9 de Dezembro de 2023 | Quinzenário Regional | Diário Online
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JOSÉ PEDRO VICTORINO HENRIQUES *

Sistema bancário em cheque? Perspectivas para a economia

19 de Maio 2023

A entrada no segundo trimestre de 2023 demonstrou ser particularmente atribulada para a economia mundial, em particular, para os sectores bancários europeu e norte-americano.

As dificuldades para o sector bancário estão relacionadas com a falência do Silicon Valley Bank (SVB), banco associado ao apoio de start-ups ligadas às áreas da tecnologia, inovação e de saúde. Segundo Joseph E. Stiglitz (Nobel da Economia em 2001), o Sistema de Reserva Federal dos Estados Unidos (FED) e o Banco Central Europeu (BCE) foram impulsionadores da falência do SBV na medida em que o aumento acelerado das taxas de juro, com o intuito de combate à inflação, se tornou nocivo para a carteira de activos do banco norte americano. O mau crédito (crédito associado ao pagamento de algo que é dispensável, ou seja, fora do orçamento familiar, como por exemplo, bens de luxo) não parece ser a personagem principal deste episódio, mas sim, as alterações constantes e aceleradas na estrutura das taxas de juro, relembrando que por um período de tempo considerável, as taxas de juro apresentaram valores muito próximos de zero. A venda das obrigações de longo prazo do tesouro norte-americano abaixo do preço, com intuito de garantir liquidez imediata não foi suficiente para eliminar as falhas de capital aquando da corrida aos depósitos. Por conseguinte, a sustentabilidade do banco ficou deveras comprometida, levando a que as autoridades norte-americanas agissem com o objectivo de assegurar a protecção da totalidade dos depósitos.

A fraca supervisão dos bancos mais pequenos, denominados bancos regionais, agravou a situação do Sistema Bancário dos Estados Unidos da América e, em consequência, os riscos para os bancos europeus e nacionais. Acompanhando esta tendência, o mercado de acções teve igualmente quebras de valor, representando, desta forma, a dependência do Sistema bancário europeu do norte-americano. Mais recentemente, a vaga de levantamentos bancários colocou em cheque(mate) outros três bancos, o Signature Bank, o Silvergate Bank e o First Republic.

A recente falência de bancos regionais nos Estados Unidos da América foi indiferente para o BCE quanto a uma tomada de decisão sobre a reavaliação das subidas das taxas de juro. Já o crescente valor referente às prestações de crédito às famílias e a possibilidade de uma recessão foram os riscos aceites pelo BCE.

Na Europa, o Credit Suisse reuniu resultados negativos pelo quinto trimestre consecutivo (associados a falhas na análise de risco por parte do banco suíço) e apenas evitou uma situação de bailout (bancarrota sem solução de resgate público) devido à intervenção do maior banco suíço, o UBS.

Em Portugal, ainda nenhum banco revelou inquietação e descartou-se, numa primeira fase, qualquer impacto directo decorrente da falência dos bancos americanos, seja no sector bancário, seja no contexto empresarial.

Existe, porém, um leque de ameaças para as empresas, caso todo o cenário se desenvolva de forma ainda mais negativa e se alastre para território europeu. A diminuição da rendibilidade dos activos das organizações e a redução do nível de endividamento oriundo de choques na oferta de crédito, neste período, são alguns dos perigos que o tecido empresarial poderá ter de enfrentar. De destacar que, à semelhança da crise de 2008, as empresas de menor dimensão serão aquelas que sentirão mais dificuldades em enfrentar os desafios.

Em suma, afirmar que a falência dos bancos norte-americanos não afecta, directa ou indirectamente, o desempenho do sistema bancário europeu e nacional é arriscado, tal como se comprovou no cenário da crise bancária de 2008. Um caso isolado, como o do SVB pode não ter implicações para a economia portuguesa e para as empresas nacionais, todavia, a replicação destes fenómenos por mais bancos já poderá ser nociva.

* Licenciado em Economia, Mestre em Gestão pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Membro da Ordem dos Economistas.


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