O General Charles de Gaulle deve estar a dar uma volta no túmulo. As eleições nacionais em França estão à beira de colocar a extrema-direita nacionalista no poder. Num dos países mais influentes da Europa, Macron, o ainda Presidente francês resolveu demitir-se por causa do fracasso eleitoral das eleições europeias, no passado dia 9 de Junho, “inventando” uma razão que os próprios franceses tiveram dificuldade em digerir. Lá, apesar de tudo, as eleições não demoraram vários meses para se concretizarem. Em menos de três semanas, os franceses foram chamados a votar para resolver o impasse político e estão na iminência de escolher Le Pen e companhia.
A Europa que enfrenta uma guerra na Ucrânia, apesar dos resultados gerais das eleições europeias continuarem a dar uma maioria parlamentar ao Partido Socialista Europeu e ao Partido Popular Europeu, está perante esta nova realidade política no coração do seu território. Do outro lado do Atlântico, Biden e Trump confrontaram-se num debate em que as calúnias e as mentiras foram dominantes. Os americanos vão ter de escolher entre uma pessoa manifestamente desequilibrada e egocêntrica, e outra cuja idade lhe retira energia e clarividência, deixando o país mais poderoso do mundo exposto, com todos os riscos que isso acarreta para a geopolítica global.
É caso para perguntar “o que é que se está a passar e para onde caminha o mundo?” Haverá várias teorias, desde logo as que assentam no desagrado e na desilusão que os cidadãos vão desenvolvendo com os políticos e a política. O problema é que a mediocridade atrai mais mediocridade e, simultaneamente, tende a afastar os mais competentes. Não é de agora, mas a aceleração da vida, o advento das redes sociais, a informação “empacotada” e os políticos de plástico estão a agravar este estado social e político, desde a base local. É da democracia que falamos. Quando não há diálogo e canais de participação cívica confiáveis, quando “parece” que esse “mundo da política” é só de uma bolha, quando quem é líder de opinião nacional tem de viver nas cidades capitais, quando há enormes fatias de território que são “pensados” e lembrados em dias de festa, é muito fácil que os extremos surjam.
Eu acredito que este problema global se tem de resolver com a base local. Aí está o princípio de tudo. A degradação da base local, com líderes locais com pouco conhecimento, com pouca cultura democrática, com competências insuficientes, leva, mais tarde ou mais cedo, à degradação dos sistemas nacionais. Sem querermos, estamos a construir a degradação do sistema, seja por ausência, por comodismo ou, simplesmente, por pensarmos que não é nem prioritário, nem importante. É crítico que haja uma reflexão profunda sobre este problema. De forma directa e indirecta, está a influenciar a nossa vida e, em Portugal, ainda só estamos a meio caminho. Os melhores e mais preparados têm de deixar de fazer só o discurso “correcto” e analítico, como se a sociedade estivesse à margem das suas vidas pessoais e profissionais.
É esse inconformismo e coragem que os Estados precisam e o Estado, começa em cada vila e em cada cidade, em cada associação e em cada organização cívica. A política é evidentemente uma actividade cívica e social, desde que exercida com nobreza e baseada em ideais, sem lógicas sacrificiais, como se se tratasse de um lugar que ninguém deseja pisar. Vamos ver o que se passará em França, o país da liberdade, da igualdade e da fraternidade.
Site optimizado para as versões do Internet Explorer iguais ou superiores a 9, Google Chrome e Firefox
Powered by DIGITAL RM