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ENTREVISTA | João Guerreiro: Rede de Aldeias de Calcário pode trazer “valorização incrível”

4 de Agosto 2024

João Paulo Guerreiro assumiu, recentemente, a presidência da Terras de Sicó cumprindo o sistema rotativo de liderança em prática naquela associação de desenvolvimento, que agrega os seis municípios da região. Em entrevista ao TERRAS DE SICÓ, o também autarca de Alvaiázere aborda os projectos em curso e as suas pretensões para o mandato que vai terminar em 2026.

 

TERRAS DE SICÓ (TS) – Qual é o papel que desempenha hoje a Terras de Sicó no contexto dos seis municípios?

JOÃO PAULO GUERREIRO (JPG) – Acho que a Terras de Sicó – Associação de Desenvolvimento desempenha um papel fulcral e fundamental neste território. Em grande parte pelo histórico, pelo que já conseguiu ser feito ao longo destes mais 30 anos de inter-regionalíssimo entre estes seis municípios, entre coisas bem feitas e coisas mal feitas, com certeza de ambas, mas uma coisa é incontestável, conseguiu criar-se aqui um sentimento de união regional que confere a estes seis municípios uma identidade comum, ao ponto de termos até um órgão de comunicação regional com a designação Terras de Sicó. Isso não seria possível se não houvesse esta identidade que foi criada ao longo destes mais 30 anos. E com isso tem uma responsabilidade acrescida, ao longo deste tempo foram vários os desafios que se puseram a esta associação.

TS – E quais os desafios que enfrenta agora?

JPG – Do meu ponto de vista, os desafios que enfrenta têm a ver com aquilo que tem sido o entendimento do governo central, em termos de descentralização, de regionalização. Nós agora temos comunidades intermunicipais que neste território nos dividem em três concelhos da Região de Leiria e outros três concelhos da Região de Coimbra e com as competências que são atribuídas aos municípios e às comunidades intermunicipais que acabaram por deixar os GAL [Gabinetes de Acção Local] num limbo que pensamos já estar ultrapassado, mas temos sempre esta nuvem, esta sombra por cima, de perceber até quando é que o governo central reconhecerá a importância deste tipo de associações, que já têm histórico, mas que no fundo administrativamente não coincidem muito bem com aquilo que é, ou que tem sido, a visão dos governos para o processo de “regionalização” e de descentralização de competências.

TS – Falamos de projectos mais concretos. Herda um pacote de três milhões de euros para comparticipar projectos no mundo rural, no âmbito da Estratégia de Desenvolvimento Local de Base Comunitária. De que forma é que pode ser feita essa gestão e como é pode ter influência no desenvolvimento do território?

JPG – Nós, no quadro comunitário anterior, tivemos um valor mais ou menos idêntico e a Terras de Sicó conseguiu implantar no território investimentos que rondam os oito milhões de euros. Ou seja, mais do que duplicou aquilo que foi o investimento público. Nós temos esta expectativa também no próximo quadro de que com estes três milhões de euros consigamos aumentar a capacidade de alavancagem nos pequenos investimentos, muito importantes para o nosso território. Somos um território essencialmente rural, tirando algumas freguesias de Pombal, Soure e Condeixa, que precisa deste tipo de investimento como forma de coesão, para fixar emprego, fixar pessoas, que é no fundo aquilo que todos pretendemos. Não é a tábua de salvação destes territórios, mas é uma bolsa de oxigénio muito importante para que as pessoas se fixem, para que as pessoas arrisquem ficar nestes territórios. E essa é uma, do meu ponto de vista, das funções da Associação de Desenvolvimento Terras de Sicó, que tem sido bem feita e que pretendemos e queremos continuar a fazer bem. Esperemos que estes três milhões de euros se multipliquem também em oito, nove ou 10 milhões de euros nos próximos anos.

TS – Neste mandato que agora está a iniciar apanha em curso alguns projectos, como da Rede de Aldeias de Calcário (RAC). Como é que se vai desenvolver nos próximos anos?

JPG – Neste momento temos três projectos importantes numa unidade de acção dentro da associação que chamamos de Laboratório Regional de Sicó, LabSicó. Um deles é a dimensão da paisagem protegida, a outra é a classificação da arte dos muros de pedra seca como património natural e material da Unesco, e a RAC, que do meu ponto de vista pessoal é o que nos pode dar uma diferenciação regional muito grande. Já no mandato anterior se deu o pontapé-de-saída com seis aldeias, uma em cada concelho. Nós, neste mandato, decidimos alargar o projecto para mais duas em cada concelho. Temos referenciadas 18 aldeias. Há aqui um caminho longo a fazer, mas acho que desenvolvendo esta rede percorrendo um caminho idêntico ao da ADXTUR, nas Aldeias do Xisto, conseguimos trazer para este território muito investimento, muita dinâmica e uma valorização incrível, não só das aldeias que vão sendo intervencionadas, mas todo o território em conjunto.

