Era uma vez um grilo que, sentado na sua cadeira de praia junto à janela e perninha ao sol, cantava uma linda melodia aprendida com o pai que, também ele, se sentava na mesma cadeira à janela com as peninhas ao sol.
Que delícia aquele sol de Verão, que aquecia a perna ao grilo e também o seu coração.
Tão entretido estava que não viu uma formiga que passou. Ia à procura de grãos para o seu celeiro. Não fazia mais nada esta formiga: arrecadar comida!
Não queria distrair-se com o grilo. Não? Humm. Não sei!
Enquanto o grilo canta a sua deliciosa melodia, que é sempre igual, a formiga já de regresso a casa, carregada com um grão de milho que encontrou. Ia tão carregada que precisou de descansar. Poisou o grão. O grilo entabulou conversa:
– Oh! Comadre. Vai tão carregada!
A formiga, tomou fôlego e respondeu
– Pois é compadre grilo, se não levo comida, no Inverno não tenho que comer.
O grilo parou de cantar e disse:
– Pois eu passo o Verão a cantar. Sempre vai havendo, por aí, alguma coisa que me mate a fome no Inverno.
A formiga pegou, de novo, no grão e foi embora.
O grilo ficou a pensar. Levantou-se, esticou uma perna, depois a outra, fez uma ou duas flexões e foi dar uma volta.
Encontrou uma lagartixa.
– Olha lá lagartixa, tu carregas comida para tua casa, para comeres no Inverno? Não tens fome?
A lagartixa disse-lhe que ia apanhando umas larvas e uns caracóis. Isso havia sempre. Mas que, mesmo assim, passava muita fome. No entanto, não dispensava uma tarde ao sol. Esticada. Esticadinha!
O grilo abanou a cabeça como a concordar, mas foi seguindo a sua caminhada.
Encontrou um gafanhoto.
Disse o grilo: Que giro! Tens um corpito esguio e as pernas bem grandes. O que comes no Inverno?
O grilo deu uma gargalhada e nem esperou pela resposta. Foi andando mais um pouco. Pendurou-se num galho de árvore e pôs-se a cantar. Pensou: que lindo o meu canto!
Já vi a formiga, a lagartixa e o gafanhoto. Estavam tão tristes. Afinal o meu canto consegue alegrar os meus amigos.
Os campos eram tão tristes se não fosse eu! Sem a formiga não se armazenava comida. Sem a lagartixa e o gafanhoto não havia cor nos campos. Não sou tão inútil como cheguei a pensar.
Voltou a casa. Pôs-se de novo a cantar, mas desta vez, viu a formiguita e disse-lhe:
– Eh lá, oh giraça! Espera aí. Quero falar contigo.
– Tu só sabes cantar, retorquiu a formiga, mas o teu canto alegra-me e torna a minha carga bem mais leve.
– Fiquei a pensar na carga que levas. É bem maior que tu! Espera. Eu ajudo-te.
E assim foi. O grilo começou a ajudar a amiga.
Primeiro, alegrava a formiga e os campos com o seu canto. Depois ajudando a formiga a levar a carga para o celeiro. A formiga assim animada com o canto do grilo trabalhava mais, sempre com a ajuda do seu amigo.
Um dia, para compensar a ajuda do grilo, convidou-o para um chá na sua toca. Apanhou uma ervas próprias para fazer chá.
Foi uma tarde bem passada para os dois. Beberam chá, comeram bolachas que o grilo levou e conversaram muito à volta da mesa e de perna traçada.
É que enquanto a formiga, a lagartixa e o gafanhoto dão cor à natureza, o grilo compensa-os com o canto bem afinado.
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