A política é feita de sinais, mas também de jogos e distracções. O passado dia 10 de Junho, o Dia de Portugal, portanto um dos dias mais marcantes do ano em que normalmente se tenta puxar pelos valores de uma nação secular, pela sua história, projectando, na medida do possível, o sonho do futuro, ficou carregado de mensagens que retratam bem o nosso quotidiano.
Assim, Costa quis mostrar, ali mesmo, que Galamba existe e que o Presidente da República teria de aguentar com ele. Primeiro sinal: “quem manda sou eu, tinha de convidar alguns ministros, por isso trouxe os que mais gostas” – Galamba e o Ministro dos Negócios Estrangeiros que não é da Defesa porque Marcelo o recusou.
Marcelo também quis dar um sinal e numa das passagens do seu discurso disse que “era preciso cuidar da árvore, cortando os ramos mortos”. Não quis explicar, mas deixou outro sinal: este governo tem partes mortas que prejudicam Portugal. Não fez simplesmente o discurso da alma lusitana, mas quis deixar implicitamente claro que é preciso mudar ou a árvore definhará. Costa aplaudiu, Galamba não se mexeu. Outro sinal: está zangado por ser um proscrito para o Presidente da República. Ou talvez estivesse zangado porque o “Povo” o assobiou. Outro sinal: somos um País insatisfeito com quase tudo, mas mudar “está quieto”. Sempre fomos avessos à mudança e quando o fazemos, normalmente, é à última hora quase sem alternativas ou tempo. É o fado lusitano.
Mas, houve mais sinais. Alguns professores quiseram marcar presença e recordar as reivindicações dos seis anos e pico de tempo de serviço perdido, pelo congelamento de carreiras no tempo da Troika. Tinham e continuam a ter razão em vários dos seus protestos, desde o modo como se “estupidificou” a exigência e o rigor no ensino, a burocracia ou os contratos “eternos”, mas este protesto do tempo congelado tem muito pouca razão de ser. O dinheiro do Estado não estica e o argumento “de que há dinheiro para tudo, para a TAP, para os bancos, etc.” é demagógico e populista, mesmo sabendo que o “nosso” dinheiro é realmente muito mal gerido. Mas, Costa esteve muito mal no modo como protestou contra os protestos, demonstrando falta de paciência e falta de sentido democrático. Chamou os manifestantes de racistas. Outro sinal: o Primeiro-Ministro está a ficar farto e desgastado. Como o povo está farto do Galamba ou como o Marcelo está farto do Governo. Está tudo farto.
O Dia de Portugal de 2023 caracterizou bem a vida dos portugueses. A inflação já baixa, mas os teóricos dos bancos centrais europeus carregam nos juros, asfixiam as famílias que já estavam asfixiadas com impostos directos e indirectos, conduzindo a economia ao trapo que se adivinha em 2024. Tudo isto num País governado assim. Sem rasgo, sem paciência, com recados implícitos entre as duas maiores figuras do Estado que, se aturam, mas nunca arriscam.
Não sei se isto é um sinal ou é uma sina, mas temo que seja simplesmente o que nos resta.
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