Engenheiro, empresário, presidente da Junta de Freguesia de Albergaria dos Doze, membro da Assembleia Municipal de Pombal, vereador, deputado na Assembleia da República, presidente da direcção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Pombal, passou ainda por cargos directivos na Rádio Clube de Pombal, na Associação de Industriais do Concelho de Pombal, na Associação Recreativa Cultural Desportiva Albergaria (ARCUDA), escreve regularmente na publicação ‘Os Doze’, pai, marido, cidadão interventivo.
Manuel Simões Rodrigues Marques dispensa apresentações, e no alto dos seus 74 anos admite que “toda a participação cívica, ao longo da minha vida, é resultado da minha educação, do meu pai: está-me no ADN”.
Apesar da sua passagem por Coimbra, nos tempos de estudante, e pelo serviço militar no Quartel-General de Tomar, onde cumpriu “com a missão de defender a Pátria”, no Destacamento de Ligação e Reconhecimento das Transmissões, dos Serviços Secretos, Rodrigues Marques é um homem de Albergaria dos Doze, “nascido, criado e vivido”.
A palavra vivido talvez seja a que o melhor o caracteriza, e o “lado interventivo”, aquele que lhe corre nas veias, e fruto dessas vivências, “do meu pai, do meu avô, e da minha família mais directa”, que “não tinha a grande preocupação de fazer fortuna”, e o “foco não era fazer dinheiro, era a vivência”. Aquela que pretende “transmitir às gerações vindouras”, e que acredita ter a “obrigação de transmitir às novas gerações: as vivências do passado e o que se passou”.
Sendo que os “professores universitários têm o saber ‘saber’, e a obrigação de transmitir o conhecimento e a ciência fundamentada, nós, enquanto cidadãos não temos essa obrigação”, mas “temos outras: a de educar”, afirma enquanto explica que “na guerra com os professores, acredito que enquanto o ministério se chamar Ministério da Educação não vamos a lado nenhum, porque a educação devia ser dada em casa, com o saber ‘ser’, o saber ‘ouvir’ e o saber ‘estar’”. Já nas “escolas devem ensinar o saber ‘saber’, o saber ‘fazer’ e o saber ‘ler, escrever e falar’”. Assim, Rodrigues Marques acredita que “enquanto o Ministério da Educação quiser educar está tudo ‘de pernas para o ar’, porque os professores devem ensinar e não educar”.
O empresário sustenta as suas afirmações com a “forma como educamos os nossos filhos”, que deve “basear-se nas vivências que temos”, sendo “nossa obrigação transmitir aquilo que sabemos, bem ou mal”, e entende que “agora é o Dr. Google que manda, e os jovens não querem saber do que os pais dizem: pegam no telemóvel, ou no computador, e é lá que estão as respostas, como se os pais, com as suas vivências não, soubessem nada”, lamenta.
“Viver com verticalidade”, é um lema de vida. O que “significa que os cães não me mordem as canelas”, ou melhor, “até podem ladrar, mas morder não”. Até porque “não sou de me calar”. Ainda assim, admite que “na vida temos dois tipos de pessoas: os adversários e os inimigos”, e daí, “os adversários sabemos quem são e cabe-nos defender deles, já os inimigos são um sarilho porque não jogam limpo”. E o cerne da questão está aí, “estar de olho para perceber quem é o adversário e quem é o inimigo”, brinca.
Para o engenheiro, “outra das situações que faz a diferença entre o Ser Humano, é que há pessoas que passam pela vida, que labutam, que nunca estão satisfeitos, que lutam e que fazem acontecer, e há outros em que a vida passa por eles, nascem, vivem, morrem e deixam pouco”. Rodrigues Marques, prefere ser dos “que passa pela vida, que vive e quer deixar a sua marca”, ainda que “não tenha aspirações a nada”. Sente apenas que “tenho a obrigação de transmitir a vivência”.
E se a vida do ex-deputado é feita de vivência, também o é de “trabalho em prol da comunidade”, com uma “participação cívica muito intensa”. O interesse foi-lhe incutido no seio familiar, “o meu pai também foi presidente de Junta, e até esteve envolvido na construção da secção dos Bombeiros de Albergaria”.
Para além de ter ocupado a cadeira do poder durante 12 anos na Junta de Freguesia de Albergaria dos Doze, Manuel Rodrigues Marques, participou da Assembleia Municipal de Pombal e fez-se vereador, um tempo que lhe deixa boas recordações, até porque “as Câmaras, tal como as juntas de freguesia, ainda que em níveis diferentes, são Estado de proximidade, são órgãos do Estado, mas que estão muito próximos das pessoas e portanto têm um diálogo permanente com os cidadãos, ou pelo menos é assim que devem ser”, ainda que “dependa muito de quem ocupa os cargos”. Em primeira instância “trabalhar com as pessoas e para as pessoas”, talvez por isso “sempre me senti muito bem nos cargos que ocupei”.
