9 de Fevereiro de 2025 | Quinzenário Regional | Diário Online
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PAULO JÚLIO

Faz o que eu digo, não faças o que eu faço!

17 de Junho 2022

As taxas de juro vão subir, os preços da energia e dos combustíveis, bem como de quase todos os alimentos estão mais altos do que nunca, o que significa que a inflação nos retirou poder de compra e as despesas mensais estão a subir a pique. Dito de outra forma, os cidadãos terão menos dinheiro para gastar ou, melhor, terão menos dinheiro disponível. A economia, apesar de estar a recuperar, vai necessariamente abrandar e o Estado Português, um dos mais endividados do mundo, vai pagar uma factura, muito maior ainda, pelos juros da sua dívida soberana.

Por essas razões, o Orçamento do Estado não proporcionou o aumento dos funcionários públicos, o que na prática significa que indirectamente lhes diminui o salário, desde logo porque o Estado está a arrecadar várias receitas adicionais. Não o fez, segundo o Governo, por prudência. Não critico. A nossa história mais recente ensinou-nos que a falta de prudência de um governo socialista, também de maioria absoluta, perante um cenário de crise global, levou-nos (a todos) a uma intervenção externa da Troika. Apesar disto tudo, o Primeiro-ministro veio pedir para as empresas assumirem o desafio de aumentarem salários em 20% nos próximos quatro anos. Não sei se foi o conselho do novo consultor para a comunicação governamental, se foi um desejo que lhe saiu sem pensar. Em qualquer caso, é o tipo de declaração política pouco feliz. Para ser simpático. Quando o próprio Estado não aumenta, por pouco que fosse, os seus próprios colaboradores, mandar uma atoarda destas às empresas portuguesas, muitas delas expostas à economia e concorrência global, é incompreensível.

Como o Primeiro-ministro não se explicou ainda, resta-nos aguardar, mas já não se livra de lhe ser aplicado o velho ditado “faz o que eu digo, não faças o que eu faço”. E, diga-se que o pior que podemos ter , a partir de um governo de maioria absoluta , é este estilo de intervenção pouco credível. Não ganha ninguém. Até porque há imensos investidores e empresários (também) estrangeiros que mais facilmente junta estas belas tiradas de fim-de-semana, a um caldo de impostos brutal e pouca previsível fiscalidade, acompanhada de uma boa pitada de burocracia e justiça lenta, com o respectivo aumento de custos de contexto. Mas, claro, isso que depende do Estado, que implicaria políticas diferentes e mais corajosas, o Governo ainda não definiu as suas metas para os próximos quatro anos. Estamos todos a aguardar.


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