Durante alguns dias, muitos políticos da nossa praça, incluindo António Costa e José Sócrates, esforçaram-se por criticar a intervenção pública do Professor Cavaco Silva sobre a actividade do Governo. Muito dura, mas infelizmente realista.
Conheço pessoalmente o Professor Cavaco Silva e nutro por ele admiração política e pessoal. Recuem décadas, antes do tempo em que ele ganhou duas maiorias absolutas, e vejam o que era a banca, o que era a comunicação social, o estado das contas públicas, o crescimento económico daqueles anos, analisem as várias reformas que foram feitas. Havia um plano para Portugal. A Autoeuropa veio para Portugal ajudar a mudar algum do tecido empresarial nacional. Aquela década prometia um outro Portugal. É certo que algumas reformas vieram com o empurrão da Comunidade Económica Europeia (CEE), mas sempre contra as vozes dos que nunca querem mudar, Cavaco liderou mudanças estruturais em Portugal.
É certo que se lhe colaram alguns preconceitos de que foi o autor da degradação da frota de pesca ou da agricultura portuguesa, mas isso são histórias mal contadas, desenquadradas e repetidas para parecerem ter alguma verdade. Depois dele, veio o Guterres, o pântano, ao qual se seguiu um governo “rápido” de Durão Barroso/Santana Lopes (2002-2005) e, finalmente, os dois famosos governos de Sócrates. Depois, já estamos em 2011, veio a Troika e o esforço titânico de Passos Coelho. A seguir, vieram os governos da geringonça e do PS.
Cá estamos de regresso à casa da partida. 2023. É importante ter memória antes de sair a criticar como se se tratasse de um combate ou comentário futebolístico. Uma coisa é certa ou, pelo menos, é a minha opinião – Cavaco quando fala, todos o ouvem e muitos ficam nervosos. Talvez seja isto, o verdadeiro poder da palavra. E talvez ele faça pensar as pessoas que decidem e que têm o poder de governar. Talvez os faça reflectir e pensar no modo como poderão ajudar a melhorar Portugal e a vida dos Portugueses. Já pouca gente tem alguma esperança de que isso ainda possa acontecer. As contas públicas ajudarão a um período de distribuição que provavelmente vai seguir a lógica anacrónica de dar uns subsídios a quem mais precisa e uns aumentos à função pública. Não é mau, dirão alguns. Será com certeza muito menos do que Portugal precisa. Estruturalmente nada mudará porque percebe-se que a política partidária é mais importante do que a política que deveria contar.
O Professor Cavaco carregou nas tintas. Pensem comigo. Ele já não precisa disto para nada, mas importa-lhe a vida do País. Chamaram-lhe ressabiado entre outros nomes. Os mesmos que adoravam ver o Dr. Mário Soares bater fortemente no governo do próprio Cavaco ou, mais recentemente, no de Pedro Passos Coelho. Nessa altura, ninguém identificou falta de sentido de Estado a Soares que tinha sido também Presidente da República. Era do mesmo “clube”. E talvez esse seja o principal problema de quem nos governa. Parece um “clube”!
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