Para que se tenha uma ideia de como as coisas se passavam durante o período do Estado Novo, em especial com os oposicionistas conhecidos, como era o caso do médico de Ílhavo, Mário Sacramento, quando, em 1963 e 1964, os presos políticos de Peniche decidiram fazer um levantamento de rancho, alguns grupos e individualidades se mobilizaram escrevendo representações a Salazar, manifestando o seu apoio aos presos. Mário Sacramento foi um deles. Segundo contou no seu livro, Diário, escreveu uma carta onde solicitava que fossem tomadas providências que obstassem ao agravamento de tão dramática situação, carta essa que não podia ser mais correcta, como referiu o seu autor. Pois, valeu-lhe seis meses de prisão.
Por isso mesmo, quando algum tempo depois surgiu a campanha Pró-Amnistia, onde se pedia uma amnistia geral para os presos políticos, Mário Sacramento sabia que não era nada fácil conseguir assinaturas para o documento. Mas o médico obteve uns milhares de assinaturas a favor da amnistia. Como é que ele conseguiu tal coisa naquele tempo? Mário Sacramento sabia que a população não assinaria se não estivesse a coberto de algo ou alguém que a encorajasse e defendesse. Decidiu, então, arriscar tudo e começar pelo bispo de Aveiro, João Evangelista de Lima Vidal. Sacramento afirmou que toda a gente duvidou da sua ideia e que até se riram dela. Mas, pensou, tentar não custa. Pediu a audiência no Paço. E, quando foi recebido e expôs a situação, o bispo, que fora missionário, disse-lhe: – Eu assino tudo o que seja a pedir, tudo! Amnistia quer dizer esquecimento. É justo, assino! E assinou mesmo.
Nos dias seguintes, andaram de porta em porta mostrando a assinatura do bispo, pois ninguém queria acreditar. Mas, depois de verem a assinatura do clérigo, muitas pessoas assinaram o documento: fábricas inteiras, repartições inteiras, até alto funcionalismo, conforme salienta Mário Sacramento no seu livro. Enfim, servindo-se do bom humanismo do bispo João Evangelista, conseguiram os oposicionistas da região os seus intentos.
Ora, sobre este mesmo bispo também existe uma história que o liga, de alguma maneira, a Condeixa-a-Nova. No dia 11 de Novembro de 1940, na Sociedade de Geografia de Lisboa, quando se preparava para assistir à sessão inaugural do Congresso Colonial, o bispo de Aveiro, João Evangelista, sofreu um atentado, tendo sido esfaqueado. O atacante foi Amadeu Ferreira da Piedade, que era natural de Condeixa-a-Nova. Amadeu agira, supostamente, “por demência” e, depois de alguns anos preso em Caxias, acabará por ser internado no Hospital Psiquiátrico Miguel Bombarda, onde viria a falecer.
São histórias como as de Amadeu Ferreira da Piedade e de outros naturais ou residentes em Condeixa, que todos poderão ler, após a publicação do livro Condeixenses Presos Pela PIDE, a editar no próximo dia 25 de Abril.
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