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NATÉRCIA MARTINS

Água-de-colónia

22 de Novembro 2024

A água-de-colónia serve para dar às pessoas um cheirinho mais leve e refrescante ao corpo. Segundo li, deve o seu nome à cidade de Colónia na Alemanha. A água-de-colónia deve ser usada logo depois do banho.

Podemos cheirar bem o dia todo? Podemos. Podemos eliminar o cheiro a suor e trazer na malinha de mão um frasquinho de desodorizante ou de água-de-colónia. Também podemos.

Pois bem! Tomar banho e mudar de roupa, coisas dos tempos de agora que damos atenção à higiene. Mas nem sempre foi assim.

Se recuarmos até à Idade Média, o banho era considerado um acto imoral e associado a práticas pecaminosas. É por isso que a falta de banho a classe alta, e não só, recorriam ao uso excessivo de perfumes com odores muito fortes. Mais ainda, a higiene oral simplesmente não existia. Sabiam lá o que isso era. Cheira mal? Nem desconfiavam como se usava a escova de dentes, desodorizantes ou papel higiénico. Punham perfume.

Antes da Idade Média, os romanos e gregos banhavam-se em locais públicos. Só os homens. As mulheres não se misturavam com eles. Mais tarde instalou-se o Cristianismo e os padres e médicos espalharam a crença que a água quente enfraquecia os músculos e gerava doenças. Se eles diziam isto, então era verdade.

Os médicos proibiam o banho às crianças pois era propenso a matar. Morria-se com infecções. Também não havia saneamento nem sequer água corrente. Os animais coabitavam com as pessoas. Havia pulgas e piolhos. As mulheres lá iam lavando as mãos porque não havendo talheres era mais fácil e prático a “ferramenta” mais perto. Comia-se tudo com as mãos.

Como curiosidade li que a Rainha de Castilha, no século XV, vangloriava-se que tinha tomado banho duas vezes em toda a sua vida.

Também não havia esgotos. A água era atirada pela janela. Daí o que ainda hoje se diz “água vai”. Quem passava na rua estava sujeito a levar um banho forçado.

E as igrejas? Essas seria um cheiro nauseabundo. Daí a queima do incenso.

Os jardins do Palácio de Versalhes eram, também, usados como vaso sanitário. Como não existiam banheiros e as pessoas não se “aliviavam” de noite inventaram o penico debaixo da cama que depois era despejado em qualquer lado.

A roupa de cama também não era trocada com frequência. Daí se usar o perfume. O banho era coisa de somenos importância. Os nobres usavam peruca empoada que escondia as lêndeas. Mais tarde surge o pó de arroz que escondia as imperfeições do rosto. No século passado havia ainda muito poucas terras com saneamento ou água corrente. Havia casas onde este luxo era considerado mesmo luxo. O exemplo do meu avô materno, que morava às portas de Coimbra e que nunca deixou que lhe instalassem luz eléctrica em casa. Tinha medo do fogo. Para fazer as necessidades básicas e fisiológicas tinha ao fundo da quinta uma pequena barraca de madeira com mato por baixo de um buraco feito na tábua que servia de assento.

O banho era só e apenas ao sábado. Uma bacia de lata e água morna. Primeiro as crianças, depois o pai e finalmente a mãe. Tudo na mesma água. Penso que no interior do país, em aldeias remotas, ainda se utiliza esta prática. No interior, bem lá no interior, há aldeias muito atrasadas em relação à higiene e não só.

Por estas e outras razões é que inventaram o perfume, depois a água-de-colónia mais suave. Os hábitos mudaram muito. Hoje toma-se banho todos os dias.

Passou de um cheirete a cheirinho. A água-de-colónia é muito antiga. Foi-se aperfeiçoando ao longo do tempo. Hoje há água-de-colónia para homem, mulher, antes de barbear e depois de barbear. A mulher tornou-se igual ao homem nos tempos modernos e também tem as suas águas específicas, leves, suaves e deliciosas.

Nota: Este texto teve como base a pesquisa que fiz em livros e escritos antigos que fui guardando. Achei interessante como viviam os nossos antepassados. Se pensam que muito do que aqui se diz foi há muito tempo, se calhar não. Quem viveu na aldeia, principalmente no interior do país, sabe que estas práticas não são assim tão antigas.


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