A poucos dias do início das tradicionais Festas do Bodo e passados cerca de 10 meses desde que assumiu a liderança da Câmara Municipal de Pombal, Pedro Pimpão faz um balanço “extremamente positivo” do mandato, mostrando ainda a convicção de que no futuro o concelho “será um pólo diferenciador de inovação ao nível do conhecimento”.
TERRAS DE SICÓ (TS) – Que balanço faz destes primeiros 10 meses de mandato?
PEDRO PIMPÃO (PP) – O balanço que faço é extremamente positivo. Tenho a segurança de haver pessoas, na Câmara Municipal, de grande competência, que colocam o interesse público acima dos interesses pessoais e que são pessoas de uma dedicação extrema. E depois também sinto que a população, e senti isso mais que nunca durante esta situação aflitiva dos incêndios, que sou o presidente de um município onde há pessoas com um altruísmo extraordinário, onde o humanismo é verdadeiro e onde as pessoas estão disponíveis para ajudar o próximo sem esperar nada em troca. Nestes 10 meses, em que já passámos por uma pandemia, por uma guerra na Ucrânia, com um espírito de portas abertas da nossa comunidade para com os refugiados, e agora com estes incêndios que colocaram muitas fragilidades no nosso território, senti uma forte disponibilidade e solidariedade da população. Já tinha essa noção, mas agora que estou à frente da Câmara, sinto que a nossa população tem um espírito de entreajuda muito grande e isso orgulha-me muito. Considero que o mais importante desta vida são as pessoas, onde todos contam.
TS – No concelho, quais os projectos estratégicos que vão avançar até 2025?
PP – Neste momento ainda estamos a avaliar aquilo que é a concretização de alguns projectos e a perceber o que é que o programa Portugal 2030 nos pode trazer, uma vez que ainda não sabemos quais são as orientações, sendo que este programa alavanca os nossos investimentos. Da parte da autarquia, e daquilo que é o nosso objectivo, estamos a trabalhar no sentido de avançar com a requalificação da última escola de primeiro ciclo que importa requalificar, a Escola Conde Castelo Melhor, o que vai acontecer brevemente. Depois, e estrategicamente, gostava que Pombal tivesse um grande ‘Parque Verde da Cidade’, um investimento muito importante, de vários milhões de euros, que as pessoas querem e que, pessoalmente, gostava muito que fosse realizado durante este mandato. Para além disso, neste momento temos três candidaturas ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR): uma, em parceria com o Politécnico de Leiria, para ter em Pombal uma residência de estudantes do ensino superior. Esta candidatura já passou a segunda fase e aguardamos saber o financiamento que vamos receber. Paralelamente estamos a trabalhar numa candidatura para um espaço coworking, sinalizado no âmbito da CIMRL, que à partida temos garantias de que vai ser realizado. Para além disso temos uma candidatura, de dois milhões de euros, para os ‘Bairros Digitais’, que está a ser trabalhada em conjunto com a Associação Comercial e de Serviços de Pombal, no sentido de conseguirmos fazer a transição do comércio local para o digital. Trata-se de uma candidatura substancial e significativa, que ainda não sabemos o resultado, mas que faz muito sentido.
TS – Vemos concelhos vizinhos a destacar-se pela aposta no empreendedorismo, o PRR dá muita atenção às empresas tecnológicas. O que falta a Pombal para atingir esse patamar? A recente aprovação para a compra do edifício da Associação de Industriais do Concelho de Pombal (AICP) pode ser uma solução?
PP – Precisamos para Pombal de uma estratégia integrada de promoção do empreendedorismo e do fomento de novas ideias de negócio, nomeadamente na componente tecnológica. Estamos a trabalhar a questão da AICP, com um edifício que foi criado na sua génese de apoio às empresas e foi nesse desidrato que, na altura, o Município vendeu aquele imóvel à associação. Em função dos delitos judiciais, a que a autarquia é complemente alheia, queremos que continue a ser um edifício de apoio empresarial, é isso que está no regulamento do Parque Industrial Manuel da Mota, e foi por isso interviemos no processo porque achamos que este edifício, no local onde está, e com o objectivo inicial que teve, deve continuar a ser de apoio. Não queremos que o imóvel não vá parar às mãos de privados. O assunto ainda está em discussão judicial, mas queremos um espaço de apoio às empresas, com a instalação de uma incubadora de empresas de base tecnológica ‘Startup Pombal’, em parceria com a Startup Leiria. Portanto, queremos fomentar a criação de novas ideias de negócio, de base tecnológica. Pretendemos que se instale o Gabinete de Apoio ao Investidor, tencionamos lá alojar o Espaço Empresa, em parceria com IAPMEI, e queremos criar um conjunto de serviços e de apoios ao desenvolvimento empresarial, que achamos que é estratégico para captarmos mais empresas para o concelho e mais emprego qualificado. A maioria dos nossos jovens que vão para o ensino superior, têm formação qualificada e não têm, no nosso território, essa oferta profissional. Por isso, temos que criar condições para ter empresas de mão-de-obra qualificada, que criem valor e que tragam esses quadros qualificados para conseguirmos fixar aqui esses jovens.
