História, tradição, património, costumes, paisagens, produtos endógenos e muitas pessoas, foram os ingredientes seleccionados para uma “intensa e saborosa receita”, carinhosamente apelidada de Feira dos Pinhões, que se realizou no último fim-de-semana de Janeiro, em Ansião.
O certame regressou ao seu formato tradicional, depois de dois anos em que o evento se realizou com muitas restrições devido à pandemia. Antes das ruas da vila se encherem com visitantes, comerciantes e produtores de Sicó, o evento arrancou, de forma simbólica na aldeia da Constantina, onde nos seus primórdios, “há mais de 300 anos, pelo menos há 323”, ganhou forma, uma vez que “as primeiras feiras francas atribuídas ao nosso território deram à Constantina uma notoriedade importante”, destaca António José Domingues, presidente da Câmara Municipal de Ansião.
Desta forma, e como este ano a Confraria de Nossa Senhora da Paz celebra 400 anos de existência, a autarquia decidiu estabelecer uma ligação entre as origens e a actualidade do certame, valorizando a Confraria, que “ainda hoje sobrevive, graças ao esforço abnegado dos seus confrades”.
O autarca ansianense aproveitou a presença do presidente da Entidade Regional Turismo Centro de Portugal, na sessão solene de abertura da Feira dos Pinhões, para demonstrar que o concelho “está acometido um grande desafio: o de mostrar a sua atractividade, as condições de excelência em termos paisagísticos, de qualidade de vida, da oferta de produtos de lazer, da gastronomia e de oportunidades para investimentos que produzam riqueza e fixem pessoas”.
Para António José Domingues, “este é o ‘produto’ que queremos promover e que tão comumente fala quando descreve as potencialidades da região centro”. Assim, o governante admite que “há um princípio que em democracia não podemos esquecer que é o da solidariedade e da coesão”, sendo “esta a visão estratégica que o poder central tem que ter na elaboração de políticas públicas que promovam e defendam a coesão territorial”, destacando, também, o “papel importante” da Comissão Directiva do Programa Operacional do Centro “na administração e gestão dos fundos comunitários, para a construção dos equilíbrios na aplicação dos investimentos que prossigam o desenvolvimento e a coesão dos territórios, destes territórios”.
“Precisamos muito da vossa ajuda”
Por sua vez, João Freire, presidente da Assembleia Geral da Confraria de Nossa Sra. da Paz, aproveitou a ocasião para convidar todos os presentes a visitar “a nossa capela, e para verem o estado em que ela se encontra, porque precisamos realmente muito da vossa ajuda, muito”, referindo-se à necessidade de realizar obras profundas de recuperação do espaço. O confrade desafiou os responsáveis a atestar o “estado em que está e a riqueza que temos, e pode ser que cheguem à conclusão de que tem que ser feito alguma coisa”, frisou. Durante a visita ao espaço, João Freire revelou que “há um orçamento para a recuperação deste património histórico, que ascende aos 200.000 euros”, e que diz respeito “à recuperação dos altares central e laterais e dos frescos do tecto da Capela”, no entanto “a Confraria não tem capacidade para dar resposta a esta necessidade”, lamentou.
Destacando as características “únicas” do concelho de Ansião, e mais concretamente da aldeia de Constantina, Pedro Machado, presidente da Entidade Regional Turismo Centro de Portugal, aproveitou para revelar que há um “novo luxo” nas tendências de procura dos destinos turísticos, que “não é mais os hotéis de 7 estrelas”. O luxo é as “pessoas terem a oportunidade e a possibilidade de encontrarem algo quase que exclusivo”, onde “existe segurança, tempo e silêncio – e há pessoas que pagam para ter silêncio – e por isso há uma nova oportunidade para os territórios poderem aqui ser mais competitivos e mais atractivos”.
Para Pedro Machado, “em última instância aquilo que um qualquer turista, de qualquer parte do Mundo, procura é uma coisa muito simples e chama-se singularidade”, e que “pode encontrar na Constantina”. No entanto, assume que “temos problemas”, destacando o “despovoamento e a criação de condições para que os investimentos sejam reprodutivos”, sendo “o programa operacional um instrumento que deve servir estas estratégias locais e intermunicipais do desenvolvimento agregado”, porque “temos consciência que nem todos os municípios, nem todas as vilas e nem todas as freguesias podem ter zonas empresariais, ou unidades hoteleiras”, assim “o equilíbrio do território faz-se naturalmente através daquilo que é a capacidade da cooperação em rede”.
“Seguramente que a Capela e a história que o Dr. Manuel Augusto Dias aqui nos contou transforma a Constantina num referencial de uma narrativa que pode e deve ser contada várias vezes em muitos sítios”, frisou. Em jeito de promessa, o responsável pelo Turismo Centro de Portugal, destacou que “em 2022, depois de dois anos de pandemia, Portugal arrecadava em receitas directas 20,8 mil milhões de euros” com o sector. “Talvez por isso, senhor presidente da Confraria, ainda é menos perceptível como é que não vamos conseguir fazer as obras da capela”, rematou.
Finda a manhã ‘à moda antiga’, no largo da capela da Constantina, os visitantes rumaram às principais artérias da vila de Ansião, onde continuou a festa e a centenária feira que tem o pinhão como mote, mas promove também os outros produtos endógenos da região.
ANA LAURA DUARTE
[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]
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