TS – O projecto da Área de Paisagem Protegida conheceu avanços e recuos. O que se propõe fazer? Acredita que vai mesmo avançar ou algumas ‘pedras’ que foram surgindo no caminho podem travar o processo?

JPG – Acredito que vai avançar e acredito na importância do projecto. É verdade que ele terá começado, se calhar, de uma forma, não diria precipitada, mas com uma ânsia muito grande, depois houve alguns contratempos e repensou-se o início do projecto. Está em cima da mesa e acredito que vai avançar. Estabelecemos uma parceria mais forte com o ICNF, que não existiu na fase inicial, e agora é preciso muita conversa, muita negociação, muito equilíbrio, para conseguirmos quer uma área, quer um regulamento que sejam, em primeiro lugar, vantajosos e potenciadores do território e, em segundo lugar, que sejam consensuais com o que são as estratégias de desenvolvimento dos seis concelhos abrangidos por esta paisagem protegida.

TS – A classificação da arte dos muros de pedra seca é, provavelmente, o caminho mais duro a trilhar…

JPG – Estou muito confiante que consigamos chegar ao nosso objectivo principal, que é a classificação desta arte, que tão característica é do nosso território. Isto é um trabalho também muito técnico, muito académico, com uma parceria que temos com a academia e que anda a um ritmo não tão acelerado como gostaríamos, mas que está a andar. Estamos a dar passos pequenos, mas consistentes. Nós vemos outras situações em que se procurou andar mais rápido e não se conseguiu. Também com isso vamos aprendendo e vamos fazendo o nosso caminho. Gostaria de ainda neste mandato ter o processo concluído.

TS – E o que é que gostava mais de ter concluído até 2026?

JPG – O que gostava é que quando chegar o fim do mandato ter a consciência de que não defraudei aquelas que eram as expectativas depositadas e aquilo que, como antes referi, é o histórico de uma associação como a Terras de Sicó. Além dos projectos que já abordamos, gostava que a associação fosse um bocadinho mais aberta à sociedade civil. Será culpa nossa. Tentámos mas ainda não conseguimos, quer ao nível das actividades, quer na nossa própria comunicação. É uma associação constituída essencialmente por autarcas que dedicam parte do seu tempo a ela, mas cujo foco principal é sempre as autarquias e os seus concelhos. Gostaria de criar algumas ferramentas, e vamos tentar fazê-lo, para conseguir mais contributos da sociedade civil e de todos os agentes deste território, também para poderem ajudar a Terras de Sicó a crescer e a seguir por um caminho que potencie o território.

TS – Falou há pouco que a Terras de Sicó é gerida por autarcas. Por exemplo, depois das últimas eleições autárquicas, surgiram três novos presidentes de Câmara; em 2025, dois serão seguramente novos devido à limitação de mandatos. O terem de ir agregando e consertando novas posições com quem chega trava a dinâmica que a associação precisa?

JPG – Essa é uma boa questão. Não diria que, só por si, essa mudança trave o desenvolvimento. Pode, em alguns casos, como o da paisagem protegida, portanto, em alguns projectos pontuais, criar alguns constrangimentos, mas, por outro lado, também traz ideias novas, vontade de fazer coisas diferentes. São as vicissitudes da democracia.

TS – Vai entrar no último ano de mandato como presidente de Câmara, que é sempre muito exigente. Com que espírito encara esta nova missão de também dirigir a Terras de Sicó durante os próximos dois anos?

JPG – É com uma honra enorme, mas também com um sentido de responsabilidade muito grande. Temos muitas coisas em mãos, tenho também a pretensão de fazer mais algumas coisas novas. É certo que estamos no último ano de mandato, que é sempre um ano de mais trabalho, porque temos a vontade e a ânsia de terminar aqueles projectos que estão em curso, mas estamos cá para isso e com mais dedicação, com um bocadinho mais de esforço de todos e, essencialmente, da minha parte, que assumi esta responsabilidade, acho que vamos conseguir na Terras de Sicó percorrer um excelente caminho.

LUÍS CARLOS MELO

[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]


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