4 de Outubro de 2024 | Quinzenário Regional | Diário Online
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PAULO JÚLIO

Ainda é tempo!

5 de Abril 2024

A pergunta central sobre o sistema político é se ainda vamos a tempo de evitar a degradação continuada da democracia. As eleições legislativas de 2024 ficam para a história da democracia portuguesa como uma das mais participadas e como as que elegeram 50 deputados de um partido com cerca de seis anos de existência que vive da desilusão dos portugueses com o modo como os destinos de Portugal têm sido conduzidos. O mérito é de André Ventura e a responsabilidade é sobretudo dos partidos políticos com mais história e que ajudaram a construir o regime.

Os ideais políticos, dos tempos da sua fundação, relacionados com o desenvolvimento e solidez da democracia foram dando lugar a outros objectivos, outros hábitos e outros interesses, a partir da dimensão regional para a nacional. Os partidos políticos foram perdendo a sua aderência à sociedade, confundindo-se, não raras vezes, com os poderes locais democráticos. Dito de outro modo, transformaram-se sobretudo em máquinas de poder e foram paulatinamente perdendo a sua penetração e intervenção na sociedade. Quem julga que o fenómeno “Chega” resulta simplesmente do que os Governos nacionais não souberam fazer, está completamente equivocado. Tudo começa no nível local e regional, onde os partidos políticos, nomeadamente o PS e o PSD, se vão enclausurando com as mesmas pessoas de quase sempre, não promovendo debates de ideias quase como querendo passar a mensagem que não há nada para discutir no seu seio, não tendo intervenção política sobre os principais problemas das pessoas, não ouvindo cidadãos e não assumindo responsabilidades políticas, eternizando-se em lugares que vão rodando num pequeno círculo de pessoas, contornando assim as regras de limitação de mandatos.

Na minha opinião, este é o ponto de partida para a contínua degradação da política que está a levar a um ciclo vicioso em que as pessoas tendem a afastar-se de alguma participação. Portanto, o problema não é de agora. Na realidade, o problema começou há várias décadas, foi ganhando dimensão e, claramente, precipitou-se com esta declaração de mais de um milhão de portugueses que nos deixaram uma mensagem clara: ou mudam ou então vão fazer parte da história com pouca glória!

Quem não vê esta realidade e acha que isto vai passar tudo com um bom governo, não entendeu absolutamente nada. Claro que um bom governo, competente, sério e pouco tacticista, ajudará a acalmar o descontentamento e a desilusão, mas não resolverá o problema de base. Este enquadramento leva-me a concluir que ou o PS e o PSD se reestruturam, desde os seus níveis locais e regionais, largando as aritméticas básicas, ou ficarão desertos em menos de duas décadas. Por estas razões e não por causa de algum facto recente do deputado A ter sido substituído pelo B, ou por causa de ser mais do Líder C ou do D, mas porque sinto que o PSD no distrito de Coimbra tem de contribuir mais para um novo PSD que tem de ir ao encontro de todos os que ainda resistem em ser militantes, de todas as pessoas que têm mérito nas suas profissões e que até gostariam de participar mais se houvesse momentos para isso.

É para defender esse ideal, é por ter ainda esperança que é possível mudar, sem estar contra ninguém, mas simplesmente porque precisamos fazer diferente, com uma nova energia e com novos protagonistas. Pergunta-se sempre, nestas circunstâncias, se quem desafia será mesmo capaz de fazer isso. Eu acredito que sim. Acredito que a candidatura do José Miguel Ferreira pode corporizar essa mudança, voltando a dar ao PSD distrital de Coimbra, uma boa imagem perante a sociedade e também sendo exemplo a nível nacional. Só aprende com os erros quem se consciencializa e quem os percebe.

O PSD também deve aprender com os seus erros e demonstrar que pode ser agente de mudança democrática, honrando os seus valores fundacionais. O José Miguel, criado numa terra pequena como é Miranda do Corvo, é culto, jovem, tem sensibilidade social e política, não tem nada a perder, sendo esse desprendimento crítico para liderar processos que exigem cortar com determinados hábitos e, finalmente, tem vontade. Essa coragem, esse inconformismo e esse espírito de liderança política, nestes tempos de democracia conturbada, são essenciais para ter sucesso.

Espero que os militantes do PSD, independentemente das suas amizades e proximidades, reflictam sobre a importância deste momento e saibam colocar de lado “pequenas histórias” porque não é mais uma eleição, é mais um momento em que pode haver uma oportunidade de mudar as raízes do problema. Não se trata de mudar de pessoas, trata-se de mudar o modo de intervir e o modo de actuar, buscando a génese boa do que é um partido político.


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