A 25 de Julho de 1883 estreia-se a banda da Filarmónica Recreativa Espinhalense, embrião da actual Sociedade Filarmónica do Espinhal (SFE). Faz 140 anos na próxima terça-feira.
A primeira banda musical do da freguesia do Espinhal foi criada pela mão de Carlota Taylor, uma jovem italiana que veio para a terra ensinar música à família Alarcão.
Anos mais tarde, por volta de 1903, uma cisão no seio da filarmónica dá origem à criação de uma segunda banda, a União Lealdade Espinhalense. Ambas coabitam, umas vezes bem outras mal, até 1936.
Em pleno Estado Novo, uma denúncia por alegada propaganda subversiva contra o regime ditatorial leva a PIDE ao Espinhal. Nada encontra, mas também não encontra estatutos que dêem suporte legal àquelas associações e fecha-lhes os espaços de ensaio. É mais um contratempo, contornado a partir daí apenas por esporádicas actuações.
Em 1946, aposta-se na reorganização musical das bandas e é fundada a Sociedade Filarmónica do Espinhal, que tem o primeiro grande revés com a guerra colonial que no início da década de 1960 recruta e afasta muitos jovens e desmotiva outros.
O tombo é de tal forma que é apenas após o revolucionário 25 de Abril, com os regressos das ex-colónias, que surge “mão-de-obra” suficiente e entusiasmo bastante para um retomar efectivo da actividade da filarmónica.
Estamos a 18 de Abril de 1976, é Domingo de Páscoa e a Sociedade Filarmónica do Espinhal surge a desfilar pelas ruas da vila, revigorada, para satisfação dos seus membros e das suas gentes. De então para cá não mais parou a actividade.
José Antero é um dos que se empenha forte na reactivação da banda. Hoje é o seu maestro (ou regente, como gosta de dizer). Aliás, já o é desde 1986.
Trata-se de um caso de paixão pela música que há muito o acompanha. Aos 7 anos já aprendia a tocar clavicorne, tuba, clarinete ou saxofone na filarmónica e desde então tem sido sempre a “bombar”. A SFE é a sua segunda casa, a segunda família. Muitas vezes a primeira.
“Este é o período mais longo de vida próspera da Filarmónica desde a sua existência”, frisa José Antero ao TERRAS DE SICÓ.
Actualmente, a SFE tem como valências a banda com mais de 40 elementos, a Academia de Música é frequentada por 45 alunos e o Coro Carlota Taylor, criado em 2016, é composto por mais de três dezenas de coralistas.
A Filarmónica tem instalações inaugurada em 1995, construídas de raiz e “desenhadas à função”, estreou fardamento há uma década e há pouco mais de um ano foi apetrechada com mais de quarenta novos instrumentos musicais, financiados em grande parte pelo Orçamento Participativo de Penela.
Para José Antero, a prioridade futura dos responsáveis da SFE, da qual também é vice-presidente da direcção, deve ser a academia de música, alfobre da banda, que perde cada vez mais jovens por força das circunstâncias da vida que os leva a deixarem o Espinhal.
“Dos 45 músicos da banda, apenas 15 aqui residem. Temos músicos que vêm do Porto, de Aveiro, da Figueira da Foz, de Condeixa ou muitos de Coimbra e que com a carístia da vida que vivemos cada vez têm mais dificuldade em virem ao Espinhal para integrar os ensaios e as actuações”, alerta o maestro.
Concerto comemorativo em Setembro
Como muitas outras filarmónicas, dependente de subsídios para manter a(s) actividade(s), a SFE é gerida com alguma “habilidade financeira” para conseguir fazer face aos encargos, afirma o presidente da direcção, António Alves.
“Precisamos de suporte financeiro para pôr tudo a funcionar, porque temos a Academia e temos os encargos com os professores, as despesas de funcionamento das instalações, entre outros”, refere o dirigente.
A Câmara de Penela financia a instituição em perto de 16.000 euros anuais, sendo 9.000 euros destinados à Academia de Música, 6.000 euros à banda e 800 euros ao Coro Carlota Taylor.
“Se calhar há poucas câmaras a apoiar as filarmónicas com valores desta grandeza, é a receita substancial que nos permite financiar as actividades, mas admitimos a necessidade de encontrar mais fontes de receita com a realização de diversas acções”, salienta António Alves.
Os 140 anos da SFE serão apenas assinalados no início de Setembro, por ocasião da tradicional Feira do Mel do Espinhal, com a realização de um concerto comemorativa no qual participará também a Sociedade Filarmónica Penelense, dirigida pelo britânico Stephen Rockey.
Para José Antero, “falar do Espinhal sem falar da Filarmónica é ocultar a história”. E a história da SFE está a caminho do século e meio…
Requalificação da Casa da Cultura marca passo
A requalificação da antiga Casa do Povo, hoje denominada Casa da Cultura, propriedade da Sociedade Filarmónica do Espinhal (SFE), é uma velha aspiração da instituição e continua a marcar passo.
“Existe um acordo aprovado pela Câmara de Penela, vindo do mandato anterior, de 400.000 euros, em que a SFE recorria à banca para financiar a obra e a autarquia garantia o pagamento das prestações”, recorda o presidente da direcção, António Alves.
O projecto de arquitectura, em fase de execução, já prevê um investimento superior a 600.000 euros. “Estamos a tentar dividir o projecto em duas fases, tentando obter algum financiamento no âmbito da eficiência energética, mas não sei se vamos ter sucesso”, afirma o dirigente.
A recuperação daquele espaço, considerada uma necessidade, é fundamental não só para a filarmónica, porque “aquele é um espaço da comunidade, onde se realizam muitas das actividades culturais da freguesia e do concelho de Penela”, realça o presidente da SFE.
O museu da SFE, que chegou a estar projectado para aquele espaço, deve vir a surgir, um dia, no edifício do mercado.
[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]
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