A política nacional está confusa e o que muitos diagnosticaram há vários anos, está a materializar-se. Todos os que sentem que estão a ser menosprezados pelo “sistema”, independentemente de discursos mais ou menos preocupados, querem mudanças radicais, ainda que a mudança contenha muita imprevisibilidade e pouca coerência. Existem sondagens de opinião, onde os mais jovens demonstram estarem realmente fartos, escolhendo o Chega como a sua preferência. São mais de 30% de jovens a escolherem o Chega. Os principais partidos políticos têm tido muitas dificuldades em posicionar-se com uma mensagem em que os mais jovens se revejam e onde sobretudo percebam que as suas estruturas se modernizaram e estão verdadeiramente abertas, com dinâmicas sociais, locais e regionais, inovadoras. A grande maioria dos cidadãos lê títulos e, geralmente, não aprofunda os temas, não lê jornais, não discute de forma estruturada os assuntos políticos, sociais e económicos, ou porque não gosta ou porque não tem tempo disponível ou porque simplesmente não tem paciência. A deterioração do ecossistema político não tem ajudado a inverter este estado de coisas, pelo que é neste ambiente que o Chega prolifera, tal como acontece em vários países europeus. Em qualquer caso, falando do Chega, trata-se de um partido sem quadros políticos, sendo prova disso, o facto de André Ventura tentar recrutar políticos “aborrecidos” do PSD porque não foram escolhidos para lugares nas listas de candidatos a deputados. O caso Maló de Abreu é um exemplo paradigmático, assim como o de Henrique Freitas, um ex-secretário de Estado do Governo liderado por Pedro Santana Lopes. O Partido anti-sistema, afinal, recruta no que apelida de partidos do sistema. Esta incoerência desfila com o sentido de oportunidade política de André Ventura, mas as fragilidades estão lá. Na realidade quem está farto, não quererá saber, mas tudo isto terá um preço a pagar na Europa, dentro de uma ou duas décadas.
O Penela Presépio de 2023 foi anunciado com pompa e circunstância num formato “inovador” com uma realização mais suportada em conteúdos tecnológicos. Nada contra a inovação, mas inovação é fazer diferente criando valor. Se não criar valor, não é inovação, é mudar por mudar. Vamos a factos, desde logo, porque os números do orçamento previsto, apresentados a este Jornal, há algumas semanas, não estão certos. Mas, ainda antes de ir aos números, é importante perceber se o Penela Presépio se mantém como o evento de natal da Região de Coimbra, tal como foi durante vários anos. Não mantém. Portanto, mais uma vez, a ambição de Penela terá de ser reposicionada e o Penela Presépio deverá voltar a ser o Evento de Natal de referência e não mais um igual a vários. Como? O Penela Presépio tem de ser devolvido ao Castelo e ao casco histórico da Vila de Penela, aproveitando as características da vila. Têm de existir núcleos em vários locais, para além do Castelo, como por exemplo na Praça da República, na Rua de Coimbra, no largo junto ao Arco da Misericórdia/escadas da igreja da misericórdia e até mesmo dentro da própria igreja da misericórdia cujo espaço não está ao culto e que com certeza, a SCM de Penela disponibilizaria. Quem vier ao Penela Presépio, tem de voltar a sair encantado e tem de deambular pelas ruas do centro histórico, ao invés de ser literalmente conduzido para dentro de um pavilhão desportivo. Este modelo é discutível, mas é para isso que existem opiniões diferentes e existem alternativas. Nada é inevitável. Voltando à realização de 2024, o orçamento executado do Penela Presépio rondou os 290.000 € (quase 300.000 €) , mais cerca de 100.000 € do que o anterior modelo, ou seja um aumento de mais de 60%. Acresce a este dado que o executivo da Câmara Municipal adquiriu projectores no valor de cerca de 30.000 € por causa do modelo “inovador”. Poderia ter alugado os equipamentos porque serão para utilizar muito poucas vezes, mas preferiu investir em equipamentos tecnológicos, sem cuidar do futuro. Também é discutível, mas há alternativas. Este modelo de aquisição, a prazo, revelar-se-á desastroso por falta de manutenção, por se tornar obsoleto (tecnologias evoluem rapidamente) e porque é imprudente, uma vez que o modelo apresentado este ano, está longe de ser um modelo de sucesso garantido. Em qualquer caso, são opções políticas legítimas do actual executivo, pese embora discordemos com essas decisões e julguemos que há alternativas melhores. O que se regista é que se tratou de uma aposta com um aumento enorme de custos sem contrapartidas visíveis e sem ambição de valorizar o território de Penela e os agentes económicos locais, nomeadamente comércio local, cafés, restaurantes, hotelaria, produtores/agricultores e artesãos. Quando assim é, o que se regista para memória futura é mais um desperdício e um conjunto de decisões mal ponderadas baseadas no lema do actual executivo que assenta em tentar fazer esquecer o passado ou mudar de forma simplista com prejuízo material e imaterial para os Penelenses. Quase dois anos e meio passados após a eleição, a desilusão de todos os que queriam legitimamente mudar cresce porque, realmente, todos sentem um vazio de liderança, incoerências sucessivas e uma enorme fragilidade, tudo assente numa distribuição de “favores” sem critério dentro da própria organização do município, nomeadamente em contratações políticas “externas” e em várias avenças de “novos” serviços. Tudo são decisões legítimas, mas altamente discutíveis e será sempre no contraditório que os Penelenses ganharão.