Depois dos incêndios que devastaram parte do concelho de Alvaiázere no passado mês de Julho, é tempo de fazer um levantamento dos prejuízos materiais, no entanto, outras matérias carecem de atenção redobrada, como é o caso da prática do exercício da caça.
Um pouco por todo o país a caça está interdita, ou reduzida, nas zonas afectadas pelos fogos. As medidas incluem a interdição absoluta da caça em todo o perímetro de grandes incêndios, acima de mil hectares, e da caça sedentária nos concelhos onde arderam mais de 50% da área.
Em Pelmá, a “caça ao coelho, perdiz e faisão está totalmente interdita, mas será permitido o exercício da caça a aves migratórias”, revela André Marques Rodrigues, presidente da Associação de Caçadores da Freguesia de Pelmá.
Para além da preocupação com o “excesso de burocracias” exigidas aos caçadores, “que levantam grandes constrangimentos” ao exercício da caça, o dirigente acredita que agora o foco deve estar “nos poucos animais que conseguiram sobreviver”, e para isso, “estamos a espalhar alimentos em zonas onde percebemos que existem animais sobreviventes”. Até ao momento, “já espalhámos mais de 16 sacos de sementes”, para além dos “muitos bebedouros” que foram colocados à disposição dos animais.
Com uma área ardida de “mais de 60%” na freguesia, André Marques Rodrigues explica ao TERRAS DE SICÓ que “está prevista, para Dezembro deste ano, uma acção de repovoamento de algumas espécies”, nomeadamente de “coelhos e perdizes”, com o objectivo de que os “animais reproduzam e repovoem a zona”. O responsável revela ainda que a Associação de Caçadores da Freguesia de Pelmá está a preparar-se para “semear muita aveia, trigo e cevada”, para que os animais tenham alimento. Afinal, “com tudo ardido, é muito mais difícil que os animais encontrem comida e que sobrevivam”.
Sede destruída
Depois de ver a sede da associação, localizada na antiga escola primária de Marques, ser “totalmente consumida pelas chamas”, o dirigente aguarda, agora, “apoios por parte da Câmara Municipal de Alvaiázere para dar seguimento à reconstrução”. André Marques Rodrigues explica que “o imóvel estava bastante degradado quando chegou às mãos da associação, que investiu muito para o deixar como novo”. Depois dos incêndios que assolaram a região em Julho passado, o espaço “ficou reduzido a cinzas”, e nem os “talheres, pratos ou o mobiliário resistiram” à fúria do fogo, lamenta.
O presidente da colectividade, que conta com 102 sócios activos, admite que “esta era uma zona de caça muito boa”, que “atraía caçadores de vários pontos do país”, como “Lisboa, Santa Maria da Feira, Coimbra ou Pombal”. Os aficionados da modalidade “continuam a ligar e a tentar perceber como iremos dinamizar esta época venatória”. A resposta é sempre a mesma: “caça, só mesmo aos tordos e outras aves migratórias”.
Com o objectivo de “preservar o que resta”, o responsável pela associação admite que “o ideal seria interditar o exercício da caça pelo menos por dois anos”, no entanto, “nem todos os membros da associação estão de acordo com esta medida”, pelo que “a decisão terá de ser ponderada”, finaliza.
Javalis provocam estragos
Na freguesia vizinha, em Almoster, o exercício da caça não será muito diferente, com “a interdição total para espécies como o coelho, faisão e perdiz, mantendo-se a possibilidade de caçar aves migratórias”, a partir de 27 de Novembro, revela Nelson Simões, presidente da Associação de Caçadores de Almoster (MosterCaça).
De acordo com o dirigente, será também “permitida a espera ao javali, nos períodos de lua cheia”, uma vez que “temos muitos populares a queixar-se de estragos” provocados por estes animais. Nelson Simões explica que “depois dos incêndios os javalis ficaram sem alimento e por isso aproximam-se cada vez mais das habitações” em busca de mantimentos, verificando-se “estragos avultados especialmente em vinhas e milharais”.
Numa “zona onde vinha muita gente de fora” para caçar, o presidente da MosterCaça dá conta de que, à semelhança do que se fará na freguesia de Pelma, também os caçadores de Almoster aguardam “um tempo mais ameno para fazer repovoamento de espécies”. Por agora, é tempo de “alimentar os animais que sobreviveram” e manter-lhe os bebedouros “limpos e cheios de água”.
ANA LAURA DUARTE
[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]
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