Portugal. Um País que evoluiu, quando compara com a realidade de algumas décadas atrás, mas que poderia ser muito melhor. Melhor para os nossos idosos, para os nossos jovens, para as pessoas que vivem do seu trabalho, para as empresas, enfim, melhor para os Portugueses. Não sei se merecemos o que temos, ou se merecemos muito mais ambição e espírito reformista. Não sei sequer se queremos muitas reformas, avaliando o comportamento perante as mudanças.
Se avaliarmos as cerca de cinco décadas de democracia, a primeira foi para nos posicionarmos como país europeu, a segunda década foi sobretudo para investir em várias infra-estruturas, para além da abertura a capitais privados de canais de televisão (sim, há pouco mais de 30 anos, tínhamos dois canais de televisão) e da banca nacional, a terceira década foi a consolidação da nossa maturidade democrática e a entrada na Zona Euro. A partir daqui as nossas ineficiências económicas deixaram de poder ser “tapadas” pela desvalorização do escudo, e, por consequência, vários problemas de competitividade ficaram expostos, provocando uma pequena revolução no nosso tecido empresarial. A quarta década ficou marcada pelo pedido de ajuda externa e pela entrada da Troika. O País foi intervencionado e “obrigado” a cumprir um plano de ajustamento que necessariamente nos retirou produto interno bruto. Num País onde quase todos os decisores políticos tentam passar entre os pingos da chuva, foi doloroso perceber que a alternativa era o Estado entrar em bancarrota e, desse modo, arrastar a economia portuguesa. Essa era a verdadeira alternativa, independentemente da retórica política.
E, assim, chegámos à quinta década de regime democrático que é governada sem “ondas”, cumprindo as regras do défice da divida pública, o que, talvez, não seja pouco, atendendo às várias intervenções externas de que já fomos alvo. Ou talvez seja realmente muito pouco porque temos um Estado que, infelizmente, atrapalha mais do que coopera, seja com empresas, seja com cidadãos.
Um Estado que cobra impostos directos e indirectos que consomem a grande parte dos rendimentos das pessoas. Um País que vive com pouco, em que o salário médio é de cerca de 1.000 €, um País com pouca ambição e que ocupa a maioria do tempo a discutir minudências. Um País que tem um governo de maioria absoluta que é a continuação de outro de maioria relativa, cujo Primeiro-Ministro, mestre na comunicação política, depois de estar há quase sete anos a governar, fala da Saúde, da Educação, da Fiscalidade, da Administração Pública, como se tivesse começado ontem.
Em Portugal discutimos apoios à inflação que valem algumas dezenas de Euros por cidadão e algumas benesses para empresas que, realmente, não vão mudar nada de modo estrutural. Precisávamos de uma ambição e chegamos à conclusão que o que temos é controlo do défice à custa da redução do investimento público e do sacrifício dos cidadãos. Sem ambição, podemos discutir os subsídios todos que não vamos dar às novas gerações um futuro entusiasmante. Hoje, depois da pandemia, vivemos com uma inflação extraordinariamente elevada que nos retira poder de compra e que terá de ser corrigida, desde logo, com o aumento das taxas de juro. Vivemos uma crise energética com a guerra da Ucrânia como pano de fundo, colocando em causa a competitividade das empresas portuguesas cuja ajuda é quase nenhuma quando compara com as congéneres de outros países europeus.
Julgo que a União Europeia saberá contornar algumas destas dificuldades, ajudando as famílias e as empresas, mas, no final, os países pobres continuarão na mesma. Irremediavelmente na mesma. Discutimos os truques do Costa sobre os aumentos das pensões, os 125 € para a maioria dos cidadãos, o IVA da electricidade para os primeiros 100KWh de consumo (um apoio ridículo digno de um país de terceiro mundo) e adiamos tudo o que é importante. Sem fazer ondas. Ou na onda de quem deveria comandar com ambição e responsabilidade.
Com tudo isto, descredibilizam-se os cargos públicos e vamos perdendo esperança. E perdemos força. A força de acreditar que vale a pena trabalhar para reter talentos e criar riqueza, expurgando mediocridade. Pelo contrário, vamos piorando porque não fazemos mudanças estruturantes. A dívida pública poderá e deverá descer, a curto-prazo, mas Portugal continuará a ambicionar “poucochinho” ao sabor de calendários e ambições políticas e eleitorais. Em Portugal discutimos, horas e dias a fio, a árvore, porque não interessa mudar a floresta!
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