A União das Freguesias de Vila Seca e Bendafé, no concelho de Condeixa, vai criar a Rota do Peditório de Nossa Senhora do Pranto, uma ligação entre os vários pontos de interesse patrimonial com relevância para a identidade local, nomeadamente no que diz respeito às diversas alminhas existentes, às capelas e igrejas que marcam presença nas aldeias, assim como as fontes, fontanários e lavadouros. O projecto já obteve financiamento comunitário, no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural, e deve avançar nos próximos meses.

A rota será baseada numa antiga romaria ainda existente, o chamado Peditório da Nossa Senhora do Pranto, percorrendo com a bandeira da santa, no último sábado do mês de Agosto, os lugares da freguesia, passando por vários caminhos rurais, agora alguns inacessíveis, onde nesses trajectos existem diversos monumentos com património histórico ancestral e característico.

Entre os pontos de interesse, o percurso permitirá visitar sítios como as capelas de Bruscos e de Traveira, o cruzeiro de Beiçudo, Casal dos Balaus, o fontanário e lavadouro de Alcouce, a Igreja Matriz de Vila Seca e a pequena capela do Espírito Santo na mesma localidade.

A autarquia liderada por Jorge Almeida vê a iniciativa como “uma mais-valia para toda a freguesia e comunidade local, bem como uma excelente oportunidade de proteger e fortalecer a identidade e cultura de Vila Seca e Bendafé e região envolvente”.

O projecto inclui sinalização com memória descritiva dos vários monumentos históricos inseridos, levando a “um maior enriquecimento, valor e divulgação do património da freguesia”, para além de facilitar a acessibilidade entre as aldeias, divulgar as riquezas patrimoniais locais contribuindo para a atracção turística, e mostrar as vivências e costumes.

O valor de investimento elegível na candidatura aprovada é de perto de 200.000 euros e União das Freguesias de Vila Seca e Bendafé conta com a assessoria técnica da consultora GeoXXI.

Devoção antiga

A devoção de Vila Seca a Nossa Senhora do Pranto, em Dornes, no concelho de Ferreira do Zêzere, distrito de Santarém, é muito antiga, vinda já do século XIX. A ida da bandeira da santa em peregrinação a Dornes acontece no primeiro domingo de Setembro.

No domingo anterior (último de Agosto), decorre a festa com procissão e missa cantada, sendo a bandeira transportada pelo mordomo. Após a festa religiosa, o povo segue em procissão para casa do mordomo e aí testemunha a chamada ‘entrada da bandeira’, num trono enfeitado com toalhas brancas e flores/searas, dependendo do gosto e do critério de cada mordomo.

Até à década de 1990, o peditório, que agora dará origem a uma rota turística, realizava-se na segunda-feira a seguir à festa, passando posteriormente para o sábado anterior a esta, por maior disponibilidade da comunidade, percorrendo Vila Seca, Bruscos, Traveira, Casal de Azenha, Mata, Ribaldo, Beiçudo, Casal Novo, Bendafé, Casal dos Balaus e Alcouce. Curiosamente, Casal de Azenha, Casal Novo e Bendafé, que integram a paróquia, sempre fizeram parte da festa.

A bandeira visita as casas de cada terra pelas mãos do mordomo, familiares ou amigos, recebendo uma pequena oferta monetária para ajudar com as despesas da festa. A última casa visitada é sempre a do mordomo, sendo realizada nova cerimónia de ‘entrada’, com este a oferecer aos presentes vinho, jeropiga, bolos, melão e tremoços.

LUÍS CARLOS MELO

[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]