As Jornadas Mundiais da Juventude são com certeza um momento especial para todos os católicos e deverão constituir uma base de reflexão para a estrutura da Igreja que, realmente, salvo raríssimas excepções, se apresenta publicamente com protagonistas cinzentos e com um discurso fechado que a maioria dos jovens não dá importância ou tem dificuldade em interpretar. A reflexão sobre o sentido da Vida é importante, mas há que substituir a “linguagem” estafada e cheia de frases feitas. Em resumo, daquilo a que vamos assistindo, a comunicação é má, as lideranças nacionais são fracas e, portanto, com imenso a aprender com o Papa Francisco. Dito de outra forma, a Igreja católica portuguesa que obviamente tem nos seus quadros muitas pessoas com competência, ou muda ou continuará a ter os mesmos, cada vez mais velhos, e a atrair uma diminuta franja de juventude, de entre os muitos que até são crentes, mas não se identificam com uma estrutura inadaptada. Se este evento, que se realiza de quatro em quatro anos, servir para “abrir” e renovar a Igreja Portuguesa, já terá feito algum sentido, para além das “justificações forçadas sobre o retorno dos milhões de Euros” provenientes dos gastos dos participantes.
E sobre isso, as entidades portuguesas responsáveis estão no seu “velho normal”. O evento foi anunciado há 4 anos, mas os ajustes directos, alegando carácter de urgência, sucedem-se num contra-relógio até aos dias do evento. Um “hino” à falta de planeamento e à completa ausência de análise de valor sobre os investimentos realizados. Um “hino” à falta de decoro nos gastos públicos que, sendo por causa de um evento da Igreja Católica, são altamente discutíveis, independentemente dos “estudos de retorno” que vão aparecendo na esfera pública, quase como uma necessidade de justificar outras faltas. E a falta de planeamento não foi só nos palcos. Realizar uma “missa campal” no Parque Eduardo VII vai obviamente destruir aquele espaço que, naturalmente, terá de ser reconstruído com, muito provavelmente, mais um ajuste directo. Claro que a ideia que esteve na base foi a de que dezenas de drones iriam filmar aquele belo espaço de Lisboa e “levá-lo ao mundo”, sem pensar noutras alternativas, menos “espectaculares”, mas mais sustentáveis. Coloco ironia por falta de paciência e, talvez, por já ter desistido de ver um País a ser levado para um caminho indesejável. Talvez, uma das consultoras dos estudos sobre o “retorno” possa estudar também o que é que poderia ter sido poupado se o evento tivesse sido preparado com tempo. Neste caso, provavelmente, nenhuma das entidades públicas estará para pagar esse estudo, mas poderemos fazer um “crowdfunding” (“peditório” em Português) em nome de um Portugal mais racional.
O Papa Francisco não tem nenhuma responsabilidade, mas a Igreja Católica deveria aproveitar estes momentos “globais” para dar sinais fortes dos valores que defende. Quando se gasta para além do necessário com o dinheiro que é de todos e que repetidamente é tão mal despendido, estamos conversados. Entretanto, ao que parece, os turistas fizeram uma pausa nas visitas a Lisboa porque os hotéis estão abaixo da sua ocupação normal.
Enfim, ainda ouviremos falar muito do que foi supérfluo porque verdadeiramente houve muita falta de reflexão sobre o que é um evento destas características, a quem se dirige, quem é o seu público e para que é que serve verdadeiramente. E, insisto, poderá servir para muito se falarmos dos bons valores que o Cristianismo propaga, mas a organização é pouco mais do que um desastre. Deveria Lisboa/Portugal ter concorrido à realização das JMJ de 2023? Julgo que sim, mas o que deveria ser uma oportunidade para centrar as atenções nos jovens, nos valores da sociedade e no futuro da Igreja, tem sido um tempo para todos constatarmos que continuamos com os mesmos velhos hábitos – Tudo em Cima do Joelho. E, utilizando, outra expressão popular, por favor, não nos façam de tolos porque, desde logo, merecemos mais respeito!
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