“É mais uma desgraça que vai acontecer ao concelho de Soure”. É assim, de forma lacónica, que o presidente da Câmara de Soure resume o sentimento em torno da passagem da linha de ferroviária de alta velocidade pelo território que dirige.
O troço entre Soure e Oiã (Oliveira do Bairro) da futura linha que vai ligar Lisboa ao Porto deverá implicar um investimento de 1,3 mil milhões de euros, segundo o estudo de impacte ambiental.
“A estimativa do valor de investimento é de 1,3 mil milhões de euros”, refere o resumo não técnico do Estudo de Impacto Ambiental encomendado pela Infra-estruturas de Portugal (IP) e que está em consulta pública na plataforma digital www.participa.pt até 31 de Julho.
Este troço é o lote B da ligação entre Porto e Soure que corresponde à primeira fase da linha de alta velocidade Porto-Lisboa, que deverá arrancar em 2029.
Mário Jorge Nunes admite, em declarações ao TERRAS DE SICÓ, o interesse público nacional do projecto, que “a linha é importante para o país e de que pretendendo ligar Porto, Aveiro, Coimbra e Leiria, era inevitável a passagem por Soure”, mas defende que o concelho deve ser ressarcido dos transtornos que vai causar.
Em cima da mesa estão duas opções de trajecto, “uma pior do que a outra, sendo ambas más”.
“Há um traçado que não nos passa pela cabeça que possa ter exequibilidade”. Trata-se do designado Eixo 1, que “passa mais junto à vila de Soure, tem mais extensão no concelho, cortando-o ao meio e vai ter um impacto muito negativo em várias localidades, sobretudo, na aldeia de Simões”.
O Eixo 2 afasta o traçado da vila, afecta de igual modo Simões (“é onde se vai sentir o maior impacto”) e também aldeias como Casal dos Pedros, Casal do Justo, Casais da Misericórdia e Bonitos.
Apesar do impacto no edificado não ser significativo, sobretudo neste eixo, Mário Jorge Nunes aponta à “desvalorização que toda esta área dispersa irá sofrer”. “É uma zona do concelho onde há muitas famílias jovens, que fizeram aqui os seus investimentos em casas de habitação, que têm grande dinâmica e um fluxo laboral entre Soure, Coimbra e Pombal, que escolheram este local para investir nas suas vivendas e que esta obra vem sacrificar, prejudicar e penalizar fortemente as expectativas que as pessoas tinham”, regista com desagrado.
Interface com Linha do Norte
É também a sul da aldeia de Simões que está projectado o interface que permitirá ligar a nova linha à já existente Linha do Norte, sendo para tal necessário ocupar uma vasta área.
“O impacto que a obra vai ter no concelho de Soure podia ser outro se o interface fosse ainda mais a sul, porventura, até podia ter outras potencialidades”, refere.
Para o edil, tem de haver “sensibilidade da APA [Agência Portuguesa do Ambiente], do Governo e da IP para a criação de condições de acesso à obra, de forma que não prejudiquem as populações e venham a minimizar o impacto”.
“Temos de acautelar a imposição de algumas condições, pois vamos ter estradas municipais bastante afectadas, não só no produto final, mas também durante a fase de obra”, salienta o autarca, manifestando-se preocupado com a questão.
O acesso à zona de obra por estradas nacionais ou da responsabilidade da IP e a melhoria da ligação de Soure ao nó da auto-estrada A1 são duas condições que a autarquia de Soure vai defender, bem como outras situações que “impactam directamente com os residentes e proprietários da zona entre Simões e Bonitos”.
Em fase de consulta pública, “a população quer o apoio da Câmara de Soure para estudar bem toda esta temática”, afirma Mário Jorge Nunes, apostado em garantir que o concelho “sofra os menos danos possíveis” com o projecto da alta velocidade.
“O concelho de Soure tem esta fatalidade. Foi assim com as grandes obras públicas. Tem o karma de ficar sempre com o prejuízo e quase nunca com qualquer proveito”, lamenta o autarca, lembrando projectos com as auto-estradas A1, A17, linhas ferroviárias do Norte e do Oeste, linhas de alta tensão e o gasoduto. “Vai acontecer mais uma vez com a alta velocidade”, diz, resignado.
LUÍS CARLOS MELO
[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]
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