Já na passagem pela Assembleia da República, “dei-me muito mal”. Estava “habituado a tomar decisões e a participar activamente”, e por ali “é uma guerra ao contrário, onde os generais é que estão na linha da frente de batalha e nós estávamos atrás a bater palmas”, lamenta, enquanto explica que “nas comissões de trabalho era diferente”, um espaço onde “nos sentíamos bem e onde me sentia realizado, porque tínhamos de apresentar ideias, fazer relatórios e mostrar trabalho”. Já no Plenário, “quando precisava de divulgar uma iniciativa era sempre uma chatice porque nunca havia tempo”, ou o tempo estava contado: “tens dois minutos, tens cinco minutos…”, o que “acabava por não ser estimulante”.
Interventivo por natureza, e sempre com uma opinião pronta a dar, o ex-vereador da Câmara Municipal de Pombal, assume que o território tem um “bom potencial”, que lamenta não estar “devidamente aproveitado”, e divide o “concelho, nos seus 640km2 em três partes: a parte central que engloba apenas a cidade de Pombal, onde está um quarto do eleitorado, a zona Oeste, que tem boas acessibilidades, terrenos aráveis e que tem todas as condições para se desenvolver, e depois temos o ‘resto’, a zona de Abiul, Vila Cã, Albergaria, Vermoil… que não tem acessibilidades dignas” e por isso “apresenta muito mais dificuldades em se desenvolver”.
Dando o exemplo de Albergaria dos Doze, “a minha terra”, onde “temos grandes indústrias, que precisam de escoar os seus produtos e que não têm acessibilidades que permitam um bom escoamento das mercadorias”, lastima. E quando lhe perguntam “Como é que vocês, que não têm estradas, têm indústrias?”, responde que por ali, “os empresários são resilientes e acreditam”. Acreditam que as ideias vão passar do papel e tornar-se uma realidade, porque “as ligações estão planeadas, com a ligação do IC8 ao nó da A1, em Barracão/Meirinhas, só que ainda não há ligação ao Itinerário Complementar 8, nem existe nó da auto-estrada nas Meirinhas”, sem esquecer a “importância da ferrovia, que foi um grande impulsionador da região e que acabaram com ela”, situação “que eu próprio, no meu tempo, infelizmente também não consegui resolver”, reitera.
Para além de todos os cargos que ocupou, e ocupa, o empresário foi candidato â Câmara Municipal de Pombal, “em 1989”, saiu derrotado e “entendi, na altura que quando não se consegue derrotar o adversário não vale a pena insistir”. Quatro anos depois, “em 1992, convidei o Narciso Mota a encabeçar a lista pelo Partido Social Democrata”, durante “seis meses andei a ‘vendê-lo’ pelo concelho”, e foi “uma boa venda”. Afinal, “o Narciso deixou uma marca indelével em Pombal. É uma boa pessoa, uma pessoa humilde, simples e honesta”.
Casado há mais de 40 anos com Teresa Guapo, “quando me perguntam como é que nos entendemos há tantos anos, digo sempre que o segredo é a capacidade de surpreender, de forma a manter acesa a vela da relação”, caso contrário “a vida é chocha”.
Com um sentido de humor cáustico e um sorriso de ‘menino’, Rodrigues Marques admite ter “um problema entre mãos, e que diz respeito à Associação de Industriais do Concelho de Pombal, onde sou presidente da mesa da Assembleia Geral”. Depois de “termos ficado sem património, devido a um processo judicial, é preciso dar a volta a isto”, até porque “a Associação está a funcionar e tem um nome a defender”. Por agora “precisamos de arranjar corpos sociais, e enquanto a situação não ficar totalmente clarificada é muito difícil arranjar pessoas interessadas” em levar o barco a bom porto, sendo que “este tipo de organizações, se forem bem geridas, são muito úteis e fundamentais para o desenvolvimento das indústrias e dos territórios”.
Diz “nunca ter feito nada na vida”, diz que a sua “função ao longo da vida foi sempre colocar os outros a trabalhar, e bem: para mim e para a sociedade, para criar riqueza para o país”. Diz também nunca ter “trabalhado para criar riqueza pessoal”. A sua “prioridade sempre foi viver: viver bem, viver intensamente”.
ANA LAURA DUARTE
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