Nenhum de nós muda por mudar. Nem na vida pessoal, nem profissional, nem quando temos de escolher alguém para nos governar. Quando os cidadãos não estão satisfeitos com os políticos que detêm o poder e quando sentem que há uma alternativa confiável, votam pela mudança. Não mudam por causa daquele argumento básico de que a seguir à cor “A”, deve vir a cor “B”. Mudam quando sentem que há ideias concretas que materializam uma alternativa, mudam quando sentem confiança. E têm, normalmente, de sentir mais confiança nos que desafiam o poder.
Em Portugal, vivemos uma situação política inusitada, onde um governo de maioria absoluta se demitiu e onde há um cansaço por oito anos de um poder que se desgastou e perdeu força de liderança. Dizem muitos que com tanta coisa mal porque é que não se percepciona mais vontade na mudança, apesar do extenso número de indecisos que ainda condiciona os resultados das várias sondagens (?).
A minha análise é simples. Há pessoas que querem tanto mudar que o seu pensamento é dirigir o seu voto para o partido Chega porque é o que possui o discurso mais disruptivo e directo sobre alguns assuntos. Essas pessoas não querem saber se é ou não é um partido populista, essas pessoas estão fartas do “sistema”, não têm paciência para ouvir sempre os mesmos na “bolha” mediática, e encontram ou julgam encontrar “ali” uma solução para o problema. Os restantes partidos de menor dimensão têm votações sensivelmente similares às que tinham, podendo haver alguns que perdem mais um pouco e outros que ganham mais qualquer coisa.
Finalmente, resta analisar o PS e o PSD. O PS que, nos últimos 28 anos, governou cerca de 20 anos, apresenta-se como o incumbente que está no poder há oito anos com um fardo de problemas por resolver, desde a Saúde, Educação, Habitação, Administração do território – querem regionalização ou não, querem outra vez mais juntas de freguesia ou não (?) – passando ainda pela CP que está de greve o ano inteiro e oferece serviços paupérrimos, ou pela TAP onde foram “enterrados” mais de 3,2 mil milhões de euros, ou pela Justiça que obviamente tem problemas que ninguém quer ousar atacar. Mesmo as contas apresentam-se certas graças a uma carga fiscal recorde que, por sua vez, foi ajudada por uma inflação recorde. Apesar dos fardos, o PS continua à frente nas sondagens que vão aparecendo, mesmo depois da demissão e das suas causas. Existe uma legião de indecisos que não querem votar no Chega e que se equacionam, de forma responsável, sobre o que será melhor – votar em quem estava – o PS –, acreditando que o seu novo líder vai agora apresentar-se como uma verdadeiro Estadista ou votar na alternativa – o PSD – acreditando que irão governar melhor do que outros. Essas pessoas não querem discursos de intenção, precisam de ouvir o que é que a alternativa pretende fazer para resolver cada um dos fardos identificados. Se não houver um discurso claro, a vontade de mudar vai ficando ao sabor dos debates mediáticos. Claro que, medidas concretas são um programa de governação, mas quem quer deixar de estar indeciso precisa de perceber quais são as diferenças, para além das diferenças de estilo e de personalidade.
Os indecisos não votam pela cor “A” ou “B”. São cidadãos que precisam de ter confiança que alguém fará melhor e como. É que estes cidadãos também estão fartos de linguagem política pouco clara e tacticista. Aquela que domina. Aquela que tanto agrada a gregos como a troianos. Aquela que não arrisca. Essa legião de cidadãos sabe o fardo que quem governou deixou, mas não tem a certeza que a alternativa é melhor. Por isso, mesmo Pedro Nuno Santos quer descolar dos “fardos”, sempre que lhe convém. E não, não foi uma questão de tempo. Não foi o tempo que faltou, foi mesmo a vontade de fazer, de reformar sectores e de arriscar medidas, independentemente dos interesses instalados.
Quem ousar falar claro, com credibilidade e com astúcia, com medidas concretas para problemas concretos, quem tiver realmente um projecto para Portugal que não passe simplesmente por um conjunto de políticas assistencialistas que nunca tirarão o País da trajectória onde está há vários anos, ganhará a maioria dos indecisos. A alternativa não os ganhará com um discurso cauteloso e a falar para determinados públicos. Todos sabemos que não é a atirar dinheiro para cima dos problemas que estes se resolvem. Alguns “mestres” da táctica sempre aconselharão a linguagem massuda e gasta, sem explicar o “Como”. O ponto é que sem o “como se faz”, os indecisos ou não votarão ou preferem não arriscar porque nenhum, dos que quer liderar, ousou falar claro ou, porventura, pensarão eles, são tão parecidos na substância que é melhor não mudar nada antes que arrisquemos a ficar pior.
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