Todos, independentemente de opiniões mais ou menos estruturadas, precisamos de um Governo concentrado nos assuntos da gestão do Estado em todas as suas dimensões. A tarefa do Primeiro-Ministro (PM) não está nada facilitada, desde logo, pelo excesso de casos mediáticos que vêm a público, com mais ou menos consistência, mais ou menos ética política. O Governo (este segundo governo) tem menos de um ano, mas, realmente, parece estafado e com quase nenhum rasgo. Não falo de políticas públicas, nem das opções que se foram fazendo porque isso é outra matéria. O ponto é o enorme consumo de tempo em discussões internas, em preparação de “defesas públicas” e de entrevistas para explicar os “casos”.
Há aqui um problema estrutural que provoca danos estruturais a Portugal, num Governo que tem maioria absoluta conferida pelo povo português há pouco tempo, mas que não está a saber aproveitar essa oportunidade que, em quase 50 anos de democracia, foi experimentada duas vezes com Cavaco Silva e uma vez por José Sócrates, sem necessidade de nenhuma coligação partidária. Essa estabilidade está a afundar o PS que, por sua vez, contamina o seio do Governo. Porque à mistura, identificam-se “tiques” de poder absoluto.
Um bom exemplo, é a nomeação de um jovem recém-licenciado de 21 anos para adjunto da Ministra da Presidência (número 2 do Governo!) Mariana Silva (gosto de colocar só o primeiro e o último nome, apesar da linhagem política). Quais são os sinais que se passam com este tipo de nomeação? A Ministra pode fazê-lo legalmente e não está minimamente preocupada com o que a sociedade portuguesa possa pensar de nomear uma pessoa para o seu gabinete que nunca trabalhou, é recém-licenciada e, portanto, pouco acrescentará, independentemente da sua boa vontade. O valor do esforço e do trabalho que deve ser passado aos jovens para poderem progredir na sua vida fica ferido de morte porque os jovens vão olhar para o caso e pensar “onde está a justiça?”, “este país não é realmente igual para todos”, entre outras discussões que minam a credibilidade e a confiança no sistema político, degradando-o progressivamente.
Para onde caminhamos e que massa crítica é que tem o nosso sistema político para colocar ordem nestes vários problemas? Qual é o papel do Presidente da República (PR), num momento em que há uma clara degradação da imagem das instituições? Estas várias questões dever-se-ão colocar, de modo a perceber em que condições chegará Portugal ao final desta legislatura. Tudo isto acontece, a cada dia, num momento em que a inflação está a níveis elevadíssimos com os efeitos nefastos e inevitáveis na vida de todas as pessoas. Precisamos de um Governo que governe com consistência e precisamos de um PM mais forte do que nunca, decidindo de forma a não deixar apodrecer o executivo e as instituições.
Na minha opinião, o Presidente da República deveria exigir uma remodelação estrutural ou demitir o Governo, porque as maiorias absolutas não são absolutas maiorias. O próprio PM sabe disto e tem de esquecer o “aparelho” e tomar decisões de Estado. Fora o que pensa estrategicamente para Portugal, tem sido esta sua forma de estar no cargo de PM que não tem correspondido à dimensão do que lhe é exigido. Se o PM vai mudar com o que vai acontecendo ou se precisa de um safanão do PR e se, por sua vez, este acha que tudo o que se anda a passar degrada profundamente o sistema político, são dúvidas que todos nós, que não estamos na bolha política, veremos desfeitas dentro de pouco tempo. Porque a pressão social vai aumentar muito.
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