E assim entramos nos quase 50 anos após o 25 de Abril. É certo que lemos Aquilino Ribeiro, Eça de Queiroz ou Antero de Quental, e muitos dos problemas da sociedade portuguesa contemporânea já lá estão bem caracterizados. A falta de coragem de mudar, o comodismo dos políticos, os pequenos círculos de influência e o distanciamento entre a “bolha” política e a vida real das pessoas. Apesar disso, depois de várias décadas de um regime opressivo e ditatorial, Portugal fez o seu percurso em democracia, com os indicadores de esperança de vida e de educação, a serem expoentes maiores das políticas públicas nestes 50 anos.
Claro que Portugal evoluiu em vários domínios, desde as suas infra-estruturas físicas até às políticas sociais, sobretudo após a entrada na União Europeia (1996), ainda com indicadores de crescimento económico muito positivos na década de 90. Desde a entrada na moeda única (2002), as variáveis macroeconómicas mudaram e realmente a economia abrandou, apesar dos vários quadros comunitários europeus. Hoje, somos um País diferente com vários problemas endémicos inalterados. Somos, segundo dados da FMI, a 13.ª economia mais lenta do mundo, numa Europa cuja velocidade de reacção, quando compara com outros blocos regionais, é muito reduzida e que, desde o ano passado, está mergulhada novamente numa guerra. Os portugueses têm das auto-estradas mais caras da Europa, pagam os automóveis mais caros da Europa, têm uma carga fiscal excessiva que tira dinâmica à economia e alimenta um Estado demasiado pesado, burocrático e que, de uma forma geral, presta mau serviço público, para além de terem um dos salários médios mais baixos da União Europeia.
Apesar da geração mais jovem ser qualificada, o mercado de trabalho ainda tem uma “multidão” de pessoas com baixas qualificações, num mercado laboral engessado, para além da estrutura económica ser assente em micro e pequenas empresas, com pouca massa crítica. As autarquias, que nas primeiras décadas foram essenciais no equilíbrio territorial do País, vão encontrando dificuldades em ser eficientes num mundo novo e onde os serviços ganham novas exigências. Sobre a consciência política, os jovens dão como certa a liberdade de expressão, a tolerância e a democracia enquanto regime em que o povo é quem escolhe os cargos de soberania, mas notam-se sinais de desgaste muito preocupantes. A abstenção tem aumentado gradualmente para níveis maioritários, as pessoas começam a achar que os políticos são todos iguais e, devido à degradação da sua qualidade, estamos a entrar num ciclo vicioso com dois lados: o afastamento dos cidadãos e a diminuição da qualidade dos eleitos, levando perigosamente o regime para um nível em que começa a ser desprestigiante assumir um cargo político, seja local ou nacional.
Quase 50 anos depois de termos lutado pela democracia, esta atravessa uma crise existencial que se fundamenta nos problemas de há 100 anos agravada com o advento das redes sociais onde a crítica fácil e destrutiva expõe uma sociedade desiludida e mal-educada. Para onde iremos? Pelo que vamos assistindo, na lógica da perpetuação do poder como principal objectivo político, iremos por um caminho muito estreito com muito pouca luz.
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