’ de cestaria, onde todos, locais e visitantes, têm a oportunidade de aprender e participar nas várias fases do trabalho do vime.
“Queremos envolver toda a gente. É uma forma de preservar a nossa tradição, mas também de unir a comunidade”, conclui o líder da ACRTVT.
ANA LAURA DUARTE
[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]
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