TS – Percebe-se que em Pombal a oferta de serviços de creche e jardins-de-infância está lotada, no entanto existem preocupações em aumentar a taxa de natalidade…
PP – Não tenho a varinha mágica, também sou um jovem pai e também senti as dificuldades que muitos pais sentem, mas sei que temos de trabalhar em três vertentes: numa primeira instância é obrigatório aumentar a oferta de creches em Pombal. Neste momento há várias estratégias para aproveitar o PRR no sentido de implementar um sistema de creche para todos. Também precisamos de apoiar as famílias com filhos pequenos, aumentando aquela que é a nossa disponibilidade para apoiar quem têm crianças nas creches, e aumentar, também, os lugares disponíveis nos jardins-infantis. Num segundo ponto temos de facilitar a habitação para jovens casais que, infelizmente, não têm capacidade económica para entrar no mercado do arrendamento, que está com valores muito elevados. Estamos a trabalhar numa estratégia local de habitação, onde uma das vertentes é precisamente o apoio a casais jovens, com a criação de um mecanismo atractivo, para além dos incentivos existentes, para que estes possam arrendar. Numa terceira vertente está a questão do emprego que já abordámos: se os jovens não tiverem empregos, com ordenados condizentes com as suas qualificações ou com as suas expectativas, eles vão embora. Portanto é importante ter empresas com mão-de-obra qualificada, capazes de atrair estes quadros para que mais jovens se fixem no concelho.
TS – Pombal é um concelho ‘feliz’?
PP – A felicidade é um conceito muito subjectivo, cada pessoa tem a sua maneira de ser feliz e temos que respeitar isso. O certo é que somos privilegiados por viver num território que tem acessibilidades que nos permitem estar em qualquer ponto do país em poucas horas e que acima de tudo nos permite ter esta qualidade de vida. Acho que as pessoas se devem sentir felizes em Pombal.
TS – Como “vê” o concelho daqui a 10 anos?
PP – Vejo Pombal com uma comunidade cada vez mais unida e solidária, e isso para mim é muito importante, mas não sei se por essa altura continuarei a ser autarca. Considero que Pombal daqui a 10 anos será um concelho que privilegia a qualidade de vida e o bem-estar das suas populações. Acredito que será um concelho que estará conectado, em termos de infra-estruturas, com os vários pontos centrais de desenvolvimento no nosso país e considero, também, que Pombal será um polo diferenciador de inovação ao nível do conhecimento, com uma relação privilegiada com várias instituições de ensino superior.
TS – Diz não saber se continuará, por essa altura, à frente do Município…
PP – Falta muito tempo, e eu gosto de viver e de sentir as coisas. Neste momento sou o presidente da Câmara porque sinto que posso ser útil ao meu território, e porque gosto genuinamente de Pombal. Sabia que o concelho precisava de humanismo e que precisamos de valorizar as pessoas, independentemente dos seus quadrantes ideológicos e partidários. Muitos continuam a criticar-me porque eu faço, ou porque eu não faço: acham que tenho segundas intenções, mas não as tenho em relação a nada. Neste momento sinto-me mais realizado a ser presidente de Câmara do que a ser deputado. Sou autarca de alma e coração. Gosto das pessoas e só não faço aquilo que não estiver ao meu alcance. Mas esta minha emoção não me tolda a razão, e se tiver que tomar uma decisão mais difícil, mas que veja que é importante para o concelho, tomo-a, porque coloco o interesse do concelho, e da comunidade, à frente dos meus interesses partidários ou pessoais. Ainda agora estão agendadas eleições para o partido, na concelhia, e já afirmei que não sou candidato. Primeiro quero tomar conta do meu concelho.
TS – Por altura das eleições falava em trabalhar “activamente” com a oposição. A oposição tem sabido cumprir o seu papel?
PP – Na Câmara, sinto que temos tido uma articulação positiva, os vereadores da oposição fazem o que devem fazer e respeito as opiniões divergentes, que considero positivas. Já na Assembleia Municipal, infelizmente, não sentimos o mesmo espírito: há um clima de crispação que não é condizente com o clima de abertura, disponibilidade e parceria que existe por parte da Câmara. Todos os membros da oposição, quer na Câmara Municipal, quer na Assembleia, sabem que acolhemos bons contributos, ideias e sugestões para ajudar a desenvolver o nosso concelho, e se houver alguma iniciativa que a oposição entenda que o Município deve desencadear para fazer face a alguma situação, ou a algum problema, estamos totalmente disponíveis para as receber.
Ana Laura Duarte
[ENTREVISTA PUBLICADA NA EDIÇÃO IMPRESSA]
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