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Soure: Aldeia de Simões descontente com empreitada de saneamento

6 de Maio 2022

Telmo Santos, de esfregona na mão, limpa o chão espezinhado de lama no seu café e mercearia, junto à linha ferroviária, em Simões, na freguesia de Soure. O dia é chuvoso no final de Abril. “Passo um degredo com isto, mas este tempo é o melhor que me pode acontecer, esta chuva é uma bênção, porque quando o tempo está enxuto gera-se um pó medonho. Veja uma casa destas, aberta, com os carros a passarem na rua, a fazerem pó e eu a ter milhares de produtos todos os dias para limpar. É pó no chão, nas prateleiras, nas garrafas…”. O desabafo do comerciante sintetiza o sentimento reinante naquela aldeia fustigada pelas obras de uma rede de saneamento básico pelo qual se esperou anos a fio, mas que agora está a tornar-se um autêntico pesadelo.

A primeira fase da empreitada de construção das infra-estruturas de recolha e transporte de águas residuais domésticas de Simões, Lourenços, Mogadouro e Marco do Sul, com destino ao emissário de ligação à ETAR de Almagreira (Pombal), começou no Verão passado. É um investimento de 1,7 milhões de euros, fortemente financiado por fundos europeus. A ABMG – Águas do Baixo Mondego e Gândara é a dona da obra, executada pela Azinheiro – Engenharia, S.A., a única a apresentar-se ao concurso público lançado para o efeito. Está a ser executada a uma velocidade que não agrada, mas o que deixa mesmo os habitantes de cabelos em pé é o atraso na repavimentação das zonas onde já foi feita a intervenção. Metade da aldeia está esburacada ou com as ruas disfarçadas a brita. “Até o carro do lixo já deixou de passar aqui, tal o estado em que isto está”, queixa-se uma anciã.

A população de Simões desde cedo ‘torceu o nariz’ à forma como os trabalhos estavam a ser executados. “Isto é meia bola e força”, ironiza-se por aquelas bandas. “Fui o primeiro a reclamar, porque as coisas estão mal feitas desde o início”, diz Álvaro Cordeiro, que acusa o empreiteiro de se estar a “marimbar para os buracos”. “Com chuva é só lama, com tempo seco é um pó insuportável”, lamenta à reportagem do TERRAS DE SICÓ.

“Não estamos nada contentes, é só buracos por tudo quanto é sítio, um dia destes vamos ter de mudar os amortecedores dos carros”, reclama Lucília Silva ao volante da viatura, perante a “desgraça” que os seus olhos vêem.

Telmo Santos assiste diariamente às queixas das gentes da terra. E não são poucas. “As estradas neste estado, é chato, mas o que aflige mais as pessoas é o pó que isto gera, é qualquer coisa de dantesco. Já só queremos um bocado de tapete para tapar isto”, implora, apontando para a rua enlameada.

“Há muita gente a queixar-se”, anui Helena Silva, revoltada pelos “meses que isto já está assim e quando é que há-de acabar”, interroga-se.

Obra atrasada e em incumprimento

A dona da obra é a ABMG, mas as queixas têm chegado é à Câmara de Soure, instando-a a “fazer pressão” junto da empresa intermunicipal e do empreiteiro.

O presidente da autarquia “dá razão às pessoas” e mostra-se preocupado com o “incumprimento do empreiteiro”.

“Já fomos obrigados a intervir excepcionalmente [em ruas] para minimizar alguns impactos e vamos debitar a conta à ABMG”, revela Mário Jorge Nunes, adiantando estar a pressionar a empresa intermunicipal, que agrega Soure, Montemor-o-Velho e Mira, e a “endossar-lhe as queixas da população”.

O autarca diz esperar da AMBG uma “atitude musculada e de força perante o empreiteiro, e que, em último caso, seja rescindido o contrato, porque se nada for feito nas próximas semanas, a Câmara de Soure vai tomar a atitude de ser ela a pavimentar as vias em piores condições e depois acerta contas em tribunal”, ameaça.

Por seu turno, a ABMG reconhece atrasos na obra, que justifica com o “contexto actual [que] tem tido fortes implicações ao nível do sector da construção e da capacidade de resposta das entidades executantes”, sendo a reposição do pavimento nas zonas já intervencionadas “um dos trabalhos onde se verifica um maior atraso”.

“A ABMG está a efectuar as diligências necessárias para que a primeira fase de reposição de pavimentos seja realizada com a maior brevidade possível”, assegura a empresa intermunicipal, revelando que “tem alertado sucessivamente o empreiteiro para o mau estado das vias, no entanto, o mesmo mantém-se em situação de incumprimento”, regista.

O TERRAS DE SICÓ procurou também junto da empresa Azinheiro – Engenharia, S.A. esclarecimentos sobre a situação da empreitada e uma reacção às queixas, mas sem sucesso.

LUÍS CARLOS MELO

[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]


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