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PAULO JÚLIO

Portugal à distância!

3 de Março 2023

Em Portugal, as confusões sucedem-se. A mais recente é o “anúncio experimental” da nova política de habitação. Depois de anos a “deixar correr o marfim”, o Governo pressionado com os indicadores de inflação e as elevadas taxas de juro, apresentou a “mata-cavalos” um conjunto de regras que só serve para criar ruído, desviar atenções mediáticas sobre o “eventual” caso que pode perturbar o Ministro das Finanças e para deixar claro que não tem nenhuma estratégia estrutural para Portugal. Ver uma Ministra que já era detentora do pelouro da habitação, enquanto Secretária de Estado, completamente perdida, em directo para o País, numa entrevista muito bem preparada, foi confrangedor para ela e arrepiante para todos nós. Colocar em discussão pública um “power-point” de desejos com base em muito poucos dados concretos, é terrível e revelador de como se governa.

Esta semana estou em Cabo Verde a trabalhar porque temos aqui uma fábrica com cerca de 200 pessoas e observo o ambiente. Na Ilha de São Vicente, cidade do Mindelo, vivem cerca de 70.000 pessoas que se misturam com alguns estrangeiros de meia-idade provenientes sobretudo de França e da Holanda. Vêm para descansar, fazer passeios pedestres e gozam de uma paz que decorre da insularidade. Aqui tudo tem o seu tempo.

As pessoas são educadas, há segurança e a cidade é limpa. As oportunidades de trabalho, para além de alguns serviços privados e públicos, limitam-se a algumas fábricas (poucas) ligadas a têxtil e calçado (portuguesas) e outra ligada ao processamento de peixe que pertence a um grupo espanhol. Aqui na fábrica, o desafio é a organização e a produtividade, bem como criar um ambiente que nos permita criar a cultura organizacional que temos nas fábricas de Portugal. As pessoas querem aprender e evoluir. A assiduidade é maior do que em Portugal. Aqui, apesar das menores condições sociais e de transporte, as pessoas faltam menos. Dizem que precisam do trabalho e que o custo de vida não é baixo. Ninguém vem de automóvel para a fábrica, utilizam transportes públicos. Têm praia e um mar de água com temperatura agradável, ambicionam saúde, paz e trabalho, o que não significa que não reivindiquem os seus direitos, desde logo, porque os sindicatos têm uma presença forte.

As instituições públicas são “gémeas” das portuguesas e preocupam-se com o funcionamento das empresas. Talvez por serem muito poucas. Talvez porque sabem que sem empresas, não se cria riqueza. Porque o Estado tem poucos recursos. Volto a pensar em Portugal onde o Estado também não tem muitos recursos, mas tem tiques de rico. Penso ainda mais e concluo que os ditos tiques nos custam uma barbaridade de dinheiro que se, parte dele, estivesse na economia, criaria muito mais riqueza. Mas, não deverá ser possível.

Olhando para o “power-point da habitação”, a dificuldade começa em perceber a regra da oferta e da procura, com dados objectivos e sem suposições. Um quarto sem janela em Lisboa custa 400 €/mês de aluguer. Um apartamento com um quarto não custa menos do que 400-500.000 €. Quem compra? De certeza que ninguém com salários médios portugueses. A especulação reina porque há quem pague, sejam os nómadas digitais, sejam investidores estrangeiros que quando fazem “duas contas”, percebem que a rentabilidade pode ser muito acima da média. Como resolver? Com certeza que não será com o Estado a intrometer-se no mercado. Será que não sabem o que é regulação? Será que não sabem o que é habitação a custos controlados? Será que não percebem que as casas novas que se vão construindo são para um segmento exclusivo e de (quase) luxo.

Como dizia o outro, estudem primeiro e não lancem ideias com base em reuniões de auscultação com os grupos de “interesses” do costume. Levantem e analisem dados e informações.

Entretanto, amanhã é outro dia, aqui no Mindelo.


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