15 de Março de 2025 | Quinzenário Regional | Diário Online
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PAULO JÚLIO

O biombo

18 de Março 2022

Na observação que faço do sistema político e dos cidadãos que exercem há mais tempo, ou tempo demais, cargos políticos, não tem havido, infelizmente, nenhuma melhoria. Podemos gostar mais ou menos do estilo, do perfil, mas, na síntese, continuam a falar em demasia uns com os outros e a sentir pouco o que as pessoas realmente querem. Há um biombo. Um biombo, cada vez maior, entre os que detém os cargos e os cidadãos. Não digo que não haja esforço. Não digo que a responsabilidade seja só deles. Realmente não é, mas a falta de preparação de uns leva ao afastamento dos outros, e vice-versa. A sociedade portuguesa tem problemas estruturais que precisam ser resolvidos e nos quais, os políticos deveriam colocar o seu foco e competência, mas, sabe-se lá por que razão, perdem-se a discutir regionalização e aumento de juntas de freguesia. Estes são assuntos “deles” que só “eles” é que identificam a sua necessidade. Somos um pequeno território, mais pequeno em área geográfica do que algumas regiões da vizinha Espanha, existe uma unidade nacional, só quebrada com uns discursos “futebolísticos” provenientes de algum presidente de algum clube mais acicatado, e reconhecidamente não é por falta de outro nível de administração que existem os problemas de coesão social e económica.

A política existe para servir os cidadãos, não existe para as clientelas dos partidos políticos. O Estado já é demasiado pesado e já sufoca em excesso os cidadãos e as empresas, em taxas e impostos de toda a espécie. Portugal precisa de uma reforma na organização do seu Estado, mas não precisa para isso ou por causa disso, de mais um acto eleitoral para políticos regionais.

Somos um país historicamente municipalista e é nessa base de governação que se devem assentar as mudanças com descentralização de competências do Estado Central para os Municípios e destes para as Juntas de Freguesia que, com a reorganização administrativa de 2012, ganharam um pouco mais de massa crítica. Mas, dada a falta de capacidade de execução dessas medidas de descentralização entre Estado-Municípios-Juntas de Freguesia, discute-se mais juntas de freguesia e mais regiões. Existem países europeus que para fazer um determinado investimento mais avultado ou para mudar um determinado imposto, fazem um referendo, promovendo a participação de todos os cidadãos, criando um ambiente político de transparência. Em Portugal resolve-se tudo nas “Assembleias” mal preparadas e a “mata-cavalos”. Em Portugal, temos uma discussão pública monotemática. Era a Covid, agora é a guerra da Ucrânia. Claro que são assuntos que nos interessam a todos, desde logo, porque os aumentos de preços que já começámos a sentir, são brutais. Enquanto isso, do outro lado do biombo, há alguns que se preocupam em “estruturar” a próxima “jogada” política de território – Criar mais juntas de freguesia.

Não há uma sondagem pública sobre se os cidadãos querem ou não querem mais juntas de freguesia em Portugal, ou mais regiões e mais cargos políticos. Não percebo o desdém por esses assuntos. Percebo que existe um biombo em que do lado de lá, há pessoas que falam umas com as outras, sempre com os mesmos, cuja falta de visão de futuro, somente serve para se entreterem e preverem como é que se hão-de manter por lá.

Houve alguém que um destes dias dizia que quem pagaria o preço da guerra, além do que é a desgraça humanitária e o drama de milhares de famílias ucranianas, seria a economia mundial, o que significa, todos nós.

No caso de “mais juntas de freguesia, mais regiões”, quem vai inevitavelmente pagar, somos nós, os cidadãos portugueses. Tenhamos saúde para viver e ver, ainda que seja deste lado do biombo.


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