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Ansião: Cercados pelo fogo

23 de Julho 2022

Perderam-se terrenos, casas, hortas, animais, alfaias agrícolas, armazéns de empresas e automóveis. Os habitantes de Ansião fazem as contas aos prejuízos provocados pelo incêndio. O concelho foi gravemente atingido por um “fogo de grandes dimensões” há uma semana, e que levou à evacuação de várias aldeias nas freguesias de Santiago da Guarda, Pousaflores e Ansião.

No entanto, nem todos tiveram a sorte de conseguir sair dos locais de maior perigo, como é o caso dos habitantes da Boavista, que “ficaram totalmente cercados pelo fogo”, conta David Rodrigues, presidente da Junta de Freguesia de Santiago da Guarda, “nas horas de maior aflição, tivemos muitas localidades afectadas e muitos lugares que ficaram isolados”.

“Valeu a ajuda das pessoas: os populares é que conseguiram safar as suas casas, e isso é de realçar”, explica o autarca. Só “não houve muitas habitações ardidas porque as pessoas se uniram e se ajudaram umas às outras”, e apesar de “ficarem sem luz eléctrica e sem água da rede”, felizmente “grande parte dos habitantes tem poços ou tanques de água”, assim “conseguiu-se evitar prejuízos maiores”. O certo é que toda aquela zona ardeu “sem qualquer ajuda dos meios aéreos e com poucos meios terrestes”, lamenta.

Um pouco por toda a zona sul da freguesia de Santiago da Guarda, “o inferno” repetiu-se, com casas de segunda habitação totalmente destruídas, uma casa de primeira habitação reduzida a escombros e muitas casas parcialmente danificadas.

“O vento virou e ardeu tudo”

No Mogadouro, Sérgio Freire, empresário, para “fugir à raiva das chamas”, recolheu todos os seus bens para um armazém. “O vento virou de repente e ardeu tudo: maquinaria, automóveis, materiais de construção, ferramentas. Tudo”, conta.

Fala em falta de meios, “não tivemos o auxílio de qualquer meio aéreo, disseram-me que devido ao fumo intenso não conseguiam operar, mas isso já não sei. O que sei é que se houvesse mais meios as coisas podiam ter sido muito diferentes, isso de certeza”.

Com vários fogos em simultâneo nesta região, a protecção civil destacou para o terreno centenas e centenas de operacionais, que pelos vistos não tiveram mãos a medir.

Na vizinha freguesia de Pousaflores, em São João de Brito, ouve-se alguém a chamar: “reacendeu, reacendeu lá em baixo”. Poucos minutos depois aparecem dois aviões, que descarregam água por cima de uma área totalmente ardida. “Agora foi rápido, porque as coisas estão mais calmas, mas ontem e antes de ontem as coisas foram totalmente diferentes: não havia aviões, nem helicópteros, nem bombeiros, estávamos por nossa conta e risco”, conta Teresa, ainda em sobressalto: “pensava que era junto à minha casa”.

“Felizmente o meu marido faz questão de ter sempre a zona envolvente da casa limpa e foi o que nos valeu, porque ardeu tudo em volta”, sobram escassos metros de mata. Apesar dos esforços, na povoação ao lado, “o armazém de um casal que vende fruta ardeu todo”. Para Teresa, “na altura foi assustador, temi o pior, mas agora, olhar para estas terras e ver este cenário é muito triste”.

O cheiro a queimado entranhou-se na “pele, nas casas e nos carros” de quem por ali viveu “dias de terror”. “Fica gravado na memória”, diz quem não esquece dias de verdadeiro terror.

Ana Laura Duarte

[REPORTAGEM PUBLICADA NA EDIÇÃO IMPRESSA]


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