Quando a política se torna só um jogo de espelhos e de táctica, perde o seu propósito. Quando alguém é eleito para um determinado cargo, deve ter a ponderação de diagnosticar, planear, agir e liderar. Pela positiva, pelo projecto que apresentou, (?) quando não é simplesmente um projecto de poder. A dimensão da gestão dos recursos, da eficiência e da criatividade são factores críticos de sucesso ou, na sua falta, a mediania ou, até mesmo, a mediocridade serão reinantes. Começo assim para enquadrar a “pobreza” de visão política que assalta o actual Presidente da Câmara de Penela. Talvez, quase de certeza, não seja caso único, mas isso não deixará nenhum Penelense feliz, seja residente, trabalhador, investidor ou cidadão com alguma ligação familiar ou emocional ao concelho de Penela. Para desenganar os mais cépticos desta escrita, deixem-me repetir que se as pessoas quiseram mudar, com certeza o fizeram com razões e com esperança. Quiseram mudar certamente, porque na sua observação (sempre) sábia perceberam que quem governava, não o fazia com a dedicação necessária para atingir os resultados que ambicionavam. Sabemos que, num acto de escolha eleitoral, há múltiplas variáveis objectivas e subjectivas e, portanto, desde logo, pela clareza no resultado, se se mudou, é porque o poder anterior não satisfazia. Além das razões, certamente quiseram mudar porque tinham (julgo que hoje, mais de dois anos depois, poucos têm) a esperança de uma visão e de uma liderança clara, positiva e a olhar para a frente, sem ressabiamentos e sem estar permanentemente na posição de desculpas pelo que (não) é feito. Quem quis mudar, fê-lo por alguém que pretendia que governasse e os fizesse esquecer o passado recente. Ora, o que têm é exactamente o oposto. Têm, agora, um Presidente de Câmara inseguro, permanentemente a desculpar-se com o passado (já desenvolveremos adiante esta parte) e sem uma visão forte e coerente sobre o que quer para o território. Em suma, uma pobreza de pensamento que ele próprio sintetizou, dois anos depois da sua tomada de posse, numa entrevista dedicada a Penela e ao futuro, em “encontrei um município parado no tempo”! Lido o título, fui procurar as razões e lá percebi que falta mais desmaterialização no funcionamento interno e há poucos recursos humanos dentro da Câmara Municipal! Ou seja, a mesma lengalenga que já tínhamos todos lido num “jornal” do município que saiu, salvo erro, no final do ano passado. Dois anos depois, temos um Presidente que, quando impelido a falar do seu concelho, fala do “tempo” que ele próprio ajudou a tornar insignificante e sobre meia dúzia de obras que, sem excepção, repito, sem excepção, herdou dos do “tempo parado”, com projecto concluído e financiamento aprovado para subsídios europeus. Das várias “obras” enumeradas, pontifica o “elefante branco” transformado na obra do actual regime – o parque de estacionamento de 60 lugares e respectivos acessos, mais o largo à frente dos Paços do Concelho. Bem sei que o projecto estava pronto e é do executivo anterior, do PSD (apesar disso ser expressamente ignorado), mas como eu falo por mim e não por clubes ou partidos, não o deixo de considerar um desperdício numa pequena vila como Penela. Segundo o Presidente, o investimento é de 1,5 milhões de euros, o que significa então que cada lugar de estacionamento custará 25.000 €. Caro, convenhamos, considerando a análise de valor da dita obra. Argumenta o Presidente da Câmara que 80% do valor é proveniente de subsídios comunitários, como se estes não fossem dinheiro de todos nós que pagamos impostos com língua de palmo. Argumenta também que o muro de suporte necessário para aquele lugar custaria o mesmo ou até mais do que a comparticipação da Câmara de Penela!… Esquece-se de nos dizer que talvez aquele dinheiro comunitário que vai para aquela obra megalómana e inútil (porque tirando alguns dias do ano, e com um pequeno arranjo urbano, o largo do município e a rua da Filarmónica, juntos , dariam 40 ou 50 lugares, o que servia perfeitamente) poderia ir para um investimento com muito mais retorno para os Penelenses, fosse o desenvolvimento de uma nova zona urbana entre Penela e a Ponte do Espinhal, fosse para apoiar mais as políticas dirigidas aos jovens, fosse para a estrada que liga o IC3/Espinheiro e o Rabaçal, fosse para a execução de uma nova área empresarial, fosse para criar melhores condições a muitas dezenas de jovens atletas do Clube Penelense, com a execução do projecto da