Não pertenciam todos ao mesmo grupo. Havia uns, outros e ainda os outros.
Havia aqueles que iam às laranjas e dióspiros que voavam para dentro das janelas abertas desfazendo-se no chão com um “pac” que dava um gozo que ninguém adivinha.
Era maluqueira, eu sei, mas quando as donas das casas ralhavam ou nos corriam à pedra era giro. Naquele tempo, eramos todos novos.
Fugiam, mas no dia seguinte lá iam os dióspiros ou laranjas, bem maduras a voar pelas janelas. Era todos os dias a mesma coisa até se acabarem. Tínhamos que arranjar outra brincadeira tão maluca como esta.
Um grupo destes malandros descobriu uma quinta com melões e melancias a crescer e vai daí com um objecto pontiagudo escreveram na casca dos ditos melões e melancias, todos os palavrões que sabiam ou inventaram, na altura. Não se lembraram que com o tempo tudo o que escreveram crescia com a casaca. Portanto o que escreveram lia-se perfeitamente.
Na aldeia não havia luz eléctrica. Na quaresma, as mulheres levavam um banquinho de casa. Os sermões nesse tempo eram muito grandes e as pernas cansadas de muito trabalho.
Havia quem estivesse estrategicamente atrás. Quando elas se levantavam e com a ponta do pé, um desses malandros, arrastava o banquinho. Elas confiantes sentavam-se… no chão. Trambolhão e risota.
Numa dessas quaresmas um frade foi convocado para o sermão. Como foi antes da hora, entreteve-se a ler o breviário. O breviário tinha todos os textos para um sermão que seria bem “inflamado” a fim de converter as almas. Vestido com o hábito que tinha um capuz. Estava mesmo a pedi-las. Mais uma vez um desses malandros lembrou-se de levar uma ampola, sabe deus como a arranjou, com ácido hialurónico, que cheira muito mal.
Claro que a bolinha de algodão, ensopada nesse ácido, foi “viajar” para dentro do capuz. Este frade andava a ler na cochia da igreja. Cochia acima, cochia abaixo com o mau cheiro. Pensava que alguém se tinha “descuidado”. Mal sabia que era ele que transportava esse mau cheiro. Veio a saber mais tarde com muito espanto seu.
Então esses bons malandros angariaram dinheiro para comprar um hábito novo. Aí o frade ficou a ganhar. Ganhou um hábito novo com capuz também.
Uns anos mais tarde, mais uma vez os bons malandros, levaram o carro do professor, em peso, para um lugar de onde não saía nem para a frente nem para trás. Então o professor, não encontrou o carro onde o tinha estacionado, desatou aos gritos: “O meu Skoda?!! Roubaram o meu Skoda!”. Como saiu de lá não sei. Só sei que os malandros se riram a bom rir.
Já que falo em professores. Antigamente os professores fumavam nas aulas. Todas as salas tinham um cinzeiro na secretária. Um dia lembraram-se de colocar, no cinzeiro, colocado ao contrário, uma lagartixa. Ela aflita naquela prisão, portanto, o cinzeiro movia-se.
O professor de matemática era bem gordinho. As carteiras tinham uma tábua a suportar o banco da secretária.
Todas em fileira. O professor andava entre as carteiras a vigiar ou explicar matéria. Um dia um dos alunos lembrou-se de colocar o pé de forma a fazer rasteira ao dito professor. Este não disse nada, mas calcou o pé do aluno em peso, que suportou perto de cento e vinte quilos. Há, ainda, a história do meu irmão que lá pelos seus 7 ou 8 anos, queria voar. Lembrou-se, então, de atar um saco de cimento vazio, que andava por ali, ao pescoço e voou da janela do primeiro andar. Por sorte a casa estava em obras e havia um monte de areia. Foi ali que aterrou.
As namoradas! Havia uma rua, lá atrás do colégio que era onde se encontravam. Rua essa, testemunha de muitos beijos e apalpões. A rua ainda lá está, mas os malandros já não. Envelheceram. A velhice não perdoa.
Esta traz à memória os velhos tempos e as malandrices que se faziam.
O meu pai, também professor lá no colégio, não gostava de carros novos. Aliás sempre teve carros velhos. Teve um com a matrícula começada por AC. Então chamavam-no de Antes de Cristo. Ele não se importava. Como o carro era velho havia dias que só “pegava” de empurrão. Os mais malandros dessa época empurravam até ao cimo da ladeira junto ao Clube e depois vinham empoleirados onde se podiam agarrar. Se o motor não funcionasse repetiam o dito empurrão. O pior de tudo era quando eu também vinha lá dentro. Não achava muita graça.
Os bons malandros não eram assim tão malandros. As malandrices inocentes tão inocentes como quem as fazia.
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