10 de Setembro de 2024 | Quinzenário Regional | Diário Online
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PAULO JÚLIO

Nem milho, nem pardais!

17 de Setembro 2023

Sem jovens, não há futuro. O nosso Governo fez saber que no sentido de tentar reter os talentos mais jovens, os que estudam em Portugal e, depois, saem para outras paragens, vai devolver parte do dinheiro das propinas e vai alargar o âmbito de aplicação do IRS jovem. Está no sentido certo, mas é evidente que não vai resolver nada. Medidas avulsas nunca resolveram nada e, agora, ainda resolvem menos. Pode servir para “fazer um bocado de política”, será melhor do que coisa nenhuma, mas o efeito é nulo. Portugal precisa de uma economia mais competitiva, mais audaz, mais criativa, de modo a criar mais emprego e mais riqueza. Sem isso, nunca iremos a lado nenhum, a não ser para a cauda da Europa. Sem isso, os salários serão sempre os possíveis, portanto, mais baixos e menos competitivos do que os salários da maioria das economias europeias. Este problema tem décadas e, realmente, perdemos mais duas sob governos de natureza “pró-socialista” de conveniência eleitoralista.

De 1999 até 2023, passaram 24 anos, dos quais 17 foram de governo do Partido Socialista, quatro foram a salvar-nos da Troika cuja chamada adveio de um governo socialista e três anos serviram para a retirada do pântano deixado por outro governo socialista. Os anos de governação são factos e o outro facto é que a economia portuguesa cresceu pouco ou nada, o rendimento médio líquido dos portugueses cresceu 0% e a carga fiscal cresceu 32%.  As causas e as demais circunstâncias poderão ser objecto de discussão, mas o resto são factos. Acresce que Portugal é um dos países do mundo com a taxa de natalidade mais baixa. Portanto, conclui-se que caminhamos para um envelhecimento tendencial e sem talento nacional que tende para aproveitar a facilidade dos transportes e das comunicações para rumar a outras paragens, experimentando outras realidades, longe da mediocridade que reina.

Este intróito pessimista serve somente para escrever que não vamos lá com medidas ridículas e forjadas num jantar “criativo”. Ou existe uma política integrada dirigida aos jovens ou estaremos, cada vez mais, bloqueados. Claro que o problema não é só dos jovens, mas são os jovens quem mais está a sofrer com as transformações sociais e económicas que estamos a viver. Se falarmos de trabalho, sabendo que a maioria das oportunidades estão nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, sabendo que um quarto em Lisboa custa entre 500 e 900 €, sabendo que o salário líquido de entrada anda em torno dos 1000 €,  os mais novos ficam numa encruzilhada de escolha fácil quando lhes aparece uma oportunidade de ir para fora e ganhar duas ou três vezes mais. No comparativo com a residência em Lisboa, nem os gastos são mais altos. É isso que mudou nos últimos anos e que acelera a debandada.

Vamos lá com a devolução de propinas? Jamais. A habitação é um problema central e este governo anda há sete anos a afirmá-lo. O problema é da relação entre oferta e procura, sempre foi assim. Se a oferta é baixa, o preço aumenta. Se pensarmos que nas maiores cidades, há, cada vez mais, estrangeiros a comprar e a arrendar casas, com poder de compra muito superior ao dos portugueses, e que o turismo faz o resto, entramos na discussão “mor” do reino – a habitação. O Estado não é construtor. O Estado pode ser, quando muito, proprietário, e, mesmo assim, de forma criteriosa. Isso implicará criar condições para habitação a custos controlados promovida por privados e onde o Estado pode regular. Há um segmento de mercado para esse tipo de habitação. Poder-se-ão dinamizar políticas de atracção de jovens e pessoas para territórios de mais baixa densidade, mas tem de haver trabalho e oportunidades. O trabalho remoto pode ajudar, mas já percebemos que, salvo raras profissões, não resolve o problema. Portanto, neste Portugal, há partes onde há oportunidades, mas o preço da habitação leva quase tudo, e outras partes onde esse preço é razoável, mas não há oportunidades.

O Portugal a duas velocidades deu lugar, com o advento do turismo e da atracção de estrangeiros “ricos”, ao Portugal desencontrado. Como vamos resolver estes nossos problemas estruturais num País pequeno e com défices substanciais de educação e formação? Na minha opinião, só com muita audácia e com muita mudança estrutural, daquelas que, eventualmente, até poderão levar à perda de eleições porque em Portugal, nesta matéria política de substância, não será possível almejar um acordo de regime.

A política dirigida aos jovens é, portanto, transversal a quase todos os ministérios.  Quando jogava à bola na rua, em criança, dizíamos que o primeiro milho era sempre dos pardais. Aqui, nem milho, nem pardais!


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