No dia em que partiu para o Holanda tudo parecia “de pernas para o ar”: a companhia aérea criou-lhe problemas. “Era meio de Março, e estive mais de três horas na fila no aeroporto de para deixar a mala”. Quando finalmente chegou a sua vez, “já não havia espaço no porão para a minha bagagem”, teve que deixar tudo em Portugal. Já dentro do avião, “e devido a um constrangimento técnico a partida foi atrasada outras tantas horas”, ri, enquanto recorda: “foi um filme onde mais parecia que não devia seguir viagem”.
Alex Gui, como é carinhosamente apelidado, seguiu para o seu destino com a roupa que tinha no corpo, “uma mochila com o computador e papeladas, um telemóvel no bolso e a carteira”. No dia seguinte, “tinha que me apresentar na empresa”. Desenrascou-se “à boa moda portuguesa”, comprou “um par de calças, duas camisas, um casaco e um par de botas, com direito a meias novas e cuecas a estrear”. A bagagem chegou… quase duas semanas mais tarde. “Deu para renovar o vestuário”, brinca. Mas mesmo com os primeiros passos a correrem de forma bem diferente do planeado e com muita apreensão, o engenheiro de sistemas da freguesia da Redinha, concelho de Pombal, não se deixou intimidar. “Tinha 28 anos e uma vontade imensa de aproveitar a oportunidade”.
Passados seis anos, e muitas outras histórias, o jovem ocupa um cargo de Arquitecto de Software, onde tem “basicamente de aconselhar a direcção de informática de uma das maiores operadoras de telecomunicações dos Países Baixos em questões técnicas relacionadas com o desenho e implementação de plataforma informáticas”.
Com raízes bem assentes na freguesia da Redinha, Hugo Alexandre licenciou-se no Instituto Superior de Engenharia do Porto, em engenharia de sistemas. “Na altura não sabia muito bem o que era isto dos sistemas, mas na hora de escolher pareceu-me interessante”, e foi precisamente no norte de Portugal que deu os primeiros passos como profissional.
“Posso dizer que fui bastante afortunado no momento em que distribuíram os estágios, o que me permitiu conhecer o ambiente profissional de um grande projecto nacional”, direccionado para a implementação de novas tecnologias da comunicação. Seguiram-se diversas viagens, trabalhou em “diferentes tipos e escalas, em cidades como Lisboa, Berlim e Genebra”, mas quando optou por dar mais um salto na carreira, foi em Londres, onde viveu dois anos, “que iniciei uma colaboração com a empresa onde trabalho hoje em dia, e que tem escritórios e departamentos um pouco por toda a Europa”.
Para o jovem de 34 anos, “quem pretende ter uma carreira profissional internacional uma das paragens deve ser Londres, por tudo o que a cidade representa”. Por ser “uma cidade mutante, onde chegam e partem diariamente cidadãos de todo o mundo, e todos procuram algo em Londres, isso acaba por identificar e caracterizar a cidade”.
“Proposta irrecusável”
A oportunidade surgiu “por parte de um amigo, que iria regressar às origens, na Arábia Saudita, e que me recomendou para ocupar o seu lugar na empresa”. Num golpe de sorte, de trabalho e de companheirismo, o pombalense passou a ocupar uma “cadeira muito desejada”, e que lhe permitiu mostrar o seu conhecimento e audácia.
O director inglês propões-lhe ir chefiar um departamento de desenvolvimento de software, em Amesterdão, na Holanda. Actualmente ocupa o cargo de Arquitecto de Software, onde tem de aconselhar a direcção de informática de uma das maiores operadoras de telecomunicações dos Países Baixos.
A “multiculturalidade sempre me fascinou: as viagens, as culturas, as experiências”, e a nível financeiros, “a proposta era irrecusável, mesmo tendo em conta o nível de vida de um engenheiro de sistemas em Inglaterra”.
Alexandre Rodrigues conta que “a empresa precisava de alguém para as tarefas que estou a desempenhar, e, como o projecto é bastante interessante e sempre gostei de me desafiar, aceitei a proposta”. Actualmente lidera “uma equipa interdisciplinar responsável pelo levantamento de necessidades, planeamento, desenvolvimento e análise de sistemas que transformem conceitos em produtos e serviços de telecomunicações de elevada qualidade”.
De Portugal, e de Pombal, sente “falta da família”, e do clima mais temperado, “mas o facto de ter condições económicas para fazer férias no estrangeiro três ou quatro vezes por ano acaba por diluir esse efeito”. Sem data marcada para o regresso, afirma que “Portugal não está nos meus planos a médio/longo prazo, mas é bastante provável que emigre para outro país num prazo de quatro ou cinco anos: talvez para os Estados Unidos ou para o Dubai”.
Da infância guarda os momentos passados no campo, “a ajudar na apanha da azeitona, a tratar das galinhas da avó Mena”, ou do seu companheiro de passeios demorados: o Kurt, o velhinho pastor alemão.
Talvez pelas experiências de infância, pelo contacto da natureza, ou porque Holanda é um país que se dá às experimentações, Alexandre Rodrigues decidiu juntar-se a um grupo de voluntários que actua pelas causas ambientais e promove o direito à liberdade de expressão, com base “em acções culturais, como concertos de bandas emergentes, instalações artísticas e espaços de debate: o respeito pela liberdade, a tolerância e a flexibilidade com que as regras são encaradas, tornam a Holanda um país muito equitativo. Há uma postura relativamente à liberdade que é baseada na responsabilidade pessoal. Não são necessárias muitas regras para garantir a convivência em sociedade e as que existem são aplicadas com bom senso e não apenas porque existem. Talvez por isso se veja tanta diversidade de pessoas, a todos os níveis, e isso é talvez o que mais me agrada aqui e mais falta me irá fazer”, um dia…
“Amesterdão é uma cidade óptima para viver”, revela. “Tem a oferta cultural e o ambiente de uma grande cidade, aliás, é a cidade do mundo onde vive o maior número de nacionalidades, mas ao mesmo tempo permite um estilo de vida de cidade média, com deslocações fáceis e relativamente rápidas, muita vida fora de portas e segurança total”.
“É ainda mais multicultural do que eu esperava, encontra-se pessoas de todas as formas e feitios, religiões, ou tribos urbanas”, e afirma que o único aspecto que subestimou foi mesmo o tempo: “semanas sem ver o sol, nem mesmo um bocadinho de azul no céu pode ser altamente angustiante, principalmente para pessoas como nós, habituadas a tempo ameno e sol”. Não se pode ter tudo…
ANA LAURA DUARTE
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