13 de Dezembro de 2024 | Quinzenário Regional | Diário Online
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LILIANA M. PIMENTEL/RICARDO C. JOAQUIM

Região de Sicó: destino para a população estrangeira?

8 de Novembro 2024

A migração tem sido um tema de debate à escala mundial, reflectindo as complexas dinâmicas socioeconómicas e políticas dos dias de hoje. Há 50 anos Portugal era um país de emigração que tinha alguns imigrantes. Portugal é hoje um país de migrações (Góis, 2020), que recebe mais pessoas do que aquelas que emigram. A recente presença do Primeiro-Ministro de Portugal em Bruxelas, durante a discussão sobre gestão migratória no Conselho Europeu, destaca a importância urgente e global do tema.

A população residente em Portugal incluía mais de 1 milhão de imigrantes em 2023, tendo vindo a registar uma trajectória de crescimento nos últimos anos. Este pequeno artigo pretende explorar se os seis concelhos de Sicó têm vindo a assumir-se como destino da população imigrante. Para tal, consideram-se os dados disponíveis no site PORDATA relativamente à população estrangeira com título de residente, ou seja, um conjunto de pessoas de nacionalidade não portuguesa com autorização ou cartão de residência, em conformidade com a legislação de estrangeiros em vigor.

Segundo os dados mais recentes, em 2022, a população estrangeira com título de residente nos concelhos de Sicó atingiu as 4.291 pessoas, confrontando com as 2.539, em 2012. Em 2022, regista-se uma maior presença de imigrantes residentes em Sicó do género masculino (53%) quando comparado com o género feminino (47%). Em 2022, a população estrangeira em relação à população total de cada concelho era de 8,2% em Penela, 8,1% em Alvaiázere, 4,2% em Pombal, 3,8% em Ansião, 2,4% em Condeixa e 1,9% em Soure. Se comparados estes valores com os registados há uma década (ano 2012), a proporção de população estrangeira residente aumentou significativamente nos concelhos de Sicó: em Condeixa, Soure e Pombal quase duplicou (1,7%, 1,2% e 2,7% em 2012, respectivamente), em Ansião mais que duplicou (1,7% em 2012). O crescimento mais acentuado é observado em Alvaiázere, onde a população estrangeira quase quadruplicou (2,2% em 2012) e em Penela, onde a população estrangeira residente no concelho quase que triplicou (3,0% em 2012), sugerindo que estes concelhos se tornaram particularmente atractivos para os estrangeiros ao longo da última década.

Quando considerada a naturalidade dos imigrantes, verifica-se que, em 2022, os imigrantes naturais do Reino Unido são os que residem em maior número em Alvaiázere, Ansião e Penela. Já em Condeixa, Soure e Pombal a população estrangeira com título de residência provém em maior número do Brasil. De forma geral, observa-se que, em 2022, os imigrantes com título de residente na Região de Sicó eram maioritariamente de países europeus (em média 58%), com excepção de Condeixa e Pombal, onde o continente americano é a naturalidade mais expressiva. Importa salientar, que face à última década se registou um acréscimo significativo (em média, +10%) da presença de imigrantes americanos em todos os concelhos de Sicó, para o qual contribuiu o aumento mais expressivo de população oriunda do Brasil. Nos últimos dez anos, a percentagem de população natural de países europeus e africanos diminuiu em todos os concelhos de Sicó. À exceção de Soure, Penela e Pombal, os imigrantes asiáticos com título de residência também registaram uma diminuição no território de Sicó. Estes são alguns dados que sugerem uma mudança do perfil migratório dos concelhos de Sicó, ao longo da última década.

De acordo com a Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA), a família é o motivo apontado mais vezes pelos imigrantes para virem para Portugal. Seguem-se motivos profissionais e a violação de Direitos Humanos no país de origem. Os imigrantes têm assumido um contributo para a economia portuguesa, por exemplo: nos primeiros oito meses de 2024, a comunidade imigrante pagou contribuições de mais de 2 mil milhões de euros, um novo máximo histórico, superior em 5 vezes ao recebido em prestações sociais. Para além disso, têm-se assumido como uma importante força de trabalho na agricultura, restauração e comércio, mostrando a investigação académica que a sua inclusão é capaz de gerar um impacto positivo na produtividade das pequenas empresas portuguesas (por exemplo, Ghasemi et al., 2024), enquanto ajudam a assegurar uma renovação da população.

Num momento em que se debate a temática, os dados expostos no artigo permitem ter uma noção desta realidade em Sicó, muitas vezes despercebida no dia-a-dia. A integração bem-sucedida dos imigrantes é essencial para a coesão social, a prosperidade do país, região e para uma economia dinâmica que funcione para todos.

Liliana Marques Pimentel – Professora universitária na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Residente em Anobra (Condeixa)

Ricardo de Carvalho Joaquim – Assistente Convidado na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Residente em Alvaiázere.


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