A Câmara de Condeixa vai proceder à inventariação do património azulejar existente no concelho, num trabalho que será liderado por Cláudia Emanuel, uma técnica da área já com intervenções do género em diversos outros municípios.
“A necessidade de inventariação dos imóveis com azulejos prende-se com o facto de só dessa forma ser possível ter a noção exacta de quantos existem com estes elementos e ligações entre eles, mas sobretudo ser uma mais-valia para a sua valorização e salvaguarda”, realça a doutorada em Estudos do Património, sublinhando que “promover os azulejos irá facultar a criação de pontos de interesse de visita a nível turístico” e criar iniciativas que os fomentem.
Cláudia Emanuel explica ao TERRAS DE SICÓ que, a partir deste mês e durante cerca de meio ano, “todo o concelho será palmilhado, rua a rua, casa a casa”. As casas com tais adereços exteriores serão georreferenciadas e fotografadas, com o pormenor dos azulejos, para que no final seja feita a referida catalogação e possam avançar eventuais acções de conservação e promoção.
Para a conservadora de património na área da azulejaria, o concelho de Condeixa “é um espaço privilegiado de análise, tendo em nota a raridade de estudos deste tipo, a que acresce o gradual desaparecimento do quadro de referências, que faz avivar a necessidade de dar contributos para a preservação destas arquitecturas e respectivos elementos azulejares que quotidianamente nos rodeiam”.
“Urge salvaguardá-los, de modo a ser possível transmitir às gerações futuras o nosso passado. O conhecimento é um contributo fulcral para a conservação. Conservamos o que conhecemos e porque atribuímos valores substantivos e relevantes aos objectos ou saberes que herdamos”, defende Cláudia Emanuel.
Depois de anos confinados o seu uso às cozinhas e casas de banho, o azulejo, agora industrial, ganha novo alento nas décadas de 70 e 80 do século passado, ao decorar interiores e exteriores, trazendo de novo brilho e cor. Paralelamente às fachadas dos imóveis acrescem os fontenários revestidos a azulejos, os muros, as alminhas, registos de santos, entre outros locais.
Com o trabalho que será executado nos próximos meses será possível apurar quais os espécimes azulejares existentes, em que estado de conservação se encontram, quais os padrões em uso, bem como as técnicas de produção utilizadas.
Cláudia Emanuel é licenciada em Pintura e em Cerâmica pela Escola Universitária das Artes de Coimbra; mestre em Património Artístico e Conservação, pela Universidade Portucalense, com uma dissertação subordinada ao tema “Artes decorativas nas fachadas da arquitectura bairradina. Azulejos e fingidos (1850-1950)”; e doutorada pela Universidade Católica Portuguesa, em Estudos do Património. A técnica, que foi conservadora de património, de 2013 até 2017, e investigadora do CITAR/Universidade Católica Portuguesa de 2010 a 2021, faz consultoria na área da azulejaria desde 2008, desenvolvendo trabalhos de inventariação de património in situ, estudo e inventariação de colecções museológicas, consultadoria científica, elaboração de conteúdos científicos na área do turismo cultural.
O património azulejar português está protegido pela lei, sem precisar de ser classificado, que interdita a demolição ou remoção das fachadas com azulejos, possíveis apenas com autorização de técnicos das autarquias e no caso de não constituírem qualquer valor.
Com o objectivo de reconhecer a tradição e o património existente, e projectando a sua importância, desde 2017 que a 6 de Maio (amanhã) se assinala o Dia Nacional do Azulejo, ocasião de evocação da sua protecção e preservação.
[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]
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