A democracia madura vive do contraditório e das diferentes perspectivas políticas, económicas e sociais, independentemente do tabuleiro ser local, regional ou nacional. A vigilância e a crítica são variáveis essenciais ao seu bom funcionamento. Os valores e os princípios éticos deverão ser sempre a base de qualquer discussão ou diferença. A mentira e a opacidade, muitas vezes coberta de retórica, assim como a impreparação não deveriam nunca fazer parte desta realidade. Diz-se que os actores políticos estão, cada vez mais, “plastificados”, ou seja são menos genuínos e acomodam-se demasiadas vezes porque a capacidade de gerir e de arriscar estão menos presentes. A política sem ética e mascarada de bonomia jamais nos levará a algum lado que seja desejável.

O desenvolvimento social e económico dos territórios será certamente menor quanto mais a “politiquice” se sobrepõe à política. A capacidade de assumir posições e responsabilidades, a competência de gerir equipas multidisciplinares, o planeamento de acções, o envolvimento de todos os cidadãos e demais actores sociais, culturais, políticos e económicos são os ingredientes para existirem bons resultados. Não havendo, fica o vazio que, na maioria dos casos, se tenta tapar com propaganda diversa, nomeadamente, nos últimos anos, nas redes sociais. Daqui à “plastificação” é um pequeno passo.

No meu ponto de vista, a educação e a cultura são as ferramentas para atenuar este problema que tem assolado as democracias ocidentais. Com mais dependência da política, numa sociedade competitiva e exigente, os actores são mais fracos ou, dito de outra forma, as lideranças tornam-se mais débeis. A capacidade de estimular e motivar decrescem. Todos perdem.

No último texto de 2024, na passagem do 50.º aniversário da democracia portuguesa, fica esta reflexão simples para cada um dos nossos leitores, desejando-lhes um Feliz Natal e um ano de 2025, pelo menos, com saúde. O resto, reflectindo bem, acabará por nos sorrir.