O ano de 2022 revelou ser a sequela de vários episódios trágicos numa escala mundial, tanto para as pessoas como para a economia. A guerra instalada no leste da Europa, entre a Ucrânia e a Rússia, a par com a permanência da pandemia COVID-19 até aos dias actuais (ainda que com uma diminuição evidente dos danos nos mercados), despontaram uma subida dos níveis de inflação. Determinada através do preço dos bens e serviços, a inflação, na Zona Euro, registou níveis a rondar os 10,6%, segundo os dados do Eurostat. Por sua vez, os níveis nacionais não escaparam por muito a essa tendência europeia, registando assim um nível de 10,1%, no primeiro mês do último trimestre. A política monetária expansionista, traduzindo-se num aumento da oferta de dinheiro e consequentemente, desvalorização, acarreta inúmeros riscos para as organizações, entre as quais estão todas as empresas sediadas nos territórios das Terras de Sicó.
O mais evidente será o aumento de custos para as organizações, desde as matérias-primas até aos serviços, como o fornecimento de electricidade ou de combustíveis. O resultado líquido das organizações tenderá a diminuir na grande maioria dos sectores de actividade e em especial para as empresas cujo aumento da parcela de custos (fixos ou varáveis) não se reflecte num possível aumento das vendas de bens ou serviços. Para além disso, para empresas importadoras, o custo de qualquer matéria-prima aumentará derivado do facto de a desvalorização do Euro, representar uma valorização da outra moeda, como por exemplo, o dólar americano (evidenciada no último Verão).
Empresas com empréstimos bancários terão dificuldades acrescidas com o aumento das taxas de juro reais por parte do Banco Central Europeu (BCE). A contenção de consumos por parte das organizações, através de uma nova política monetária (contracionista), num primeiro momento, tende a agravar o desemprenho das empresas, demonstrado, em particular, por alguns rácios económico-financeiros tais como: solvabilidade: o aumento da parcela de capital alheio reduz o resultado do rácio face aos anteriores períodos; endividamento: o crescimento do nível do valor associado aos empréstimos bancários permite o aumento do valor deste rácio.
Os investimentos internacionais também tenderão a reduzir, principalmente, no médio e longo prazo, ameaçando a criação de empregos e, por sua vez, aumentando as taxas de desemprego no país e, por conseguinte, na região das Terras de Sicó.
Com o intuito de atenuar eventuais choques por parte do fenómeno da inflação, as organizações deverão: realizar uma gestão eficiente dos seus stocks, precavendo situações de excesso de matérias-primas ou material que desvalorizará, caso não seja utilizado (derivado da redução de actividade no sector); controlar de forma rigorosa a parcela dos gastos, em particular, dos gastos fixos (despesas cujo valor não varia consoante o nível de actividade) e dos investimentos, principalmente quando é necessário recorrer a empréstimos bancários. rácios de liquidez, como a liquidez geral ou liquidez imediata, deverão ser considerados e analisados dado que traduzem o nível e a facilidade de liquidez da empresa, principalmente em cenários de choque económico.
A tentativa de contenção de gastos por parte do BCE deverá permitir um controlo mais eficiente da inflação, contudo, as dificuldades já estão a ser sentidas por algumas empresas, devendo intensificar-se os seus efeitos na entrada de 2023.
José Pedro Victorino Henriques – Licenciado em Economia e mestre em Gestão pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Membro da Ordem dos Economistas.
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