“Encontrámos uma realidade completamente diferente da nossa”, conta Tiago Freitas, o único bombeiro da região de Sicó que integrou a comitiva de 140 operacionais que constituíram a Força Nacional Conjunta (FOCON) que Portugal enviou ao Canadá para auxiliar no combater os incêndios florestais que assolam aquele país da América do Norte, enquanto explica que “a filosofia de combate deles é muito distinta da nossa: cá em Portugal estamos habituados a fazer um combate directo, usamos água como meio extintor para combater as chamas e lá usam mais combate indirecto, com a execução de faixas de contenção e de aceiros com máquinas”. Por lá, “a nossa comitiva tinha como ferramentas de combate aos incêndios pás, machados e moto-serras”, descreve.

Tiago Freitas, natural do Mogadouro, na freguesia de Santiago da Guarda, mostra-se agradavelmente feliz por ter sido indicado pelo comando dos Bombeiros Voluntários de Ansião (BVA), que integra há 16 anos, naquela que foi a primeira missão internacional, em 65 anos de história dos BVA. “Nunca tinha pensado em ser bombeiro, mas um vizinho que já integrava os BVA lançou-me o desafio: vim experimentar e fiquei logo com o ‘bichinho’”. Actualmente integra uma das Equipas de Intervenção Permanente dos bombeiros ansianenses, e quando lhe lançaram o desafio de se deslocar ao Canadá para apoiar no combate aos incêndios não hesitou, no entanto revela que os primeiros dias de missão “foram muito complicados, porque aqui em Portugal estamos habituados a combater as chamas na frente de fogo e no princípio achámos que o que estávamos a fazer era um trabalho inglório, mas depois entrámos no registo esperado e até ficámos muito bem vistos lá”, assegura. “Estávamos lá para cumprir ordens e a voz de comando é só uma: tivemos de nos adaptar, e ao segundo ou terceiro dia já estávamos com o ‘chip’ alinhado com as necessidades do território”.

O soldado da paz ansianense dá conta que todas as manhãs os operacionais eram deslocados, de autocarro da vila onde ficaram instalados em tendas, em Lebel-sur-Quévillion, na província do Québec, para o terreno. “Após a viagem, seguíamos apeados e andávamos cerca de 12 quilómetros a pé”. Às seis da tarde regressavam à base, revela, enquanto explica que “lá não se fazia combate aos incêndios durante a noite”.

E se em Portugal as “manchas florestais são muito menores e temos muitos aglomerados de aldeias, que não podemos colocar em risco”, do outro lado do Atlântico, “apostam no combate indirecto, com a execução de faixas de contenção, e deixa-se arder, porque não há meios suficientes para um combate directo”. Tiago Freitas conta que “o incêndio onde estivemos, consumiu uma área da dimensão do vizinho concelho de Pombal: assustador”.

Durante 15 dias, entre 14 e 29 de Junho, Tiago integrou uma equipa constituída por portugueses e norte-americanos que partiram em auxílio dos bombeiros canadianos no combate aos fogos que lavram desde o início de Maio. Para além do ansianense, mais cinco bombeiros do distrito de Leiria compuseram a FOCON, quatro da Batalha e um de Figueiró dos Vinhos. Para além dos bombeiros, a equipa lusa era constituída pela Força Especial de Protecção Civil da ANEPC, Unidade de Emergência de Protecção e Socorro da GNR, Instituto de Conservação da Natureza e Florestas e elementos do Instituto Nacional de Emergência Médica.

Em jeito de balanço, o jovem de 33 anos considera que os seus congéneres do Canadá “ficaram surpreendidos com as nossas valências e forma de trabalhar, e disseram-nos que enriquecemos muito o trabalho no terreno. Foi uma experiência excelente”.

Regressa à companhia que o viu crescer enquanto bombeiro com “uma sensação de dever cumprido”. Tiago Freitas não tem dúvidas: “voltava outra vez”.

ANA LAURA DUARTE

[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]