Sobre o salário dos políticos e o descongelamento de um corte que foi feito ainda em 2010, quando o País já enfrentava a crise das dívidas soberanas e o Estado pagava uma taxa de juros demasiado elevada, houve, como o Povo diz, uma enorme “sarrafusca” na Assembleia da República provocada pelo Chega. Antes de mais nada, enquanto existirem titulares de cargos políticos que não respeitam as instituições, a democracia sai prejudicada. Existe neste assunto dos salários dos políticos, um problema que deveria ser discutido abertamente e sem preconceitos, na sociedade portuguesa, de modo a termos nos fóruns de discussão todos os argumentos a favor e contra. Mas antes disso, sobre a reposição deste corte de 5%, percebeu-se que se trata de um assunto propenso a posições demagógicas que enviesam o debate e a opinião pública. O Chega resolveu “enfeitar” as janelas do Parlamento Português num momento “de circo” que em nada engradece a política portuguesa e, pior que isso, deixa péssimos exemplos aos mais jovens cujo afastamento se torna evidente e dramático para o futuro. O assunto central é a nossa exigência para termos altos quadros do Estado e representantes políticos com competência e qualidade. Colocando o assunto de outro modo, quem de nós, racionalmente, não quer que os melhores da sociedade estejam nesses lugares de decisão que têm uma importância crítica para o futuro do País (?). Feita esta questão, em democracia e com bom senso, dever-se-ão debater as várias opiniões e modelar soluções que, porventura, terão várias dimensões políticas, para além dos salários, como seja, por exemplo, o modo como os Partidos se organizam. De uma forma simplista, não há democracia saudável sem partidos políticos estruturados e para que isso aconteça, os cidadãos devem sentir que há abertura e convicção para atrair os melhores da sociedade. Ora, isto não está a acontecer há muitos anos e a consequência vai estando aí à nossa frente, a cada dia, nos mais variados sectores da vida pública nacional e local. O “mau” resultado vai-se instalando na sociedade, devagarinho, quase sem darmos conta, até que um dia seja tarde demais para reverter a situação.
Sobre o Penela Presépio, os Penelenses só podem sentir-se desiludidos por tudo o que se está a passar. Penela teve a capacidade de criar um evento a partir de um factor diferenciador que tem a ver com a sua morfologia – uma vila com um casario branco, disposto numa colina encimada por um Castelo Medieval e com um contorno formado pela paisagem da Serra da Lousã, que culmina numa imagem que muito poucos concelhos de Portugal possuem. Claro que há outras vilas ou aldeias lindíssimas, mas Penela soube aproveitar, aliás como aproveitou Óbidos, esta usufruindo muito da proximidade a Lisboa. Com o esforço e a criatividade de muitas pessoas, o Penela Presépio ergueu-se e, dentro do Castelo, ano após ano, o Presépio tradicional animado com centenas de figuras com movimento transformou-se num espaço de passagem quase obrigatório que levou Penela a todos os cantos de Portugal. Penela era a porta de entrada para outros presépios em cada uma das freguesias, as pessoas eram estimuladas a criar presépios, organizavam-se concursos em que muitos cidadãos participavam, à volta de uma identidade que todos se orgulhavam de “fazer parte”. Defendi sempre que mais núcleos à volta do “Presépio Tradicional” deveriam ser instalados em Penela, aproveitando cantos como a igreja da misericórdia, a praça da república, a rua de Coimbra, entre outros espaços que “obrigariam” a que as pessoas usufruíssem mais e o comércio local ganhasse mais. Penela, nesse conceito, era a porta de entrada para um Concelho “maior” e poderia ser local de visita de dois ou três dias de muitos turistas, que aproveitariam para visitar o Presépio do Espinhal, a Pedra da Ferida, a Louçainha, ver veados na Serra da Lousã através do Centro dos ungulados instalado na Casa do Guarda, visitar as ruínas romanas da Villa do Rabaçal e o Museu, comtemplar o vale do Rabaçal a partir do Castelo do Germanelo, fazer provas de vinhos na Vinisicó cujo edifício tinha sido restaurado, ou nalguma das adegas de Podentes, Alfafar ou Penela. E assim continuar o périplo, visitando a Serra do Espinhal, a Ferraria de São João e, porque não, experimentar fazer uma broa na Cumieira. Este era a “sonho” que, infelizmente, se perdeu, por falta de visão de quem decide. O Penela Presépio de 2024 não vai ter nenhum presépio tradicional, não fora a diligência da Junta de Freguesia do Espinhal, tornando-se numa espécie de um “filme animado” pago a peso de ouro (segundo o Presidente da Câmara cerca de 200.000 €), dentro do pavilhão gimnodesportivo. São decisões políticas que temos de respeitar, mas não concordamos. Em 2025, serão todos os Penelenses quem decidirão qual formato e qual o local do Penela Presépio porque, sem nenhuma dúvida, há quem tenha uma visão completamente diferente. Concluindo, é por isso é que a democracia é tão importante. Para criar alternativas e proporcionar escolhas às pessoas que, afinal, são quem têm a decisão final.