Delphim Miranda, 75 anos, uma vida de experiência feita, abriu o projecto ‘Penela Qual Idade?’ com um espectáculo das suas inseparáveis marionetas, no passado sábado (25), no Espinhal. Não foi ao acaso.
A iniciativa dinamizada pela Companhia da Chanca e pela Casa Família Oliveira Guimarães, em parceria com a Câmara Municipal de Penela, Junta de Freguesia do Espinhal e União de Freguesias de São Miguel, Santa Eufémia e Rabaçal, oferece até Setembro uma variedade de actividades artísticas e culturais que agregam a comunidade através da arte, contribuindo para uma sensibilização transgeracional, sobre o que é envelhecer activamente. E nesse aspecto o marionetista lisboeta é um belo exemplo.
“É com tempo que devemos olhar para o envelhecimento, como e porquê, e discutir e debruçarmo-nos sobre ele. Não só quem já está nessa fase, mas também quem irá lá chegar””, refere André Louro, da Companhia da Chanca, sedeada naquela pequena aldeia junto ao Rabaçal.
Exposições, espectáculos, mesas redondas e oficinas compõem o programa que aborda o envelhecimento activo nas áreas da cidadania, educação, arte e saúde.
‘Penela Qual Idade?’ é um “projecto agregador de todas as faixas etárias da sociedade de reflexão em conjunto, para que os mais novos também possam aprender como será esse processo e como o poderão viver da melhor maneira”, salienta ao TERRAS DE SICÓ Catarina Santana, da mesma companhia teatral promotora das acções.
O programa que decorre ao longo de quatro fins-de-semana integra espectáculos abertos ao público de todas as idades e nos lares residenciais para pessoas mais velhas, bem como uma criação comunitária, em Setembro, “para a qual todos estão convidados a participar”.
As atenções da Companhia da Chanca para com a ‘idade maior’ não são de agora. “Quando chegámos a este território, há cerca de 10 anos, vindos de Lisboa, olhámos para o contexto que estava à nossa volta e vimos que tinha uma população muito envelhecida. O nosso primeiro espectáculo ‘Sítio’ dedicou-se desde logo a essa temática, que continuamos a trabalhar numa perspectiva integradora”, realça Catarina Santana.
Uma candidatura, com êxito, ao Programa de Apoio em Parceria Arte e Envelhecimento Activo, da Direcção-Geral das Artes e da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, permite financiar o projecto que pretende, através das artes, contribuir para a saúde, bem-estar e qualidade de vida da população idosa.
País envelhecido
“Este é um tema do futuro, pois somos um dos países mais envelhecidos da Europa, o envelhecimento no mundo rural tem as suas características específicas e precisamos de o trabalhar em conjunto, numa perspectiva desdramatizada, divertida e positiva”, sustenta Paula Guimarães, fundadora da Casa Família Oliveira Guimarães, no Espinhal, e uma das responsáveis pela elaboração das acções do projecto que traz ao concelho de Penela “pessoas mais velhas, que continuam activas e que continuam a ser uma referência na sociedade portuguesa”.
Paula Guimarães lamenta que se continue a falar dos idosos como “um peso na sociedade, como um custo para a Segurança Social, fala-se muito dos idosos abandonados nos hospitais”. “É sempre uma carga negativa, quando a maior parte das pessoas mais velhas em Portugal continua activa, continua autónoma, são as maiores aforradoras, as que têm maior capacidade de poupas, são as pessoas que têm mais consciência cívica, as que continuam a votar, e, portanto, constituem uma parte muito interessante da sociedade. Não são um peso, são um investimento e é isso que queremos também transmitir”, sustenta Paula Guimarães.
Para a arte nunca é tarde!
O vasto conjunto de acções do projecto teve início no passado sábado (25), na Casa Família Oliveira Guimarães, com o teatro de marionetas “Foi Há (+) de 40 Anos!”, por Delphim Miranda, e uma mesa-redonda sobre “Cidadania e Envelhecimento Activo”.
Em Abril, António Victorino d’Almeida, com uma vida dedicada à música, é o convidado das sessões no Auditório Municipal de Penela, pelas 21h30, do dia 28, e na Casa Família Oliveira Guimarães, às 16h00, do dia 29.
Igualmente no dia 29, a Casa Família Oliveira Guimarães acolhe uma exposição de obras realizadas pelas alunas e alunos da Universidade Sénior de Penela e uma mesa-redonda, pelas 17h30, sobre “Educação e Envelhecimento Activo”, com a participação de António Victorino d’Almeida, Adriano Félix (professor e investigador da Universidade de Aveiro) e Luís Jacob (presidente executivo da Rede de Universidades Seniores).
No mês de Junho, a 23, pelas 21h30, a Companhia da Chanca leva à cena na Casa da Cultura do Espinhal a sua produção ‘Sítio’, enquanto no dia seguinte, às 17h30, na Casa Família Oliveira Guimarães, decorre a mesa-redonda “Arte e Envelhecimento Activo”, com André Louro (director artístico da Companhia da Chanca), Luísa Pinheiro (presidente da Associação Cabelos Brancos) e Paula Lopes (animadora cultural da Casa de Beneficência Conselheiro Oliveira Guimarães e do CLDS 4G). No mesmo dia é inaugurada a exposição “Velhas Bonitonas”, da autoria de Maria Seruya.
Em Setembro, destaque para a criação comunitária ‘Penela Qual Idade?’, a 23, Casa Família Oliveira Guimarães, e 24 na Praça da República em Penela, aberta a “pessoas da comunidade, residentes nacionais e internacionais, interessadas em contar e/ou ouvir histórias [e] poderão fazê-lo com ou sem palavras, em silêncio ou em música, a solo ou tudo ao molho”.
Ainda no dia 23, pelas 15h30, é inaugurada a exposição ‘Senadores do Espinhal I’, uma mostra de fotografias de retratos de pessoas mais velhas da freguesia do Espinhal, feitas pela fotógrafa Margarida Macedo de Sousa, que além das fotografias tem também os testemunhos dos retratados sobre o seu pensamento crítico relativamente à freguesia e ao concelho. Decorre ainda a partir das 17h15 a mesa-redonda “Saúde e Envelhecimento Activo”.
A programação do projecto compreende ainda três oficinas, que levam arte a instituições locais. A 6 de Maio, na Associação Quinta das Pontes, Delphim Miranda faz uma iniciação às marionetas e execução de marotes; a 24 de Junho, Maria Seruyva e Luísa Pinheiro proporcionam um dinamizam um workshop que pretende “sensibilizar e consciencializar para o processo do envelhecimento através de reflexões e exercícios práticos de desenvolvimento pessoal”; enquanto no dia 26, a Companhia da Chanca, Maria João Serrão e Paul Johnson promovem uma sessão sobre “Teatro Música”, que será ainda tema de uma tertúlia, a 29, na Casa de Beneficência Conselheiro Oliveira Guimarães, no Espinhal.
LUÍS CARLOS MELO
[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]
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