bancada/balneários/ginásio do campo municipal. Fosse para o que fosse, desde que desse retorno. Voltando ao passado, Penela foi até há bem pouco tempo um território reconhecido pela sua ousadia e auto-estima, onde não havia lugar para lamúrias e onde se criavam oportunidades em cada pelouro (prova disso, o prémio europeu de Município Inovador recebido pelo Sr. Presidente). Penela criou o “Penela Presépio”, evento identitário de notoriedade nacional, criou há mais de 15 anos a Gala da Educação, dando ordem ao mérito, sendo depois seguida por muitos municípios, criou o conceito de território rural inovador , criou o HIESE, como pólo de inovação de empresas ligadas ao ecossistema do Instituto Pedro Nunes, foi dos primeiros municípios com a acção de Empreendedorismo nas escolas, criou um fórum anual de debate sobre desenvolvimento económico que foi , algumas vezes, ponto de partida para investimentos privados que acabaram por acontecer (exemplo: O Hotel Duecitânia que o partido político do Senhor Presidente achava impossível de se concretizar) , desenvolveu construção a custos controlados, que, agora, muitas críticas depois, todos percebem a sua importância, enfim, Penela era referência , tinha dinâmica e era vista como exemplo de território rural. Penela tinha uma visão de largo prazo, de mãos dadas com os seus vizinhos, em parcerias e redes, desde o património romano, os castelos medievais , as aldeias do Xisto, o património natural da Serra da Serra do Espinhal e do Sicó. E agora? Agora, temos uma Câmara Municipal que traça como prioridade contratar mais funcionários porque, vejam só, é o vigésimo segundo município de Portugal com menos recursos humanos, como se isso fosse mau. O que o executivo municipal deverá fazer, é aproveitar melhor as pessoas que já tem no seu quadro, dando-lhes responsabilidades com método e controlo de gestão. O que a Câmara de Penela menos precisa, salvo necessidades pontuais, é de gastar mais dinheiro em funcionários. Já chega o Estado Central, Senhor Presidente!… Para bom esclarecimento de todos, a Câmara de Penela em 2022 recebeu de fundos correntes do Estado 4,2 Milhões € , gastou em Recursos Humanos 2,42 Milhões €, portanto 58 %, sobrando para energia eléctrica , gás, demais gastos de edifícios, outros gastos correntes e comparticipações próprias em investimentos, o valor de 1,8 Milhões € . Perante isto, sabendo que a sustentabilidade é crítica para as escolhas futuras, os custos fixos (suponho que o executivo político da Câmara saiba o que isso é) não podem subir! Foi já por essa razão que nos mandatos 2005/2013, o número de pessoas passou de quase 150 para cerca de 110, não obstante ninguém lhes ter dado pela falta. Os fundos comunitários, mais tarde ou mais cedo, diminuirão muito e as despesas fixas necessariamente aumentarão, seja por via de aumento dos salários, seja do número crescente de edifícios municipais para gerir. Será que isto é tão difícil de perceber? Confesso que tenho um nó na garganta por ver Penela a andar para trás (o que é pior do que parada) guiada por pessoas que, além de terem desfeito a esperança que neles muitos depositaram, não têm uma ideia nova, um investimento privado novo para apresentar, um pequeno rasgo que fosse de originalidade e criatividade. Termino, para deixar nota pública que quem ocupa cargos públicos não é o seu dono, é simplesmente um executor num determinado tempo que, considerando a história das instituições e, neste caso, do Concelho, é muito curto. Não é bonito que os anteriores Presidentes de Câmara não sejam convidados para a Sessão Solene do Feriado Municipal e, uma vez lá, sejam críticos ou não do actual sistema, não tenham tratamento especial. Quem perdeu, neste caso, o “desaparecido” PSD, e quem ganhou, neste caso, V. Exas que exercem o poder, deveriam estar à altura das responsabilidades, entenderem (de uma vez por todas) que o povo é quem manda e que, seja no poder, seja na oposição, o Vosso papel vai muito além dos respectivos amuos ou estados de alma. Por Penela e não por Partido Político algum! Concluindo e para descansar as almas penadas, se Deus me der saúde, continuarei nos próximos longos anos, o meu percurso profissional de gestor de empresas, mas jamais deixarei, sempre que o entender e se justificar, de ser uma voz crítica e da razão que me assiste, porque não devo nada a ninguém e, como sempre o fiz, em total liberdade, não me importo de assumir o papel do inconformado.
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