Julgo que já escrevi sobre a dialéctica da austeridade. Austeridade é o oposto de prosperidade. O actual governo tem um problema com a palavra “austeridade”, mas na realidade, por razões que tão bem argumenta, neste momento, é necessário ter cautelas e manter firme, como dizem, o objectivo das “contas certas”. E o que são “contas certas” em Portugal? “Contas certas” é manter controlado o défice das contas do Estado Português e esperar que o crescimento da riqueza gerada permita ir reduzindo a gigantesca dívida portuguesa. Por isso, o Governo pratica austeridade, ou seja, não consegue apresentar um orçamento para o próximo ano em que os portugueses prosperem, ou, dito de forma simples, não percam poder de compra. Vão perder. Todos ou quase todos. O que me parece profundamente errado é a narrativa de que não há austeridade, essa palavra “horribilis” com a qual querem selar o Governo do Dr. Pedro Passos Coelho, num tempo em que Portugal tinha sido resgatado financeiramente, precisamente porque o défice era superior a 8% e a dívida pública tinha crescido em demasia. Não conseguimos financiar o Estado com taxas de juro minimamente decentes e, por isso, o Governo socialista de então pediu a ajuda externa. Pediu a entrada da Troika.
Portugal tem, hoje, o seu problema estrutural de sempre, por responsabilidade própria – um problema de desenvolvimento social e económico, cujo ponto de partida é o habitual baixo crescimento que nos vai atirando para a cauda dos países que compõem a União Europeia, e nos deixam longe de sermos um País que seja capaz de fixar os seus jovens talentos. Mas, também tem o problema da inflação que tem impacto na vida de todos os portugueses com uma dimensão perturbadora. Neste ponto, o Governo não tem nenhuma responsabilidade.
Ora, não deixaremos de ter austeridade porque o Governo “diz” que não há austeridade. Seria bom, mas não é possível. Outra coisa é, se com as actuais condições, o orçamento poderia ser muito melhor. Não creio. Estamos, novamente, em emergência, e não há milagres. Outra coisa ainda é se poderíamos, ao fim de seis anos de governo socialista, estar em melhores condições de poder evitar tanta austeridade orçamental. Sim, teria sido possível se tivéssemos sido mais bem governados. O Governo teve de agradar à gerigonça para se manter no poder e não fez o que deveria ter feito, sacrificando os portugueses e o Estado. O recente e mediático exemplo da TAP, cuja maioria do capital era privado e que por ideologia política, o governo socialista nacionalizou, está a custar-nos milhares de milhões de euros, sendo que agora, o mesmo governo socialista quer privatizar, obviamente, com um valor que jamais cobrirá os prejuízos impostos aos contribuintes portugueses. É um pequeno exemplo do modo como se governou Portugal e que mostra como o Governo não tomou medidas e reformas correctas para estar mais bem preparado para enfrentar o actual momento. Em qualquer caso, o que está feito, está, e, agora, é tarde demais para gritar que não há austeridade.
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