O ano de 2022 foi realmente um ano de transição. Por isso, vale a pena deixar um registo sobre os assuntos que considero mais importantes.
(1) Depois de dois anos em que a pandemia condicionou a nossa vida, depois de algumas dúvidas e condicionantes no primeiro trimestre, 2022 foi o ano em que todos sentimos um alívio. Finalmente, ainda que de forma gradual, largámos as máscaras, as empresas foram regressando ao seu modo normal de funcionamento e os mais velhos e mais novos puderam voltar a encontrar-se sem receios;
(2) O início do ano foi marcado por eleições legislativas que voltaram a trazer uma maioria absoluta ao partido político que as ganhou. A expectativa foi grande, depois de vários anos condicionados por uma coligação parlamentar que realmente não soube aproveitar os ventos bons de crescimento das principais economias do mundo e se limitou a fazer “coisas fáceis” sem cuidar do futuro. O tempo verbal que associei ao sujeito “expectativa” está no pretérito perfeito porque passados pouco menos de 10 meses da tomada de posse do novo governo de maioria absoluta, percebemos todos que se trata de uma equipa “velha” e sem energia reformista. Talvez ainda haja tempo para mudar alguma coisa, mas os tempos de inflação alta, taxas de juros a aumentar e a retirar poder de compra aos portugueses, a crise energética e (novamente) a economia a retrair-se, serão certamente obstáculos. O que a todos deixa maior tranquilidade, é o défice do Estado que se mantém minimamente controlado, e o facto das instituições europeias possuírem, hoje, mecanismos que impedirão males de maior gravidade.
(3) De forma incrédula, em Fevereiro, assistimos à invasão da Ucrânia provocada pela Rússia, em nome de um passado que milhões de pessoas de vários países do Leste rejeitaram e não querem mais. Mas, esta guerra que ameaça ter maiores proporções é a prova de que existem líderes realmente perigosos. Por outro lado, as políticas externas da União Europeia, lideradas (normalmente) pela Alemanha foram erradas porque tentaram “integrar” Putin, dando vantagens à Rússia, nomeadamente na estratégia energética. Os Ucranianos suportados militarmente pela NATO resistem, mas como em qualquer outra guerra, dezenas de milhares de jovens morrem em combate, dos dois lados, como peões, milhares de pessoas ficam literalmente sem nada, perdem-se vidas humanas, tudo em nome da ganância de alguns Homens. Na sequência, por causa da guerra, em geografias diversas e distantes, milhões de seres humanos sofrem ainda mais e morrem com fome. Este ano 2022 também ficará conhecido como o ano da guerra que expõe dramaticamente o caminho sério que a Humanidade terá de fazer.
(4) Outro acontecimento foi o acto eleitoral para a Presidência do Brasil. É certo que se trata de um acontecimento do outro lado do Atlântico e localizado numa nação da América do Sul, mas suficientemente importante para nos colocarmos no lugar de cada um dos brasileiros que tinham de decidir entre Bolsonaro, um extremista desequilibrado e desajustado sobre o papel global que o Brasil possui, e Lula, um ex-Presidente que esteve associado a um caso gigantesco de corrupção. A democracia está com sinais de cansaço e talvez adoentada. Por causa de todos nós. Por causa das escolhas, pela falta de sentido crítico, pela forma como se desprestigiam os cargos públicos, e pela consequente falta de atractividade desses lugares. Por essas razões, em vários países, o povo elege “extremos” porque, diz, “já não há paciência”. Devemos perguntar, a que preço?
(5) Na dimensão regional, 2022 foi o ano da passagem dos cinco anos após a tragédia dos incêndios de Pedrogão. O que foi feito? O que mudou? Quais foram as políticas consolidadas que marcaram o território, para além da (justa) recuperação das casas e das empresas que arderam? Depois de tantos “pensamentos” e “grupos de trabalho”, de tantas visitas mediáticas, quais são as políticas de mudança? Propositadamente não respondo a nenhuma das questões porque sendo pertinentes, entendo-as também como pilares do que deve ser a actuação política dos líderes locais e regionais. Talvez na lógica da subserviência provinciana, talvez nalguma falta de rasgo político, talvez porque, não aborrecendo as “altas instâncias”, se aproveite melhor algum “resto” de fundos comunitários para a região, talvez simplesmente porque tudo seja uma fatalidade medíocre, qualquer coisa me falha. Fica a reflexão para quem de direito.
(6) 2022 também foi o primeiro ano do novo ciclo autárquico iniciado em Outubro de 2021. Nos municípios de Sicó e seus vizinhos, as eleições trouxeram maioritariamente a continuidade de quem já governava. Em qualquer caso, houve várias mudanças e novas esperanças que se ergueram. Do que me é dado a observar, mesmo onde mudou, a energia de mudança foi ténue ou quase inexistente. Infelizmente, ao que parece, 2022 não foi um ano especial.
E assim termino, desejando a todos os leitores e responsáveis do Jornal TERRAS DE SICÓ, um excelente 2023 e, naturalmente, um Feliz Natal!
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