Numa fase em que a pandemia parece começar a dar tréguas, Mário Bruno, comandante dos Bombeiros Voluntários de Alvaiázere, faz um balanço de dois anos de luta contra o “inimigo invisível”, onde foram “reconhecidos pela sociedade civil”, mas “se pensarmos nas instituições de cariz governativo temos sido negligenciados e colocados de lado”.
“O que é certo é que na pandemia todos falam dos profissionais de saúde, todos falam dos que estavam na linha da frente do combate à covid-19, mas a verdade é que quem esteve na linha da frente, fomos nós. Nós é que transportávamos os doentes para o hospital e essa é uma segunda linha de actuação. Eu nunca vi englobar neste combate de linha da frente os bombeiros, não vi nenhuma homenagem aos bombeiros, nenhum agradecimento, nada. Portanto, fomos mais uma vez esquecidos e secundarizados, mas continuámos sempre a fazer o nosso serviço. Não estamos aqui à procura de louvores, mas não gostamos de ingratidão”, enfatiza Mário Bruno.
A poucos dias da corporação celebrar o 82.º aniversário, este ano com direito a almoço comemorativo, apenas para a corporação e entidades convidadas, o comandante afirma que “o futuro é já amanhã” e que “não podemos resignar-nos ao dia de hoje”.
“Gostava muito de criar uma unidade local de formação dos Bombeiros de Alvaiázere para treino e preparação dos operacionais. Gostava de ter mais voluntários porque começamos agora uma recruta com 10, daqui a pouco tempo vamos incorporar mais cinco estagiários no quadro activo, mas a pandemia também trouxe muitas limitações que condicionaram a formação e as escolas de estagiários”, confessou o comandante.
Para além da limitação sentida na formação dos novos recrutas, a quebra de receitas financeiras em 2020 e no início de 2021 revelou-se outra dificuldade.
“Os transportes para consultas deixaram de se fazer e isso traduziu-se numa quebra enorme na receita da associação humanitária, a que se juntou um aumento brutal da despesa pois foi necessário dotarmos os nossos bombeiros, e respectivos transportes, com equipamento individual de protecção. Gastávamos na altura cerca de 60 euros por ambulância com equipamento quando o INEM nos dava apenas dois euros por serviço. Não houve uma actualização de valor e nem sequer distribuição de equipamentos numa fase inicial. Fomos renegados o tempo todo e o que nos valeu foi o apoio que tivemos do Município, porque se assim não fosse não conseguíamos ter respondido de forma tão eficaz na pandemia”, regista Mário Bruno.
“Não posso deixar de dizer que fomos os primeiros a chegar, os primeiros a socorrer, os primeiros na linha de intervenção desta gente toda, mas não fomos os primeiros a ser lembrados nesta questão do agraciar e dos louvares e nas ajudas a pandemia”, critica o comandante alvaiazerense, defendendo ainda que é necessária a profissionalização das intervenções sendo este “um caminho que deve ser enraizado e implementado em todos os corpos de bombeiros e que é essencial para melhorar a nossa resposta e, consequentemente, a nossa qualidade de serviço e apoio às pessoas”.
O pior parece ter passado e as dificuldades sentidas durante o período mais crítico da pandemia estarão sanadas. A corporação está agora a fazer “mais serviços do que em tempo de pré-pandemia, infelizmente. E digo infelizmente porque na maioria das vezes o nosso trabalho depende da dor alheia”.
Tempo de aniversário
Os Bombeiros Voluntários de Alvaiázere celebram o seu 82.º aniversário no próximo dia 7, assinalando a data com uma eucaristia. Para o dia 13 fica a cerimónia do hastear da bandeira, seguida de um almoço convívio para os membros da corporação e entidades convidadas, no qual serão entregues a habituais condecorações a bombeiros, sendo de destacar a entrega da Fénix de Honra da Liga dos Bombeiros Portugueses a António Miguel e a nomeação do segundo-comandante Carlos Alves.
RUTE AZEVEDO SANTOS
[NOTÍCIA DA EDIÇÃO IMPRESSA]
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