10 de Setembro de 2024 | Quinzenário Regional | Diário Online
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PAULO JÚLIO

Uma esperança!

3 de Maio 2024

Sinto uma esperança. Sinto que os 50 anos de passagem do 25 de Abril possam servir para algo mais do que uns discursos e umas festas. Por outro lado, sinto que alguns que são contra os extremismos, também sejam intolerantes a ouvir a razão dos outros que, tal como eles, não são extremistas. É complexo. Ouço imensa gente a falar (e bem) contra as posições populistas e extremistas, que não conseguem evitar o discurso político da esquerda versus direita. Existem realmente conceitos de sociedade distintos. Uns que pensam que o Estado deve ser solução para tudo, até para a economia, direccionando-a, controlando-a de forma directa, e outros que pensam o Estado como actor de políticas públicas bem definidas, responsável pela regulação efectiva, deixando a iniciativa das pessoas e das empresas, ser o motor de criação de riqueza.

A distribuição de riqueza existirá se antes tiver sido criada. Esse é o princípio do Estado Social, da Social Democracia e da base da construção da União Europeia. Quando ouço autarcas a falar de esquerda/direita a propósito de políticas de desenvolvimento local, arrepio-me e percebo as fragilidades. As políticas locais são as de “puro” serviço público e quando se trata de eixos de desenvolvimento, de valorização do território e de valorização das pessoas, na célula municipal, não deve haver essa dicotomia. E quando penso nas fragilidades, penso na participação cívica, no afastamento dos cidadãos da vida comunitária e social.

Com o advento das redes sociais, muitas pessoas gastam demasiado tempo atrás do ecrã do seu telefone, por vezes, consumindo energia e tempo, a comentar de forma racional, outras tantas de forma ignóbil, sem se preocuparem com o próximo. Porque é fácil. Porque não é preciso aprofundar muito o assunto, tornando aquele espaço, uma espécie de bancada de um jogo de futebol, onde é permitido dizer impropérios e chamar nomes feios a quem está do “outro lado da barricada”.

Esta estupidificação da vida pública tem tido maus resultados e que, inevitavelmente, prejudicarão todos, sem excepção. A degradação, por definição, é a atracção pela mediocridade que, por consequência, tem dificuldade em atrair talento. Com isto, degrada-se a mensagem que tende para ficar, cada vez mais, básica.

Tudo começa na base local. As supostas elites nacionais podem rir-se, mas inevitavelmente sofrem com isso também. A política confunde-se com “politiqueira” e é contra isso que todos devemos lutar, após 50 anos de democracia. Deveremos lutar pela substância e pela competência, deveremos incomodar-nos porque o caminho está vertiginosamente perigoso.

Por estas razões é que os ciclos políticos estão mais curtos e tudo é mais volátil. As mesmas pessoas que se afastam penalizam mais depressa, transformando o sistema, tornando-o mais medíocre e exigente, o que é paradoxal.

A solução, voltando ao início, só existirá na credibilidade e na tolerância da mensagem, com muito mais participação dos cidadãos, tal como se fosse há 20, 30 ou 40 anos atrás. É isso ou sofreremos todos. Mas tenho esperança.


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