As Festas do Concelho de Ansião atraem milhares de visitantes de 11 a 14 de Agosto. Em entrevista ao TERRAS DE SICÓ, o presidente da Câmara Municipal, António José Domingues, considera que é preciso apostar no “desenvolvimento integrado” do concelho e prepara-se para apresentar o “Ansião 2030”, um documento que define a estratégia e os projectos para os próximos anos.
TERRAS DE SICÓ (TS) – Como vê o regresso das Festas do Concelho?
António José Domingues (AJD) – Ao fim de dois anos de pandemia, e sem festas, estamos desejosos e muito ansiosos por retomar as nossas Festas do Concelho. De uma forma geral, penso que todos estamos nesse espírito, de regressar ao convívio e celebrar a amizade. O modelo das festividades vai ser muito idêntico ao dos anos anteriores. Um dado novo, que tem a ver com o facto de a 12 de Agosto ser celebrado o Dia Internacional da Juventude, e nesse sentido queremos proporcionar aos jovens do concelho um momento mais especial e direccionado para eles, porque valorizamos muito a juventude. Iniciamos, este ano, as festas na quinta-feira (11) com outro momento especial, de reconhecimento e valorização dos nossos emigrantes. O concelho é muito pautado pela emigração. Temos muitos emigrantes que regressam em Agosto ao concelho e queremos valorizar isso. A diáspora é muito importante e queremos ter com eles um momento de convívio e partilha, onde aqueles que estão fora, e que regressam, possam participar, de uma forma diferente, nas festas. Entendemos que é importante que haja este momento de reencontro.
TS – Falava da relação que a autarquia quer estabelecer com os jovens do concelho…
AJD – Estou particularmente satisfeito com o envolvimento dos nossos jovens. Os mais novos têm a particularidade de ser audazes, criativos, e às vezes de pensarem para além daquilo que é o normal funcionamento do executivo, por isso dentro daquilo que é a possibilidade financeira do município, gostamos de ser desafiados a proporcionar novas experiências e a concretizar projectos que nos apresentem. O Município tem apostado muito na interligação com os jovens. A realização, pela primeira vez, este ano, do Orçamento Participativo Jovem mostra essa aposta. É importante que estes apresentem essas ideias, para que eles próprios sintam que fazem parte da construção do concelho onde vivem. Os jovens, fruto das experiências que vão tendo no mundo global, estão mais activos civicamente.
TS – Que balanço faz destes primeiros meses de mandato?
AJD – O balanço foi feito nas eleições autárquicas de 2021: as pessoas voltaram a afirmar a confiança neste projecto do Partido Socialista. Num concelho difícil, sociologicamente conservador, onde muitas vezes se sobrepõe o partido, as últimas eleições vieram confirmar que as pessoas conseguem escolher ‘projectos’. Um sinal de que o balanço é positivo, caso contrário não tínhamos ganhado as eleições. Fizemos muitas coisas pelas pessoas, apostámos numa forma de estar mais próximos dos munícipes, transferimos mais verbas para as freguesias, distribuímos mais apoios ao movimento associativo. Tivemos a coragem de baixar o IMI e a derrama municipal, e acabámos por eliminar o lançamento dessa taxa, repondo nas famílias e nas empresas maior disponibilidade financeira. O município, no último mandato, deixou de cobrar2,7 milhões de euros em impostos directos. Para este mandato queremos um projecto de continuidade. Mudámos o estilo de fazer política: a figura do presidente da Câmara é sempre importante, mas não trabalha sozinho. Conto com uma equipa onde tem que haver uma ligação de confiança, em que o caminho a percorrer é o de criar melhores condições à população, e penso que a ligação foi estabelecida. Se havia algum receio de que, com a nossa vitória, o concelho podia entrar em ritmo de retrocesso, ao fim destes anos verificamos o contrário. Não são os partidos que governam, são as pessoas.
TS- Com é a relação com a oposição?
AJD – A oposição faz o seu papel: tem que ser crítica, mas acima de tudo tem que ser construtiva, afinal é na apresentação de propostas positivas que a oposição se mostra relevante para o funcionamento da democracia. Aceito os resultados democráticos. Neste momento não temos maioria na Assembleia Municipal e temos uma situação que nos exige fazer alguma negociação. O que quero é que essa maioria seja benéfica para o concelho e não para bem dos partidos. Sentir-me-ia bem numa assembleia onde a maioria é de outros partidos desde que o objectivo seja o desenvolvimento do concelho. Até agora foi necessário renegociar o Orçamento Municipal para 2022, apresentado no final do ano passado e que foi chumbado, no entanto, entendo que podia ter sido aprovado, até pelo voto de confiança que as pessoas colocaram neste executivo. Uma coisa é o executivo e outra coisa é a Assembleia, e a Assembleia tem um papel muito importante naquilo que é a fiscalização. Agora não podemos é aceitar que pelo facto de não termos maioria nesse órgão possa condicionar totalmente o executivo, porque quem executa as obras é o executivo. Temos que ter a objectividade de perceber que estes dois órgãos têm que funcionar para bem do concelho. Vai ser preciso negociar? Vai. Negociaremos com a oposição enquanto entendermos que estão a trabalhar para o desenvolvimento e crescimento do concelho. Quando entender que a oposição está apenas a fazer política não farei essa negociação e irei transmitir isso às pessoas.
