Quando se fala em APEPI – Associação de Pais e Educadores para a Infância, estabelece-se, desde logo, a ideia de que se trata apenas de uma instituição que tem como resposta social creche e jardim-de-infância.
Na verdade foi esse o seu desígnio de criação, em Outubro de 1982, no entanto, com o passar dos anos, e de forma a dar resposta a outras questões, a APEPI criou, em 1991, o Centro de Acolhimento Temporário e Infantil ‘Magia dos Afectos’, destinado ao acolhimento urgente e transitório de crianças, entre os zero e os 12 anos, em situação de perigo, decorrentes de maus tratos, abandono, negligência ou outros factores legalmente previstos, provenientes do distrito de Leiria.
Desde que o Centro de Acolhimento foi criado “já deu resposta a 351 crianças. Em 2020 foram acolhidas seis crianças e em 2021 registaram-se dois novos acolhimentos”, revela Sofia Seabra, técnica de Serviço Social, e directora de serviços da APEPI. Actualmente o espaço, com capacidade para 15 utentes, está com a lotação completa.
Esta resposta social “procura minimizar as eventuais marcas negativas das vivências prévias”, onde se trabalha “no sentido de que a passagem das crianças pelo Centro de Acolhimento deixe marcas positivas”, contribuindo para “que todas as crianças acolhidas se sintam felizes e cuidadas, para que um dia mais tarde recordem o Centro como uma casa de família onde passaram parte da sua infância”.
Casa Abrigo
Dez anos mais tarde, em 2001, surge a “única resposta de acolhimento prolongado para vítimas de violência doméstica, no distrito”, a Casa Abrigo Teresa Morais, que já recebeu desde essa data, e até Dezembro de 2021, “1.121 utentes, das quais 677 mulheres e 44 crianças”, salienta a responsável. Actualmente estão acolhidos 16 utentes, sendo 13 mulheres e três crianças.
Segundo a directora, “a Casa de Abrigo proporciona às vítimas de violência que recebe acolhimento e protecção num ambiente o mais familiar possível, garantindo a todas protecção e segurança, em condições de dignidade”, o que permite “às utentes e seus filhos, usufruírem de privacidade e autonomia na condução da sua vida pessoal adequados à sua idade e situação”.
Numa altura em que cada vez se fala mais em crimes de violência doméstica a responsável admite que a pandemia provocada pela covid-19 teve “um forte impacto nas vítimas de violência doméstica”, dado que as medidas de confinamento e de isolamento “impediram a saída das vítimas das relações violentas”. Este factor criou “um ambiente favorável ao controlo das vítimas por parte dos agressores, agravado pelo facto de passarem mais tempo juntos, aumentando os episódios de violência”. Sofia Seabra acredita que “muitos pedidos de ajuda recebidos durante a pandemia não foram de situações desencadeadas apenas pelo confinamento, mas situações que já existiam e que aumentaram, dada a convivência e controle permanente dos agressores em relação às vítimas”.
A responsável esclarece que “as utentes acolhidas, beneficiam de acompanhamento em várias áreas desde o momento do acolhimento até à saída e conclusão do processo de autonomização, numa metodologia de intervenção sistémica e integrada”, que conta com “uma equipa multidisciplinar, constituída por uma assistente social, psicólogo, educadora social, ajudantes de acção directa e uma jurista, voluntária”, onde “a vítima encontra um apoio muito grande que lhe permite abraçar o futuro”.
‘A Cegonha’
Em 2006 a APEPI volta a lançar-se ao desafio, com a criação do Centro de Apoio à Vida ‘A Cegonha’, uma valência que tem como principal objectivo “acolher, temporariamente, mulheres grávidas ou puérperas com filhos recém-nascidos, sem enquadramento familiar e que se encontrem em risco emocional ou social”.
Desde a sua entrada em actividade, o Centro já acolheu perto de duas centenas de utentes. A directora explica que “pela especificidade dos processos, os acolhimentos são extensos” e podem “ter uma duração de até dois anos”. Assim, “no ano de 2020 foram acolhidos nove utentes (quatro mães e cinco crianças) e em 2021 foram apoiados 12 novos utentes (quatro mães e seis crianças) ”. Actualmente “acolhemos cinco mães e sete crianças, tendo duas mães com dois filhos”.
Sofia Seabra faz um balanço “francamente positivo” do trabalho desenvolvido, apesar das “situações limite, onde a gravidez e maternidade surgem muitas vezes, de forma não planeada, em mulheres sem suporte familiar efectivo, provenientes de famílias disfuncionais”.
Apesar do “desafio permanente”, a directora garante que “procuramos proporcionar um espaço de oportunidade para que estas jovens reorganizem a sua vida, alicerçada em afectos, compreensão e crescimento emocional, para que possam abraçar um novo projecto de vida, mais capacitadas para a maternidade”.
Em todas as valências da instituição “felizmente são muitos os casos de sucesso”, garante.
ANA LAURA DUARTE
[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]
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