A atleta condeixense Matilde Gaspar saiu de Pádua (Itália) com quatro medalhas ao peito, fruto do excelente desempenho na sua primeira participação internacional, concretizada no VII Campeonato da Europa de Natação para Síndrome de Down, integrado nos Campeonatos Europeus da União de Desportos para Atletas com Síndrome de Down, um evento multidesportivo que incluiu também competições outras sete modalidades, e que juntou mais de meio milhar de competidores de duas dezenas de países.
Três medalhas de prata e uma de bronze enchem de satisfação e orgulho a jovem de 17 anos, portadora de trissomia 21, atleta de eleição, mas também estudante aplicada, a iniciar agora o 10.º ano de escolaridade.
Vamos por partes. O gosto pela natação vem de tenra idade. Ainda criança, o programa de uma cinesioterapia que realizou na Cáritas Diocesana de Coimbra incluía piscina e o gosto pela água tê-lo-á sentido aí. Nunca mais parou. Os anos seguintes foram de profícuas braçadas nas Piscinas de Condeixa. Até que aos 10 anos foi “descoberta” por Anabela Marto, ainda hoje sua treinadora na Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra (APCC), onde frequentava consultas de terapia da fala.
Desde há sete anos que participa em competições nacionais de natação, sob a égide da Federação Portuguesa de Natação, em representação da APCC. Matilde já perdeu a conta às inúmeras medalhas que arrecadou. Umas atrás de outras, como corolário de um incrível esforço diário que inclui treinos, de segunda a sexta-feira, logo às 7h00 da manhã e por vezes bi-diários, no Centro Olímpico de Piscinas Municipais, em Coimbra. Sim, confirma-se, é apenas no dicionário que sucesso vem antes de trabalho.
Campeã nacional de Verão dos 50, 100 e 200 metros bruços e campeã nacional de Inverno dos 50 e 200 metros bruços; recordista júnior da Europa dos 800 metros livres e recordista de Portugal dos 50, 100 e 200 metros bruços. Desempenhos que colocam Matilde Gaspar entre os melhores atletas nacionais daquela modalidade e que agora lhes abriram as portas para a primeira presença numa prova internacional, representando a selecção portuguesa em Itália.
“Foi difícil, mas também foi espectacular, gostei muito e também me permitiu falar inglês com outras pessoas”, afirma a atleta com uma humildade desconcertante e o corpo dorido… devido a uma queda na cerimónia de encerramento do campeonato.
Medalhas de prata nos 50, 100 e 200 metros bruços, uma medalha de bronze na estafeta de 4×100 metros livres misto e recordes nacionais batidos coroam a excelente prestação na estreia além-fronteiras.
“Fiz o meu melhor, estava mais ou menos nervosa, mas correu bem e foi uma alegria enorme”, conta Matilde Gaspar ao TERRAS DE SICÓ, dedicando a conquista “à minha família e ao meu avô Philip que morreu” há poucos meses.
Com provas nacionais já no próximo mês, o tempo para descansar da aventura europeia vai ser escasso, pois os treinos têm de prosseguir. “É para continuar em frente, vai ser a doer, mas a natação é o meu desporto favorito”, reforça a jovem condeixense, ao jeito de ‘quem corre por gosto não cansa’.
Por entre palavras de elogio à treinadora Anabela Marto e ao ‘adjunto’ António Costa, Matilde não esquece os colegas da equipa da APCC que também a tem ajudado a crescer, “o Joel Pereira, a Bárbara Gomes, Carolina Lourenço e Ruben Santos”.
E depois de Itália, a condeixense já aponta à participação no campeonato do mundo que vai decorrer em Março do próximo ano na Turquia. Siga!
Matilde multifacetada
Mas Matilde é mais, muito mais, do que apenas natação. Por exemplo, no desporto, ainda treina basquetebol e pratica ginástica na Associação Olhar 21. Fora do desporto, faz teatro em dois grupos (Associação Olhar 21 e Oficina de Teatro de Condeixa), tem aulas de piano e de dança e, por último mas não menos importante, é estudante do ensino regular.
Sim, estuda e é boa aluna. Integra o ‘quadro de mérito’ da Escola Secundária Fernando Namora em Condeixa, onde conclui o 9.º ano de escolaridade. Agora, espera-a o Curso Profissional de Técnico de Restaurante e Bar, na Escola Secundária D. Duarte em Coimbra, que “vai ser puxado”.
“Gosto de cozinhar, já ajudo a minha mãe e vai ser mais útil para o dia-a-dia no futuro”, justifica assim por que não optou por um curso ligado à área desportiva, ela que é uma campeã.
São dias intensos, tantas são as actividades, é muita a capacidade de sacrifício, enorme a resiliência e há uma certeza: a Matilde é grande.
LUÍS CARLOS MELO
[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]
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