TS – O Parque Empresarial do Camporês tem mais 23 lotes, fruto da ampliação inaugurada recentemente, como está a taxa de ocupação?
AJD – O desenvolvimento integrado de um concelho assenta em vários projectos, e sem dúvida de que o Parque Empresarial do Camporês está no centro dessa estratégia. Neste momento temos um grande objectivo: a internacionalização. Não estamos a desvalorizar o tecido empresarial que temos, pelo contrário, mas queremos trazer para esta ampliação outro tipo de empresas, possam trazer valor acrescentado. Estamos no século XXI, temos novas dinâmicas empresariais e económicas, e temos que conquistar a atenção dessas empresas que estão voltadas para o futuro e valorizar aquilo que são as novas áreas das tecnologias. Temos já algumas propostas para ocupação dos lotes, de empresas que já estão instaladas no Parque, e isso é muito bom, porque demonstra a capacidade empreendedora e de expansão que estas empresas do concelho têm, mas não podemos ficar apenas por aí, queremos diversificar aquilo que é o investimento no concelho. Para os próximos anos temos a expectativa de que possamos ter um conjunto de investimentos e de projectos que colocam Ansião como um concelho de grande atractividade e de qualidade de vida. Estamos a trabalhar o projecto de ampliação a norte do parque, não esquecendo que a sul temos os terrenos da antiga pedreira, adquiridos em 2017 pelo Município, e que podem permitir, também, aumentar a área do próprio parque empresarial, mas que queremos utilizar para criar um espaço lúdico e desportivo. Aguardamos que haja financiamento do ‘Portugal 2030’ para essa área.
TS – É um tema quente e sempre muito falado… acredita que a solução para o IC8 acontecerá nos próximos tempos?
AJD – Nunca fui um vendedor de ilusões e não gosto que os políticos sejam vistos dessa forma. É muito fácil dizer que sim e criar a expectativa das pessoas. Penso que cada vez estamos mais perto de uma solução: agradeço muito a todos os partidos que apresentaram propostas de resolução no sentido da requalificação do IC8, eu próprio tenho falo sobre isso nos fóruns que realizamos com os deputados. A estratégia tem que ser de convencer o Governo de que a requalificação do IC8 é importante para o desenvolvimento do interior e para evitar a desertificação do interior e temos que mostrar ao Governo que é agora. Não existem apoios comunitários para este tipo de obra, por isso o Estado tem que fazer um esforço financeiro e incluir esses valores no Orçamento de Estado. Não vai ser fácil, até porque vivemos um período de dificuldades orçamentais, por força desta pressão inflacionista, mas estamos a trabalhar junto do Governo para que no próximo Orçamento seja incluída a requalificação do IC8. Para já com a elaboração de um novo projecto, porque passados 12 anos o plano que existia já está ultrapassado. A efectiva requalificação do IC8 é importante não só para trazer investimento, como para a salvaguarda da segurança das populações que ali transitam diariamente.
TS – O que é prioritário deixar pronto até ao final do mandato?
AJD- Não é uma pergunta fácil, porque é sempre preciso fazer muita coisa. Tenho uma participação cívica e política em Ansião há muitos anos e das intervenções que ouvia do poder instituído, parecia que estávamos num concelho onde existia tudo. Chegados aqui, em 2017, aquilo que foi feito, foi bem feito, mas não estava tudo feito, e é isso que queremos concretizar: na vida nunca está tudo feito, há sempre desafios que devem ser abraçados. Neste momento, estamos a finalizar a nossa estratégia de desenvolvimento ‘Ansião 2030’, um documento que será colocado a discussão pública ainda este mês e que define os projectos para o concelho para os próximos anos. Objectivamente, para além das pequenas obras que falta fazer, temos que dar dimensão ao nosso património natural e arquitectónico, tudo isso numa oferta conjunta que valorize quem aqui vive, mas também quem nos visita. Temos o Complexo Monumental de Santiago da Guarda, que queremos potenciar. Queremos valorizar aquele que é o nosso Caminho de Santiago. Temos património natural que ainda não soubemos aproveitar. E temos que dar dimensão à Quinta das Lagoas, adquirida há 30 anos, onde o projecto idealizado nunca foi executado. Vamos concretizá-lo. Vamos olhar para a requalificação urbana e perceber o que podemos fazer com o Campo da Mata e com a própria Mata Municipal, que é importante requalificar. É imperativo olhar para o Mercado Municipal e requalificar o espaço. Temos que olhar para as sedes de freguesia e perceber como é que as vamos tornar mais atractivas à fixação de pessoas e para evitar que percam pessoas. Não queremos apenas que a vila de Ansião cresça, queremos o crescimento de todo o concelho de forma harmoniosa, numa estratégia de desenvolvimento integrado.
ANA LAURA DUARTE
[ENTREVISTA PUBLICADA NA EDIÇÃO IMPRESSA]
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